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Centralizador, Chinaglia é criticado até por governistas
Estilo do presidente da Câmara leva colegas a lhe apelidarem de "imperador'
Atuação de petista na condução da CPI do apagão gerou descontentamento entre deputados tanto da oposição quanto da base
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em pouco mais de dois meses na presidência da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP) consolidou a imagem de um líder
centralizador e que não gosta
de ser contrariado. Nas últimas
semanas, "imperador Chinaglia", como alguns deputados o
chamam (ou "Arlindo 1º", segundo outra versão), atraiu a
fúria de oposicionistas, mas
também de alguns governistas,
por sua conduta na discussão
da CPI da crise aérea.
Foi acusado de "fazer média"
pelos governistas por não ter
enterrado sumariamente a comissão. A oposição irritou-se
porque ele aceitou recurso do
PT para sufocar a investigação.
Chinaglia deu de ombros: "Se
apanho de todo mundo, devo
estar correto", chegou a dizer.
Na corte do petista, o espaço
para contestações é restrito.
Poucos têm a intimidade de um
Cândido Vaccarezza (PT-SP),
coordenador de sua candidatura a presidente, para fazer uma
advertência mais séria sem arriscar levar uma invertida.
Nem o líder do governo, José
Múcio (PTB-PE), um dos deputados mais próximos de Chinaglia, escapou de uma descompostura. Numa reunião, teve a
temeridade de levantar uma
saída para o imbróglio da CPI
que desagradou o presidente.
Em tom exaltado, Chinaglia
mandou Múcio "ler melhor o
regimento interno".
O ambiente de constrangimento foi tamanho que Chinaglia desculpou-se horas mais
tarde. "Fiz tudo de boa-fé, mas
talvez tenha sido, pela tensão,
ríspido quando não deveria",
disse, ao microfone.
Na relação com os jornalistas, Chinaglia segue o estilo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e vai além: não tem nem
sequer assessor de imprensa.
Evita coletivas, embora se
submeta, com notório desconforto, às rápidas e caóticas entrevistas em que é cercado por
microfones e gravadores enquanto responde caminhando.
Até isso pode acabar. Chinaglia já tentou desengavetar um
estudo que transfere a presidência para uma sala hoje ocupada pelos jornalistas, ao lado
do plenário. Assim, não precisaria encontrar repórteres toda
vez que deixasse seu gabinete.
O ritmo é o oposto de seu antecessor, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que ouvia muitas pessoas e
protelava ao máximo uma decisão. Com Chinaglia, as decisões
são solitárias.
Críticas e elogios
A oposição, cuidadosa no início, já reclama abertamente.
"Ele não tem sido muito feliz
no conjunto das coisas. Tem se
atritado tanto com os líderes do
governo quanto com a oposição. A pauta da Câmara parece
que sai da Casa Civil", afirma o
baiano José Carlos Aleluia, do
DEM (ex-PFL).
Chinaglia também tem seus
admiradores. "Ele está realmente interessado em resgatar
a imagem da Casa", diz Osmar
Serraglio (PMDB-PR).
Uma das primeiras alterações, ao assumir, foi quebrar a
tradição de que às segundas-feiras nada se votava, para desgosto de deputados que usavam
esse dia para cortejar seus eleitores nos Estados. Na semana
passada, Chinaglia teve que recuar da decisão por não ter conseguido atrair parlamentares
suficientes para as votações.
As relações com o grupo que
apoiou a reeleição de Aldo continuam frias, quando não descambam para a hostilidade. Um
desafeto notório é o segundo-secretário da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), que relançou a
discussão sobre o aumento para congressistas.O presidente
da Câmara preferia retardar a
discussão salarial, apesar de,
durante a campanha, ter prometido que resolveria o assunto de "imediato".
Workaholic assumido, Chinaglia é notívago. Um deputado
conta que foi convocado para
uma reunião marcada para as
22h com o petista. Foi um encontro rápido, já que haveria
outra às 23h. E uma terceira começando à meia-noite.
(FÁBIO
ZANINI E LETÍCIA SANDER)
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