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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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REGIME MILITAR

Novo chefe do Departamento de Inteligência da Polícia Civil comandou interrogatórios no DOI-Codi paulista

Alckmin defende policial acusado de tortura

DO ENVIADO ESPECIAL A RIO QUENTE

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), recorreu ontem à Lei da Anistia, de 1979, para justificar o fato de o delegado Aparecido Laertes Calandra chefiar um dos departamentos da Secretaria de Segurança de São Paulo -Dipol (Departamento de Inteligência da Polícia Civil).
Calandra comandou interrogatórios no DOI-Codi paulista (órgão de repressão política do regime militar) e é acusado da prática de torturas por entidades de direitos humanos.
"A anistia vale para os dois lados", afirmou Geraldo Alckmin, ontem, antes da reunião dos governadores do PSDB no complexo turístico Pousada do Rio Quente, em Goiás.
"Vamos ficar voltando ao passado a cada momento?", disse o governador paulista.
De acordo com Alckmin, Calandra "não foi punido, houve anistia, está trabalhando. Não vai trabalhar? Alguma coisa [o delegado] tem de fazer".
No comando do Dipol, Calandra usa o mesmo nome de guerra que usava no DOI-Codi: Capitão Ubirajara.
Ele é subordinado ao gabinete do delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antonio Desgualdo. Uma de suas atribuições é cuidar de escutas telefônicas.

Mortes
Entidades de defesa dos direitos humanos pedirão, na Assembléia Legislativa, o afastamento de Calandra (leia texto ao lado).
De acordo com o Movimento Tortura Nunca Mais, pelo menos dois presos morreram depois de serem torturados pela equipe de Calandra.
Em um dos casos, ele teria mostrado um recorte de jornal com a notícia da morte de Carlos Nicolau Danielli, ex-dirigente do PC do B, a outra presa, Maria Amélia de Almeida Teles.
Ela testemunhou os três dias de tortura a que Danielli foi submetido. O título da notícia era "Terrorista morto em tiroteio". "Ele [Calandra] me mandou ler em voz alta a notícia, eu disse que não era verdade, e ele: "Aqui damos a versão que queremos, e, se não colaborar, vai ter uma manchete dessas também'", conta Teles.
Em 1975 o codinome Capitão Ubirajara aparecia na lista de 233 torturadores de um relatório enviado à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
José Genoino, hoje presidente nacional do PT, foi um dos que assinaram o documento.
Em 1983, antes de o então governador Franco Montoro extinguir o Dops e transferir arquivos da polícia política paulista para a Polícia Federal, Calandra foi incumbido de cuidar desses arquivos. Sob seus cuidados, parte das informações desapareceu.


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