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AJUSTE PETISTA
Redução de verbas para a área social atinge 298 emendas ao Orçamento para implantação de sistema de esgoto
Cortes deixarão 11 milhões sem saneamento
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os cortes de R$ 5 bilhões feitos
pelo governo de Luiz Inácio Lula
da Silva na área social atingiram
em cheio os investimentos em saneamento básico: pelo menos 11,1
milhões de pessoas-- a maioria gente pobre que vive nas regiões menos desenvolvidas do
país- continuarão vivendo sem
esgoto e água encanada.
Esse é o número aproximado de
pessoas que seriam beneficiadas
pelas 298 emendas ao Orçamento
que os deputados aprovaram para serem executadas neste ano
por meio do programa "Saneamento é Vida". Sem dinheiro, o
governo não tem perspectiva de
tocar essas obras.
O valor total das emendas específicas para esse programa (implantação de sistema de água e esgoto) é R$ 193 milhões. Antes de
receber as emendas, o governo tinha previsto gastar R$ 20 milhões
com o programa.
O setor de saneamento é subordinado ao Ministério das Cidades,
de Olívio Dutra (PT). Os cortes
anunciados no Orçamento, na
terça, reduziram 85% dos recursos que ele teria para executar novos projetos e ainda pagar o custeio da máquina pública. Dos R$
2,2 bilhões previstos antes da tesourada, restaram R$ 326 milhões
para todos os programas do ministério, e não só saneamento.
A determinação feita pelo ministro Guido Mantega (Planejamento) aos colegas, logo após
anunciar a redução do Orçamento, foi para que eles cortassem justamente as emendas.
A secretária-executiva do ministério, Ermínia Maricato, disse
que estão sendo estudadas alternativas de fazer obras com recursos do FGTS e da Caixa Econômica Federal. O ministério informou
que obras de saneamento só serão
feitas quando houver dinheiro.
Já é histórica no Brasil a falta de
investimentos em saneamento
básico, cuja falta é uma das principais causas de mortalidade infantil. Segundo o Censo de 1991,
52,4% dos domicílios brasileiros
estavam ligados à rede de esgoto.
Os dados do Censo 2000, mostram que os avanços foram pequenos: apenas 62,2% das casas
dispõem desse tipo de serviço.
A aprovação das emendas não
garante a execução das obras. No
entanto, a determinação de Mantega e a falta de dinheiro do Ministério das Cidades indicam que
as emendas parlamentares têm,
por enquanto, muito poucas
chances de sair do papel.
A Folha levantou o número de
famílias beneficiadas para cada
emenda de saneamento, mapeou
a localização de algumas obras e
cruzou o resultado com outros indicadores sociais do governo.
O resultado mostra que as cidades que não têm rede de água e esgoto são as mesmas que apresentam os piores índices de desnutrição infantil do país. As emendas
também beneficiariam periferias
de grandes cidades e municípios
pobres de Estados do Sul e Sudeste. No entanto, parte significativa
das emendas beneficiaria o Norte
e o Nordeste, as regiões com a menor rede de saneamento.
Para calcular a quantidade de
pessoas prejudicadas pelo corte
de verbas para saneamento, o número de famílias indicadas nas
emendas (2.229.603) foi multiplicado por cinco, a média usada pelo IBGE para calcular o tamanho
médio das famílias brasileiras.
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