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TODA MÍDIA
Nelson de Sá
A impressão
Galvão Bueno já vinha
desconfiado na narração,
no primeiro tempo:
- Eles já xingaram lá, os jogadores, os torcedores do Quilmes
xingaram o Grafite lá, com ofensas por ele ser negro, com termos racistas.
Final do primeiro tempo,
ocorre o conflito. No "replay",
volta o locutor:
- Olha, tive a impressão... coloca de novo aquela imagem. Tive a impressão de que ele disse
"negro" para o Grafite.
Mostram de novo:
- Lá, tá vendo?
Após a expulsão de Grafite,
mais do narrador:
- O jogador que foi lá, que fez
a ofensa, que foi racista, esse ficou no campo.
O repórter da Globo correu:
- O que ele te falou, Grafite, o
jogador do Quilmes? Alguma
coisa de cunho racista?
O brasileiro respondeu que
não iria "nem comentar para
não dar ênfase".
Não precisava. A ênfase foi dada por Galvão Bueno por mais
uma hora:
- É evidente, deu para ver no
movimento labial. E já tinha
acontecido na Argentina.
Final do segundo tempo, entra
o delegado em campo e vai dizendo, às câmeras da Globo e
aos argentinos:
- Vou levar até o distrito. Todo mundo viu, as televisões estão mostrando, tenho até ordem
do meu delegado-geral.
E Galvão Bueno, orgulhoso
como nunca:
- Exatamente. A gente mostrou na televisão, fiz questão absoluta de falar, deve ter chegado
às autoridades.
Na madrugada, foi a vez de
Milton Neves, da rádio Jovem
Pan, que saiu a cobrar do mesmo delegado, ao vivo, que não
soltasse o argentino.
E assim o jogador do Quilmes
passou a noite e o dia na delegacia, com Fátima Bernardes surgindo de tempos em tempos na
Globo, dizendo:
- O zagueiro argentino Leandro Desábato está preso há mais
de 17 horas.
Continuou assim pela segunda noite, em outro distrito. Na
Record, enquanto isso, lá estava
o delegado, ao vivo no estúdio,
em mais entrevista.
Folha Online, BBC Brasil, Jovem Pan, Globo Online, além da
própria Globo, passaram o dia à
procura de mais provocação
-ao menos alguma reação-
da mídia argentina.
Não acharam muito. Num canal, um locutor chegou a criticar
o zagueiro:
- Essa atitude é uma vergonha. Sem falar da derrota. Disso,
então, nem falaremos.
Até o site do "Olé", jornal de
famosas edições racistas, foi
contido, reproduzindo notícias
e declarações.
Também os influentes "La Nación" e "Clarín". Em enquetes
durante o dia, os dois chegaram
a identificar um apoio inusitado
à punição: cerca de 60% "votaram" que foi, sim, "ato de discriminação" e que é correto "deter
jogador por agredir rival com
termos racistas".
Mas a reação maior ficou para
hoje, no papel.
Quanto à repercussão pelo
mundo, foi extensa demais, dos
canais de notícias (CNN, BBC)
às agências (Xinhua, Reuters),
aos sites de jornais ("New York
Times"), esportivos ("As") etc.
Globo/Reprodução
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Galvão Bueno, anteontem na transmissão:
- Lá, tá vendo? Tive impressão de que ele disse "negro". Uma coisa feia, racismo, sem justificativa, depõe contra o time, depõe contra um povo. |
Sofrimento
Por coincidência, em meio ao
espetáculo do racismo no Brasil,
Lula surgiu no Senegal.
Como a Globo não se cansou
de mostrar o dia todo, até o JN,
ele "se emocionou" e "chegou a
pedir perdão pela escravidão".
Estava na ilha de Gorée, de onde
"partiam os escravos para o que
eles chamavam de um infinito
de sofrimento".
Suor cristão
A curiosidade em torno da
Igreja Católica no Brasil, por
conta de d. Cláudio Hummes,
chegou ao "Washington Post",
com texto sobre Marcelo Rossi
-e o esforço dos católicos paulistanos para responder ao avanço evangélico. Do padre, na missa vista pelo "WP":
- Vocês estão suando?
Condi e a energia
A secretária de Estado dos
EUA, Condoleezza Rice, falou
longamente ao "Wall Street
Journal" de ontem e, no título do
jornal, "minimizou as ameaças
nucleares do Irã e da Coréia do
Norte".
Também tratou, de passagem,
dos programas nucleares da Índia e do Brasil:
- Temos que reconhecer e
ajudar esses países a lidar com as
demandas de energia.
"Cunha"
O "Miami Herald" deu artigo
alertando para a "cunha" que a
disputa na OEA fincou entre
Norte e Sul, nas Américas. Em
especial, alertou para a "perda
de influência dos EUA".
@ - nelsondesa@folhasp.com.br
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