São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Centralizador, Chinaglia é criticado até por governistas

Estilo do presidente da Câmara leva colegas a lhe apelidarem de "imperador'

Atuação de petista na condução da CPI do apagão gerou descontentamento entre deputados tanto da oposição quanto da base

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em pouco mais de dois meses na presidência da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) consolidou a imagem de um líder centralizador e que não gosta de ser contrariado. Nas últimas semanas, "imperador Chinaglia", como alguns deputados o chamam (ou "Arlindo 1º", segundo outra versão), atraiu a fúria de oposicionistas, mas também de alguns governistas, por sua conduta na discussão da CPI da crise aérea.
Foi acusado de "fazer média" pelos governistas por não ter enterrado sumariamente a comissão. A oposição irritou-se porque ele aceitou recurso do PT para sufocar a investigação. Chinaglia deu de ombros: "Se apanho de todo mundo, devo estar correto", chegou a dizer.
Na corte do petista, o espaço para contestações é restrito. Poucos têm a intimidade de um Cândido Vaccarezza (PT-SP), coordenador de sua candidatura a presidente, para fazer uma advertência mais séria sem arriscar levar uma invertida.
Nem o líder do governo, José Múcio (PTB-PE), um dos deputados mais próximos de Chinaglia, escapou de uma descompostura. Numa reunião, teve a temeridade de levantar uma saída para o imbróglio da CPI que desagradou o presidente. Em tom exaltado, Chinaglia mandou Múcio "ler melhor o regimento interno".
O ambiente de constrangimento foi tamanho que Chinaglia desculpou-se horas mais tarde. "Fiz tudo de boa-fé, mas talvez tenha sido, pela tensão, ríspido quando não deveria", disse, ao microfone.
Na relação com os jornalistas, Chinaglia segue o estilo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vai além: não tem nem sequer assessor de imprensa.
Evita coletivas, embora se submeta, com notório desconforto, às rápidas e caóticas entrevistas em que é cercado por microfones e gravadores enquanto responde caminhando.
Até isso pode acabar. Chinaglia já tentou desengavetar um estudo que transfere a presidência para uma sala hoje ocupada pelos jornalistas, ao lado do plenário. Assim, não precisaria encontrar repórteres toda vez que deixasse seu gabinete.
O ritmo é o oposto de seu antecessor, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que ouvia muitas pessoas e protelava ao máximo uma decisão. Com Chinaglia, as decisões são solitárias.

Críticas e elogios
A oposição, cuidadosa no início, já reclama abertamente. "Ele não tem sido muito feliz no conjunto das coisas. Tem se atritado tanto com os líderes do governo quanto com a oposição. A pauta da Câmara parece que sai da Casa Civil", afirma o baiano José Carlos Aleluia, do DEM (ex-PFL).
Chinaglia também tem seus admiradores. "Ele está realmente interessado em resgatar a imagem da Casa", diz Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Uma das primeiras alterações, ao assumir, foi quebrar a tradição de que às segundas-feiras nada se votava, para desgosto de deputados que usavam esse dia para cortejar seus eleitores nos Estados. Na semana passada, Chinaglia teve que recuar da decisão por não ter conseguido atrair parlamentares suficientes para as votações.
As relações com o grupo que apoiou a reeleição de Aldo continuam frias, quando não descambam para a hostilidade. Um desafeto notório é o segundo-secretário da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), que relançou a discussão sobre o aumento para congressistas.O presidente da Câmara preferia retardar a discussão salarial, apesar de, durante a campanha, ter prometido que resolveria o assunto de "imediato".
Workaholic assumido, Chinaglia é notívago. Um deputado conta que foi convocado para uma reunião marcada para as 22h com o petista. Foi um encontro rápido, já que haveria outra às 23h. E uma terceira começando à meia-noite. (FÁBIO ZANINI E LETÍCIA SANDER)


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