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PT em São Paulo é um "desastre", diz Ciro
Deputado afirma que partido precisa de nome novo para sucessão de Serra, mas considera sua candidatura no Estado artificial
Ciro defende que PT e PSB tenham candidatos próprios em SP; deputado diz que fará aproximação entre PSDB e petistas se eleito presidente
MALU DELGADO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
O deputado federal e ex-ministro Ciro Gomes (PSB), 52, é
popular no Rio de Janeiro.
Num táxi, discute com o motorista a filiação de Romário ao
PSB e escuta, atento, a recomendação de lançar Zico, "que
nem precisaria de campanha".
Com uma truculência à mídia arrefecida -ou dominada
depois de disputar duas campanhas à Presidência -, um Ciro
"mais sereno", como ele se classifica, falou à Folha sobre a sucessão presidencial e no governo de São Paulo.
Ele admite que sua candidatura em São Paulo seria artificial e volta a dizer que será candidato à Presidência da República. Ao final da entrevista,
com o gravador já desligado,
Ciro confessa que, se não disputar a eleição de outubro para
presidente ou para o governo
de SP, deixará a política.
FOLHA - O sr. afirmou na semana
passada que São Paulo não precisa
do sr. São Paulo precisa de quem?
CIRO GOMES - Fulanizar a política é algo ridículo no Brasil. São
Paulo precisa de um projeto
porque a eficiência medíocre
do PSDB deu o que tinha que
dar. Os indicadores de violência
estão crescendo, o transporte
está colapsando, a educação é
uma das piores do país. Agora,
como o PT é um desastre, lá em
São Paulo especialmente, eles
têm essa eficiência medíocre
posta em relevo.
FOLHA - Por que o sr. considera o PT
um desastre em São Paulo?
CIRO - Por tudo o que aconteceu. Estou falando do desastre
de confiabilidade, de confiança
da população a ponto de o próprio PT, na minha opinião corretamente, pretender lançar
um candidato jovem lá, para fazer nome. Os principais quadros do partido [o PT], justa ou
injustamente, entraram num
problema. Não é brincadeira
não, rapaz. José Dirceu, Genoino, Mercadante, Marta, João
Paulo. Não é brinquedo não.
FOLHA - O PT pretendia lançar o sr.
no Estado.
CIRO - Eu fico muito honrado,
distinguido com isso, mas veja
bem, não é tão artificial essa solução, não?
FOLHA - Então se o sr. for candidato
ao governo de São Paulo será uma
solução artificial?
CIRO - A minha candidatura
naturalmente é artificial. Agora, o que eu poderia fazer -e tinha que ser sincero e franco
com a população de São Paulo- era dizer: "Eu não faço rotina aqui, mas acumulei uma experiência de grande sucesso na
administração pública, e essa
experiência eu me disponho a
colocar a serviço de São Paulo".
Não é minha pretensão. Todo
mundo sabe e eu repito que minha intenção é ser candidato à
Presidência.
FOLHA - O sr. trabalha por alianças
do Paulo Skaf com o PT, por exemplo? O sr. vê possibilidade de uma
chapa Aloizio Mercadante e Skaf?
CIRO - Eu não veto, não atrapalho, não opino contra, mas acho
que a melhor opção é o PT ter o
seu candidato e nós, o nosso.
FOLHA - O sr. diz que é o único a ter
liberdade para fazer críticas ao governo do presidente Lula. O debate
sobre o papel do Estado, com viés
antiprivatização, é equivocado?
CIRO - Não, a questão não é que
esteja equivocado. Embora o
Serra tenha sido capaz de quebrar patentes no Ministério da
Saúde na questão do coquetel
antiaids, ele chega em São Paulo e privatiza a conta da prefeitura, hospeda num banco privado. E, em seguida, bota a Nossa Caixa para vender, um dos
últimos ativos que São Paulo
tem. Em relação à Dilma eu tenho a vivência que ela não tem.
FOLHA - Mas qual é sua posição sobre privatização e papel do Estado?
CIRO - Isso tudo é baboseira
ideológica. No mundo inteiro a
experiência empírica demonstra que o Estado não é máximo,
nem mínimo, nem grande, nem
pequeno. É o necessário. É a lei
do menor esforço. Quem faz
melhor, mais rápido e mais barato é quem vai fazer. Às vezes é
Estado regulador, às vezes tem
que ser empresário. A economia moderna é mista, mas a
responsabilidade pela dinâmica estratégica de um país é do
Estado.
FOLHA - O sr. sempre menciona
eventuais problemas de governabilidade do futuro presidente, dado
que ninguém terá o capital político e
a popularidade de Lula, que faz com
que ele transite bem no Congresso.
CIRO - Mais que transitar. Ele
suporta, sem perder legitimidade. O que é um fenômeno absolutamente raro. Se a coalizão
for essa, com o protagonismo
desta banda do PMDB que
manda no país [haverá crise de
governabilidade].
O DEM é muito melhor que o
PMDB neste instante. Uma
questão é um escândalo, no
qual todos nós estamos vulneráveis a ter um companheiro
que vai entrar numa dessa. Todos nós. Isso é da política. O
problema é que o PMDB, não o
coletivo, mas a banda hegemônica, faz desta linguagem o seu
instrumento central de luta.
FOLHA - E como se governa o Brasil
com a atual condição de representatividade e o atual sistema político?
CIRO - É uma ilusão de ótica
que a prostração moral do PT
está passando para o país. O
problema da situação política
da Dilma é que ela fica com a
boca travada. Ela não pode falar
isso para ninguém. Como o Serra também não pode. Eu posso.
Imagino governar o Brasil assim: eu encerraria a violenta,
paroquial e provinciana radicalização que opõe PSDB e PT.
Convocarei um entendimento
nacional entre os dois partidos.
Essa é a saída para o país avançar e diminuir a importância de
setores clientelistas, fisiológicos, atrasados, corruptos.
FOLHA - Fazendo uma revisão da
história de 2002, o mercado ainda
teme sua candidatura?
CIRO - Teme, mas é injusto. Eu
não sou uma invenção. Eu já fui
ministro da Fazenda. Eu fui
muito bom para a economia pelos resultados. O país cresceu
5,3%, tivemos superavit primário de 5% do PIB, inflação zero.
Agora, tive algumas questões.
Fiz a intervenção do Banespa e
do Banerj. Fiz a abertura comercial que dissolveu vários
cartéis. Tudo bem, a vida é dura. Eu não vou vender a minha
alma para ser presidente.
FOLHA - O sr. já sofreu uma oscilação fortíssima nas pesquisas em
2002. Todos os políticos não estão
sujeitos a isso?
CIRO - Sim, isso eu acho. Acho
que a Dilma cometerá um erro,
porque nenhum de nós escapou. O Lula cometeu, eu cometi, o Serra, o Alckmin cometeu.
Ela cometerá. Tomara que não.
E vai oscilar. Ela é um pouco
mais vulnerável, claro. Porque
na medida em que você erra,
você aprende. O Lula aprendeu
para caramba. Eu aprendi muito. O Serra erra menos porque é
protegido pela grande mídia.
Leia a íntegra da
entrevista
www.folha.com.br/100731
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