São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

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TRAJETÓRIA

Católico, governador exibe perfil pragmático

DA REDAÇÃO

Quarenta e cinco anos após a posse de Jânio Quadros, o tucano Geraldo Alckmin lutou para repetir a trajetória natural de todos os governadores paulistas: disputar a Presidência. Os últimos ocupantes do Palácio dos Bandeirantes que tentaram o feito fracassaram: Paulo Maluf perdeu em 1985 e 1989, e Orestes Quércia, em 1994. Mario Covas, candidato natural à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, morreu de câncer em 2001. Agora é a vez de Alckmin.
Católico praticante, Alckmin é considerado mais conservador que os principais fundadores do PSDB (FHC, Mario Covas e Franco Montoro), o que ele nega. O governador se defende afirmando que prefere a ação à retórica. Político frio e metódico, que gosta de ser visto como gerente, ganhou o apelido de "picolé de chuchu", mas hoje tenta revertê-lo em seu favor: "No meu governo, o Brasil vai crescer pra chuchu e terá trabalho pra chuchu". As principais críticas à sua gestão concentram-se na segurança pública (rebeliões na Febem, muitos seqüestros).
Natural de Pindamonhangaba (SP), onde nasceu em 1952, Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho ainda estudava medicina na vizinha Taubaté (SP) quando foi convidado a disputar uma vaga de vereador na sua cidade natal pelo MDB. Seu pai, que tinha militado na conservadora UDN, acabou não se opondo ao ingresso do filho na oposição ao regime. Alckmin assinou sua ficha de filiação em 14 de agosto de 1972 e foi eleito em novembro, com 1.447 votos, mais de 10% dos votos válidos.
Tornou-se presidente da Câmara, mas ainda insistia em dizer: "Vou ser médico, não político". Quatro anos depois, disputou a prefeitura: venceu, mas desta vez com parcos 67 votos de diferença para o segundo colocado. Assumiu em 1977, ano em que concluiu a faculdade, nomeando seu pai como chefe-de-gabinete -o que lhe valeria muitas acusações de nepotismo. Simpático à Opus Dei, o pai de Alckmin pediu ao filho, em 1978, que batizasse uma das ruas de Pindamonhangaba com o nome do fundador da organização. O governador nega ter vínculos com a Opus Dei: diz que apenas um tio (já morto) e uma prima integraram a entidade.
Em 1979, Alckmin terminou sua especialização em anestesiologia e se casou com Maria Lúcia, que conhecera num baile. Tiveram três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz.
Asfaltou muitas ruas e, em 1982, elegeu-se folgadamente deputado estadual com 96.232 votos. Na Assembléia, estreitou seus laços com o então governador Franco Montoro (PMDB). Em 1986, foi eleito deputado federal com 124.971 votos. Na Constituinte, apresentou o primeiro projeto do Código de Defesa do Consumidor e da lei sobre doação e transplante de órgãos. Aproximou-se do senador Mario Covas e o acompanhou em junho de 1988 quando ele liderou o grupo que deixou o PMDB e fundou o PSDB. Reelegeu-se em 1990, embora com uma votação bem menor (55.639 votos).
Em 1991, foi eleito presidente do PSDB paulista após forçar a desistência de Sérgio Motta (aliado de FHC). Saiu pelo interior fundando diretórios e atraindo aliados. Esse trabalho chamou a atenção de Covas, que em 1994 o escolheu para ser seu vice na disputa pelo governo de São Paulo. Covas venceu Francisco Rossi (PDT) no segundo turno com 8.661.960 votos.
Alckmin foi nomeado presidente do Conselho de Desestatização. Obteve cerca de R$ 16 bilhões com privatizações e concessões. Em 1998, quando Covas disputou a reeleição, Alckmin o procurou para dizer que ficasse à vontade para indicar alguém do PFL para vice. Covas não aceitou: "Está com medo de perder a eleição? Não tem discussão, é você mesmo". O PFL apoiou Paulo Maluf (PPB), mas Covas foi eleito governador no segundo turno com 9.800.253 votos (55,37%).
Em 2000, Alckmin disputou a Prefeitura de São Paulo. Em abril, tinha apenas 3% das intenções de voto. Na eleição, obteve 952.890 votos (17,21%), apenas 7.691 votos a menos do que Maluf, que perdeu no segundo turno para Marta Suplicy (PT). Apesar da derrota, Covas ficou satisfeito: "Não disse que ele era bom?"
Com a morte de Covas, em 6 de março de 2001, assumiu o governo, mudando a equipe aos poucos. Com bons índices de aprovação à sua gestão (56% de aprovação em outubro de 2002), foi reeleito governador derrotando José Genoino (PT) no segundo turno com 12.008.819 votos (58,6%).
Alckmin nega o rótulo de conservador ("Eu sou de centro-esquerda, um social-democrata. Mas gosto de ser considerado mais pragmático"). Sustenta que os maiores problemas da política não são ideológicos, mas sim de "seriedade", "austeridade" e "bom gerenciamento".


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