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SERRA
"Eu escolho a minha parte"
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Tarde quente de quinta-feira. O governador José Serra está em pé em frente a uma sala
lotada de alunos da quarta série
da rede estadual de ensino na
populosa zona leste paulistana:
"Quando eu era garoto, comprava um chocolate em sociedade com um amigo e, para não
ser passado para trás, criei uma
regra: "Você divide, mas eu escolho a minha parte'", diz o "professor visitante",
sorridente, tentando ensinar
porcentagem.
A estratégia revela muito sobre
o momento de
Serra, que completa 67 anos
nesta semana.
Líder nas pesquisas, ele quer evitar o debate antecipado, mas não
pretende abrir
mão da que pode
ser sua última
chance de chegar
ao Planalto.
Para isso, intensificou sua
agenda, apertou a cobrança sobre os assessores e, publicamente, decidiu apostar no discurso de "estou preocupado em
trabalhar por São Paulo". "Não
estou interessado em ti-ti-ti
eleitoral", disse ele à Folha,
após ter dividido um palanque
com o ex-governador Orestes
Quércia (PMDB) na feira agropecuária de Avaré.
Com o microfone à mão, Serra evita os temas nacionais e
privilegia obras que serão possíveis vitrines. Cita feitos nas
áreas de transporte, distribui
escolas de ensino técnico e
anuncia a criação de laboratórios de especialidades médicas.
Com frequência, algum correligionário grita coisas como "vai
fazer mais pelo Brasil" ou "nosso presidente". O tucano apenas sorri e desconversa.
Nas duas últimas semanas,
Serra cumpriu compromissos
de governador, mas muitos deles tinham clima de campanha.
Palanques, fotos, faixas de saudação e pedidos para que posasse para fotografias, o que ele
fez sempre sorrindo. A média
foi de dois eventos por dia.
Às 3h da manhã da segunda
passada, por
exemplo, ele estava na estação
Brás de trem
lançando o "Bilhete do Madrugador".
Noctívago famoso, Serra, de
bom humor,
destoava da entourage de assessores.
No dia seguinte, foi à
inauguração de
um centro de
treinamento
em Porto Feliz.
Falou sobre futebol, uma de
suas paixões, e
brincou com o
locutor Galvão Bueno. Mas
menos de 20 minutos após sair
dali estava carrancudo dando
uma blitz em uma escola estadual. "Infelizmente, todos os
problemas que haviam sido
apontados se confirmaram",
disse ele à atônita diretora. A
escola estava suja, e a sala de
computadores, inativa.
Segundo avaliação do governo estadual, quase 80% dos
alunos não têm o conhecimento esperado em matemática. "É
preciso tomar tabuada", disse
Serra aos professores da escola
da zona leste onde deu aula na
quinta. De saída, contou: "Preciso ir. Tenho cinco reuniões e
um jantar no palácio". Naquela
noite, ele recebeu a cúpula do
DEM para tratar de política.
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