São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2005

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VÔO OFICIAL

Aeronáutica aponta economia de até um sexto do valor do fretamento

Governo diz que AeroLula paga seu custo em 11 anos

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estudos da Aeronáutica a serem divulgados hoje durante a apresentação do novo avião presidencial, conhecido como AeroLula, concluíram que é bem mais econômico para o governo ter avião próprio do que fretar quando necessário. A economia, dizem esses estudos, chega a um sexto do valor do fretamento. Além disso, a FAB (Força Aérea Brasileira) vai argumentar que o novo avião deve ""se pagar" no prazo de 11 anos.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, que coordenará a apresentação, ainda pela manhã, na Base Aérea de Brasília, reuniu-se ontem com sua equipe para analisar os números. A hora-vôo do AeroLula -um Airbus ACJ, versão corporativa do A-319- está em torno de US$ 2.000, enquanto a de um vôo fretado é seis vezes mais -exatamente US$ 12.043,74.
A hora voada é calculada com base principalmente no combustível de aviação, mas inclui também o preço de logística. Além disso, o avião fretado cobra pela hora parada, em terra, estimada em US$ 1.067,79. Aviões próprios não têm esse custo.
Os cálculos foram feitos pelo Comando da Aeronáutica com base em valores atualizados do fretamento de aviões para viagens internacionais entre 1999 e 2001, quando Fernando Henrique Cardoso optou pelo aluguel de um Airbus da TAM.
O novo Airbus também é considerado mais econômico do que o Sucatão, o Boeing-707 que o presidente usa atualmente em suas viagens internacionais. Como Bueno dirá hoje à imprensa, o custo da hora voada do Airbus é cerca de 3,5 vezes mais barato do que o do Sucatão, que é em torno de US$ 7.000.
O cálculo para concluir que o novo avião estará pago em 11 anos foi feito com base numa média de mil horas voadas por ano, o que geraria uma economia de US$ 5,2 milhões ao ano. O preço total do AeroLula foi de 56,7 milhões, pago em quatro parcelas.

Sete governos
Um avião como o Airbus perde em torno de 3% de vida útil por ano, e a Aeronáutica argumentará que Lula irá usá-lo nos dois últimos anos do primeiro mandato e no máximo mais quatro se for reeleito em 2006. O avião será "herdado", pois, pelos próximos seis (com Lula reeleito) ou sete (caso contrário) mandatos. Só então terá perdido 94% de vida útil.
Esse argumento foi considerado especialmente importante, porque Lula tem reclamado para diferentes assessores do apelido de AeroLula do novo avião. Ele diz que o avião é uma compra do Estado brasileiro, não dele.
Na avaliação do Planalto, da Secom (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica), do Ministério da Defesa e da Aeronáutica, há vários argumentos em favor da compra de um novo avião, mas o governo não soube utilizá-los.
Cópias do artigo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ontem, na Folha, elogiando a compra e a necessidade de um avião próprio, circularam de mão em mão no governo. Intitulado "Chegou o A-319", o artigo foi publicado na página A2. No seu governo, Sarney também comprou aviões próprios para a Presidência (leia mais na página A5).

Apresentação
O governo apresenta hoje o novo Airbus com o objetivo de tentar reverter a opinião pública negativa formada em torno da compra do avião, com chegada prevista para entre 8h e 9h na Base Aérea de Brasília. O Airbus saiu ontem de Hamburgo, na Alemanha, sobrevoou Holanda e Bélgica, e fez escala em Toulouse, na França. A expectativa era que decolasse às 21h (horário de Brasília) de ontem, sobrevoando Espanha, Portugal, Ilhas Canárias, Cabo Verde e Senegal, até pousar na capital brasileira.
O avião será apresentado na Base Aérea de manhã. Foi montado um esquema de comunicação que inclui a apresentação de estudos sobre a suposta economia de combustível do AeroLula e fotos de seu interior. O objetivo é mostrar que não haveria detalhes extravagantes, apesar de o modelo ter sido personalizado. O presidente tem uma área privativa, na qual há quarto e banheiro com chuveiro, além de gabinete, com mesa e cadeiras, com capacidade para oito pessoas.
O Palácio do Planalto delegou ao Centro de Comunicação Social da Aeronáutica a função de apresentar o Airbus. Decidiu-se, portanto, que a Secom e a Secretária de Imprensa e Divulgação do Planalto se afastariam da divulgação.
O AeroLula tem capacidade para 55 pessoas, 35 a menos que o Sucatão. Um dos pontos técnicos mais defendidos é a autonomia de vôo: enquanto o Sucatão é obrigado a fazer escalas para abastecer, o AeroLula voa direto até Nova York ou Paris, por exemplo.
Somente as partes de acabamento e de "decoração", com símbolos da Presidência, saíram por US$ 10 milhões.


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