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PREVIDÊNCIA
Em reunião com o mercado, ministro ouve sugestão de fim do fundo de garantia e de fortalecimento de fundos privados
Berzoini critica militar e ouve lobby anti-FGTS
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
O ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, disse ontem que o
sistema de aposentadorias e pensões dos militares é o maior problema previdenciário do país e
ouviu pedidos do lobby do mercado financeiro em reunião fechada em São Paulo.
Representantes do mercado em
pessoa sugeriram que o governo
direcione a reforma da Previdência no sentido de fortalecer o mercado de capitais por meio do estímulo à criação de mais fundos de
previdência privada. Reivindicou-se inclusive a extinção do
FGTS. As contribuições disso que
é uma espécie de seguro-desemprego seriam destinadas a fundos
privados de seguro social.
Na sua breve exposição, o ministro criticou a imprensa e afirmou que o pior desequilíbrio previdenciário do país é o do sistema
de aposentadorias e pensões de
militares e de suas filhas. O pai do
ministro era militar e sua irmã recebe pensão.
Segundo o ministro, as despesas
com militares inativos e pensões
superam em 70% os pagamentos
aos militares da ativa (55%, segundo o Ministério do Planejamento). Ainda segundo dados
oficiais, os gastos com militares
inativos e pensões para famílias
de militares representam 38% dos
gastos totais com servidores federais inativos.
Do mercado, em suma, Berzoini
ouviu que seria recomendável
baixar o quanto possível o limite
de benefícios a serem pagos pelo
Estado, ficando o restante das
aposentadorias por conta de empresas de seguridade privada. Isto
é, pediu-se que o governo apóie
medidas que induzam o trabalhador a constituir seu fundo de aposentadoria por meio do pagamento de um plano privado.
Berzoini participou do "Encontro sobre Reforma da Previdência", promovido pelo Instituto
Brasileiro de Mercado de Capitais
e pelo Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais.
Participaram do encontro os
presidente das Bolsas paulistanas,
a cúpula das associações do mercado financeiro e de seguradoras,
além de especialistas em previdência, contas públicas e trabalho. O encontro foi fechado e restrito a jornalistas convidados, o da
Folha entre eles.
Programa de governo muda
Berzoini mais uma vez afirmou
que o governo não tem proposta
fechada para a reforma e que até
mesmo o "programa do governo
[sobre Previdência], que foi aceito
nas urnas", pode mudar, a depender dos debates.
Disse que o sistema previdenciário brasileiro precisa de reforma não apenas porque causa buracos nas contas públicas, mas
porque é injusto, baseado "em
acordos políticos orientados pela
concepção de que alguns são mais
cidadãos dos que os outros" (os
funcionários públicos).
Repetiu que não será possível
agora fazer uma reforma que
atinja os servidores atuais, pois o
custo da transição seria alto. Mas
reafirmou que o objetivo do Estado deve ser a criação de um sistema único de previdência para servidores e trabalhadores da iniciativa privada, com teto para benefícios e contribuições para fundos
privados sem fins lucrativos.
Um dos ministros da Previdência de Fernando Henrique Cardoso, José Cechin, criticou as posições que Berzoini defendia antes
de assumir o ministério. Como
vários parlamentares do PT, o ministro dizia que fraudes, trabalho
informal e baixo crescimento econômico eram as causas do déficit
do INSS, minimizando problemas estruturais, como aposentadorias precoces.
Quanto ao regime de previdência única, Cechin disse que tal sistema pode ser implementado por
meio da contratação de servidores por meio da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), submetendo-os às mesmas regras
dos trabalhadores da iniciativa
privada. A isso o PT se opunha até
pelo menos 2000, quando entrou
com Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a lei que previa
a contratação de servidores de
agências reguladoras pela CLT.
Cechin lembrou também que a
aprovação rápida do regime único de Previdência (que incluiria
apenas servidores contratados
após a nova lei) depende apenas
da retirada de destaques da lei que
tramita no Congresso, destaques
agregados pela oposição ao governo FHC, PT inclusive.
"Pega ladrão!"
"A necessidade de produzir jornais diários leva a impropriedades. Quem está envolvido no processo sabe que apenas 20% ou
30% do que sai nos jornais é correto", disse Berzoini. Ao sair da
reunião, o ministro encontrou
cerca de duas dúzias de outros repórteres. Ao fugir dos jornalistas
correndo pelo calçadão do centro
de São Paulo, ouviu contínuos e
porteiros gritarem "Pega! Pega ladrão!". Era brincadeira. Os contínuos e porteiros não sabiam que o
ministro estava ali e disseram à
Folha que nem o conheciam.
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