São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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PERFIL

Cargo exige "caneladas", afirma Furlan

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o futuro ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, empresário Luiz Fernando Furlan, 55, a pasta exige boa dose de "impetuosidade" e disposição para dar "caneladas", recomendações que fez a ocupantes do cargo no governo FHC.
A escolha desse engenheiro catarinense, presidente do Conselho de Administração da Sadia, empresta ao governo Lula a imagem do líder empresarial e exportador bem-sucedido. E devolve ao cargo a expectativa de o país vir a ter uma política industrial. Esse é um sonho antigo de outros empresários que deixaram o ministério por trombar com os condutores da política econômica.
Furlan conhece os desafios que terá. Mas pode pedir sugestões a um ex-titular da pasta que lhe é muito próximo: Alcides Tápias, membro do Conselho da Sadia.
Quando FHC indicou o cientista político Celso Lafer para a mesma pasta, Furlan disse que aquela escalação não era para ganhar campeonato, mas a de "um time para jogar pelo empate".
Furlan grita contra a competição desleal da União Européia e contra o protecionismo dos EUA. Mas admite que a integração à Alca depende de negociações.
Em 94, Furlan via o Mercosul como o caminho para o Brasil chegar a associações com outros blocos, assim como tem declarado o senador eleito Aloizio Mercadante (PT-SP).
No mês passado, ele propôs a formação de um "exército de 10 milhões de pessoas para o combate à fome". "Há um largo contingente populacional que ainda não come frango, porque não tem renda", dizia Furlan em 98. Bateu forte, em 99, quando FHC pediu à população para combater os aumentos da cesta básica: "O governo repassa ao consumidor o preço da sua incompetência."
Corinthiano, "workaholic", fez a internacionalização da Sadia. Neto do fundador do grupo, Attílio Fontana, diz que, na Guerra do Golfo, viajou para cobrar do Iraque o pagamento de três navios carregados de frango. É um dos raros empresários que comparece aos fóruns internacionais, inclusive ao de Davos, na Suiça.
Bem articulado, Furlan foi ao jantar que antecipou, em 94, a candidatura presidencial de FHC. Em maio último, foi ao jantar de adesão a Serra, mas não declarou o voto na visita do tucano à Fiesp.
Em 94, se dizia "preocupado com a vitória de Lula", mas via "evolução" nas teses do PT. Em 98, disse que a proposta do PT era "recheada de boas intenções".
Neste ano, antes das eleições, exortou o empresariado a lutar por "um país mais justo, com efetiva inclusão social". E recorreu a um verso que já foi subversivo e ainda soa como música para os petistas: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer".


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