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VÔO OFICIAL
Aeronáutica aponta economia de até um sexto do valor do fretamento
Governo diz que AeroLula paga seu custo em 11 anos
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudos da Aeronáutica a serem
divulgados hoje durante a apresentação do novo avião presidencial, conhecido como AeroLula,
concluíram que é bem mais econômico para o governo ter avião
próprio do que fretar quando necessário. A economia, dizem esses
estudos, chega a um sexto do valor do fretamento. Além disso, a
FAB (Força Aérea Brasileira) vai
argumentar que o novo avião deve ""se pagar" no prazo de 11 anos.
O comandante da Aeronáutica,
brigadeiro Luiz Carlos Bueno,
que coordenará a apresentação,
ainda pela manhã, na Base Aérea
de Brasília, reuniu-se ontem com
sua equipe para analisar os números. A hora-vôo do AeroLula
-um Airbus ACJ, versão corporativa do A-319- está em torno
de US$ 2.000, enquanto a de um
vôo fretado é seis vezes mais
-exatamente US$ 12.043,74.
A hora voada é calculada com
base principalmente no combustível de aviação, mas inclui também o preço de logística. Além
disso, o avião fretado cobra pela
hora parada, em terra, estimada
em US$ 1.067,79. Aviões próprios
não têm esse custo.
Os cálculos foram feitos pelo
Comando da Aeronáutica com
base em valores atualizados do
fretamento de aviões para viagens
internacionais entre 1999 e 2001,
quando Fernando Henrique Cardoso optou pelo aluguel de um
Airbus da TAM.
O novo Airbus também é considerado mais econômico do que o
Sucatão, o Boeing-707 que o presidente usa atualmente em suas
viagens internacionais. Como
Bueno dirá hoje à imprensa, o
custo da hora voada do Airbus é
cerca de 3,5 vezes mais barato do
que o do Sucatão, que é em torno
de US$ 7.000.
O cálculo para concluir que o
novo avião estará pago em 11 anos
foi feito com base numa média de
mil horas voadas por ano, o que
geraria uma economia de US$ 5,2
milhões ao ano. O preço total do
AeroLula foi de 56,7 milhões, pago em quatro parcelas.
Sete governos
Um avião como o Airbus perde
em torno de 3% de vida útil por
ano, e a Aeronáutica argumentará
que Lula irá usá-lo nos dois últimos anos do primeiro mandato e
no máximo mais quatro se for
reeleito em 2006. O avião será
"herdado", pois, pelos próximos
seis (com Lula reeleito) ou sete
(caso contrário) mandatos. Só então terá perdido 94% de vida útil.
Esse argumento foi considerado
especialmente importante, porque Lula tem reclamado para diferentes assessores do apelido de
AeroLula do novo avião. Ele diz
que o avião é uma compra do Estado brasileiro, não dele.
Na avaliação do Planalto, da Secom (Secretaria de Comunicação
e Gestão Estratégica), do Ministério da Defesa e da Aeronáutica, há
vários argumentos em favor da
compra de um novo avião, mas o
governo não soube utilizá-los.
Cópias do artigo do presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ontem, na Folha, elogiando a
compra e a necessidade de um
avião próprio, circularam de mão
em mão no governo. Intitulado
"Chegou o A-319", o artigo foi publicado na página A2. No seu governo, Sarney também comprou
aviões próprios para a Presidência (leia mais na página A5).
Apresentação
O governo apresenta hoje o novo Airbus com o objetivo de tentar reverter a opinião pública negativa formada em torno da compra do avião, com chegada prevista para entre 8h e 9h na Base Aérea de Brasília. O Airbus saiu ontem de Hamburgo, na Alemanha,
sobrevoou Holanda e Bélgica, e
fez escala em Toulouse, na França. A expectativa era que decolasse às 21h (horário de Brasília) de
ontem, sobrevoando Espanha,
Portugal, Ilhas Canárias, Cabo
Verde e Senegal, até pousar na capital brasileira.
O avião será apresentado na Base Aérea de manhã. Foi montado
um esquema de comunicação que
inclui a apresentação de estudos
sobre a suposta economia de
combustível do AeroLula e fotos
de seu interior. O objetivo é mostrar que não haveria detalhes extravagantes, apesar de o modelo
ter sido personalizado. O presidente tem uma área privativa, na
qual há quarto e banheiro com
chuveiro, além de gabinete, com
mesa e cadeiras, com capacidade
para oito pessoas.
O Palácio do Planalto delegou
ao Centro de Comunicação Social
da Aeronáutica a função de apresentar o Airbus. Decidiu-se, portanto, que a Secom e a Secretária
de Imprensa e Divulgação do Planalto se afastariam da divulgação.
O AeroLula tem capacidade para 55 pessoas, 35 a menos que o
Sucatão. Um dos pontos técnicos
mais defendidos é a autonomia de
vôo: enquanto o Sucatão é obrigado a fazer escalas para abastecer, o
AeroLula voa direto até Nova
York ou Paris, por exemplo.
Somente as partes de acabamento e de "decoração", com
símbolos da Presidência, saíram
por US$ 10 milhões.
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