São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Um ponto no programa

A falta de surpresa na eleição para a presidência do Senado não se traduz em promessas positivas, seja no que diz respeito à imagem da Casa e do Congresso, seja em relação aos problemas gerais do país.
O PFL foi, é e continuará sendo submisso ao governo, a Fernando Henrique. Mas o PMDB do vitorioso, Jader Barbalho, cumpriu o mesmo papel com muito menos atenção para o comprometimento, já não se diga da moralidade partidária, senão ao menos das aparências, em respeito à opinião pública.
O senador Jader Barbalho e seu partido têm ainda uma dificuldade adicional, para conduzir o comando do Senado e do Congresso, pelos próximos dois anos, com resultados satisfatórios. Para fazê-lo, não podem deixar que o Senado desça, por pouco que seja, do realce que lhe deu, na vida política e na mídia, o senador Antonio Carlos Magalhães nos últimos quatros anos. A Câmara, tradicionalmente mais visível e audível, pela maior fermentação nos seus debates e votações, nos últimos anos quase sumiu.
Antonio Carlos Magalhães excedeu as funções convencionais da presidência, conferindo-lhe uma dimensão de denunciadora de certos aspectos nacionais e de proponente, com várias vitórias, de medidas não só parlamentares, mas também governamentais, que os atenuassem. O próprio Antonio Carlos lembrou tais atitudes, no seu discurso de despedida. Nem por isso é dispensável reconhecer que o salário mínimo só escapou da esmola humilhante, que Fernando Henrique e Pedro Malan lhe queriam acrescentar, porque a ofensiva de Antonio Carlos tornou politicamente inviável a persistência dos dois.
Por mais que Jader Barbalho seja reconhecido como um político com senso de oportunidade muito apurado, ao qual dá a contribuição de audácia e dureza incomuns, não é esperável que dê à presidência do Senado e do Congresso uma dimensão a mais, equivalente, embora não precisasse ser idêntica, à criada por seu antecessor. Seu programa deveria resumir-se a um ponto: não permitir motivos de saudades do seu antecessor e inimigo. Ou, como preferem os políticos, do seu adversário.
Adversário ou político até que Antonio Carlos Magalhães sinalize sua resposta ao aceno de convivência pacífica que lhe fez Jader Barbalho, no discurso de posse. Este passa a ser o centro da curiosidade.


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