No final de seu discurso, candidata derrotada à Presidência foi aplaudida de pé e abraçada pelos senadores presentes

"Sei que talvez eu não tenha ajudado muito a mudar o Brasil, mas não contribuí para ele ficar pior, mais apodrecido", diz senadora

Bruno Miranda / Folha Imagem

No plenário, Heloísa Helena chora em discurso de despedida

Em um discurso de cerca de três horas devido aos apartes que sofreu, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), candidata derrotada à Presidência da República, marcou a sua despedida do Senado em meio a muito choro e elogio dos colegas.
Durante todo o tempo em que permaneceu no plenário, a senadora foi homenageada por mais de 30 parlamentares. No final, foi aplaudida de pé e abraçada pelos presentes.
Heloísa vai voltar a dar aulas na faculdade de enfermagem da Ufal (Universidade Federa de Alagoas) e se dedicar à consolidação do PSOL, que foi fundado por ela no ano passado.
"Sei que talvez eu não tenha ajudado muito a mudar o Brasil, mas tenho a consciência tranqüila de que não contribuí para ele ficar pior, mais apodrecido", disse ela, que levou uma caixa de lenços para a tribuna.
Heloísa foi expulsa do PT em 2003 por discordar das políticas do governo Lula. O estopim foi o voto contrário à reforma da Previdência.
"Enfrentei o ódio implacável, a tirania, a trapaça de gente pusilânime, inescrupulosa, de comerciantes que só são talentosos para fazer o comércio das amizades, dos valores morais, das estruturas partidárias e das convicções ideológicas", disse.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) afirmou que não cometeria a indelicadeza de perguntar a idade da senadora, mas que ela continuaria a ter o direito de ser de esquerda mesmo depois de atingir os 60 anos, em uma referência à declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Fiz 44 anos e só digo isso porque o velho Oscar Wilde dizia assim: "Nunca confie em uma mulher que diz a idade, porque ela é capaz de dizer qualquer coisa'", afirmou Heloísa, conhecida pelo temperamento forte.
Eleita para o Senado em 1998, Heloísa votou contra praticamente todos os principais projetos do governo Lula, desde as reformas da Previdência e tributária passando pelo ProUni, que dá bolsas a alunos carentes em faculdades privadas, pela Lei de Falências e pelo envio de tropas para missão de paz no Haiti.
Apesar do discurso de esquerda, a senadora adotou posições conservadoras no Congresso ao votar contra a autorização de pesquisas com células-tronco de embriões e ao atuar de forma contrária à descriminalização do aborto, que nem chegou a ser colocada em votação devido às resistências encontradas no Congresso. (FK)


Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: "JK" e os movimentos
Próximo Texto: Presidente diz que falta humor à esquerda
Índice