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ELIO GASPARI
Sem samba-enredo, Lula é um perigo
Nosso Guia não se achou na crise, mas pensa que pode dizer o que quiser, pois bobos são os outros
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O PROCESSADOR de Lula está sobrecarregado. Têm sido frequentes
os seus momentos de impaciência e mau humor na rotina do palácio.
Obrigado a trocar o triunfalismo do pré-sal e da "marolinha" pelas dificuldades
da crise econômica, Nosso Guia está sem
agenda.
Há um indicador seguro para medir o
aquecimento da placa de Lula. Sem assunto, ele retoma o discurso do nós-contra-eles e vai-se embora pra Pasárgada,
onde "a existência é uma aventura".
Durante seu discurso para cerca de
4.000 prefeitos reunidos em Brasília,
Nosso Guia ofendeu a inteligência alheia
duas vezes. Na primeira fez uma piada à
la Maria Antonieta: "Nós cortaremos o
batom da dona Dilma, o meu corte de
unhas, mas não cortaremos nenhuma
obra do PAC". Lula estava num evento
onde estima-se que o governo gastou R$
240 mil.
Uma manicure de Lula contou que
cortava suas unhas duas vezes por mês.
Estimando-se que deixe boas gorjetas,
Nosso Guia queima R$ 1.000 anuais nesse conforto. Se dona Dilma usar um batom caro (Sisley), gastará, no exagero,
outros R$ 1.000. Portanto, só para custear o convescote dos prefeitos, Lula e
Dilma precisariam cortar 120 anos de
bem-estar.
A vinheta foi apenas uma tirada boba,
mas o segundo atentado foi malévolo e
enfático. Dirigindo-se ao prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, disse o seguinte:
"Você vai cair da cadeira. Você não sabe e
eu não sabia, mas no Estado de São Paulo
nós ainda temos 10% de analfabetos no
Brasil".
A taxa de analfabetismo em São Paulo
está em 4,6%, metade do índice nacional.
Lula viajou na planilha. São Paulo abriga
10% dos analfabetos do país, o que, pelo
tamanho do Estado, não chega a ser motivo para cair da cadeira. (São Paulo tem
36% da frota nacional de veículos.)
Essa foi a quarta vez que o governo de
Lula atropelou a boa norma para criticar a rede de ensino paulista. Ela não é
uma esquadra inglesa, mas o governo
insiste nos golpes baixos. Já divulgou
indicadores misturando metodologias,
embaralhou notas da Prova Brasil e
apresentou listas de desempenho contaminadas por dados errados. Em duas
ocasiões as lorotas coincidiram com as
campanhas eleitorais.
Um companheiro dizendo tolices
não é um grande problema. Um presidente capaz de fazer campanha dizendo não importa o quê, indica que 2010 será um ano feroz.
O INGLÊS VÊ A "FAVELA" DE UM JEITO NOVO
A revista "The Economist"
insiste: surgiu no mundo uma
nova classe e o Brasil é um desses países onde esse fenômeno
tornou-se mais visível. Falando
de Pindorama, menciona com
gosto a inauguração de uma filial das Casas Bahia no bairro
paulistano de Paraisópolis.
Há duas semanas, Paraisópolis estava nos jornais tratado
como se fosse uma perigosa favela, antro de traficantes, justamente ocupada por uma polícia
que obrigava moradores a se
identificar. O que é Paraisópolis,
um bairro habitado pela classe
média emergente da "Economist", ou uma "fábrica de produzir marginal", como o governador Sérgio Cabral já chamou a
Rocinha?
Programas de regularização
fundiária criaram um mercado
de imóveis no local e já ocorreram transações com valores superiores a R$ 100 mil. Oito escolas juntam 6.000 jovens. Números semelhantes podem ser achados em quase todos os bairros da
periferia da sociedade brasileira.
São fábricas de classe média.
Um barão brasileiro que visitasse os subúrbios de Londres
na metade do século 19 veria
um favelão. Era a desordem
social e urbana da revolução
industrial. Felizmente, a cidade teve um escritor como
Charles Dickens para mostrar
que ali vivia o pedaço de baixo
da sociedade inglesa, lembrando ao pedaço de cima que os
dois formavam um só povo.
COBRA
De uma serpente, ao ver Nosso Guia na televisão falando do
batom de dona Dilma e da sua
manicure: "Tem certeza de que
não é o Bussunda?"
FAUNA ARCAICA
O PSDB é capaz de tudo.
Tem dois candidatos a presidente (José Serra e Aécio Neves) que fazem qualquer coisa
para chegar ao Planalto, menos
oposição.
Na hora de discutir o comportamento do governo, quem
vai para o microfone é Fernando Henrique Cardoso. É como
se os republicanos pedissem a
George H. W. Bush (o pai) para
responder ao pacote de Barack
Obama.
Pior: depois de ouvir Nosso
Guia dizer que São Paulo tem
10% de analfabetos (uma obra
dos 14 anos de governo tucano),
Serra teve uma reação inspirada pela bonomia do papa João
23: "Foi uma menção a um número. Só que o número está errado".
RISCO ZERO
Michel Temer assumiu a presidência da Câmara dos Deputados a reboque do castelo de
Edmar Moreira e perdeu a
chance de liderar a iniciativa
pela abertura de todas as pastas
com as notas fiscais dos reembolsos cobrados à Viúva por
seus colegas.
Como dizia o deputado Luís
Eduardo Magalhães: "Não há o
menor perigo de dar certo".
POTE DE MÁGOA
Paulo Lacerda, o ex-diretor
da Polícia Federal defenestrado para um exílio dourado em
Lisboa, acha que Lula jogou-o
no mar, sabendo que nunca
mandara grampear os outros. A
tristeza de Lacerda é grande,
mas ainda insuficiente para
torná-lo loquaz.
JACK GENRO
Quando o governo não sabe o
que fazer, tira da gaveta um projeto de reforma tributária ou de
reforma política.
No ano passado veio a empulhação tributária. Foi ao arquivo.
Agora apareceu o comissário
Tarso Genro com um projeto de
reforma política, "fatiada", para
ser votada em partes. Pode-se
chamá-la de "Reforma do Jack".
O "Estripador" é o patrono da arte de fatiar.
FESTA EM NY
Depois de ter canalizado algumas centenas de milhares de dólares num encarte da revista "Foreign Affairs", enfeitando-o com
publicidade da Petrobras, do
BNDES e da Embratur, o comissariado de informações do governo prepara um novo incentivo ao
mercado editorial americano.
Planeja-se um festim bananeiro
para acompanhar a visita de Nosso Guia a Nova York, em março.
Gastar dinheiro com publicidade em veículos sérios na busca
de simpatia é uma variante do
costume de jogá-lo pela janela.
O Planalto dispõe de R$ 150
milhões para promover a imagem do governo no exterior. Os
arquivos do palácio informam:
todas as iniciativas anteriores
serviram para fazer a alegria de
alguns bem-aventurados, e mais
nada.
Um governo que tentou expulsar do país o correspondente do
"New York Times" mostra que
trocou a linha das bravatas gratuitas pela das besteiras remuneradas.
POUSO FORÇADO
Em janeiro, quando assumiu a
presidência da Infraero, o brigadeiro Cleonilson Nicácio Silva
trabalhava com a ideia de dispensar 395 funcionários-jabutis (alguém os pôs lá). A lista encolheu
para 216. Teme-se que agora esteja em 30.
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