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GOVERNO SOB PRESSÃO
O ministro José Dirceu (Casa Civil) poderá retomar atribuições; intenção é conter descontrole da base aliada
Lula estuda extinguir pasta da Coordenação Política e realojar Aldo
KENNEDY ALENCAR
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse a auxiliares que tomaria no fim de semana decisão a
respeito do comando da articulação política, numa tentativa de
pôr fim ou amenizar o já crônico
descontrole sobre sua base de sustentação no Congresso.
A Folha apurou que a tendência
de Lula é devolver à Casa Civil de
José Dirceu as atribuições do ministério de Aldo Rebelo (Coordenação Política), que seria extinto.
Aldo poderia ocupar um outro
ministério, provavelmente uma
pasta chefiada por um petista.
É pequena a possibilidade de
Lula manter Aldo na Coordenação Política, apesar de o presidente gostar dele e querer segurá-lo
no primeiro escalão.
Um outro petista que não Dirceu para assumir a função é também menos provável. Se isso
acontecer, Dirceu prefere o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (SP).
Apesar de menores, essas possibilidades não podem ser descartadas, pois Lula está contrariado
com pressões que recebeu para
demitir Aldo e poderia até mantê-lo, o que membros do governo
consideram que seria erro grave.
Apesar de negar, Aldo já pediu
demissão. A instabilidade também afetou sua equipe: há duas
semanas, o assessor especial Fredo Ebling disse a Aldo que deixaria o ministério porque pretende
concorrer à Câmara nas próximas
eleições. Um mês antes, outro assessor entregou o cargo para assumir a chefia de gabinete do ministro Humberto Costa (Saúde).
O formato da eventual devolução da articulação política à Casa
Civil é uma preocupação do presidente. Quando retirou as atribuições políticas da Casa Civil na reforma ministerial de janeiro de
2004, as subchefias de Assuntos
Parlamentares e de Assuntos Federativos foram levadas para a
pasta criada para Aldo.
No início do ano passado, Lula
avaliava que Dirceu estava sobrecarregado por ser o gerente do governo e o articulador político.
Agora, uma possibilidade é criar
uma secretaria especial de Acompanhamento Governamental, nos
moldes de estrutura já existente
na Casa Civil.
A outra possibilidade é dar ao
Ministério do Planejamento parte
das funções de gerenciamento. Isso aliviaria a Casa Civil, que continuaria com a estrutura jurídica e
reincorporaria a política.
"Fundo do poço"
Na avaliação de Lula, a articulação chegou ao "fundo do poço",
expressão que usou em conversas
reservadas. Ele avalia que precisa
começar a próxima semana dando sinal de força na área política.
Os defensores da opção Dirceu
argumentam que ele tem o perfil
para a hora na qual há desordem
na base governista e o embate
com a oposição se acirra. O próprio Dirceu, porém, sabe que é difícil. Pergunta em conversas reservadas se já não seria tarde demais para seu retorno.
Independentemente do desfecho para a articulação política,
Lula avalia que precisará se dedicar a um corpo-a-corpo. Marcou
para quarta-feira encontro com a
Mesa Diretora da Câmara, incluído o presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), e todos os líderes
partidários da Casa.
Em conversas reservadas na última sexta-feira, o presidente Lula
afirmou que pretende propor a
definição de uma agenda comum
para ser votada.
"Não precisa ter compromisso
de votar a favor do governo, mas o
de decidir o que será analisado",
disse o presidente, segundo relato
obtido pela Folha.
Congresso
Com o Senado, o clima terminou ruim na semana passada. O
presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), atacou o veto de
Lula ao reajuste de 15% para funcionários do Congresso e do TCU
(Tribunal de Contas da União).
Do outro lado do Congresso,
Severino Cavalcanti, que apoiou o
veto, deve reagir duramente por
não ter conseguido emplacar um
indicado na Petrobras. Severino
ora afaga governo, ora ataca.
Lula e seus principais ministros
avaliam que Renan, que recebeu
apoio do PT para presidir o Senado, foi desleal ao dizer que o governo provoca crises entre os Poderes da República uma semana
depois de o presidente ter convencido os petistas a derrubar a
verticalização (regra eleitoral que
induz os partidos nos Estados a
repetir a aliança federal).
Dentro do PT voltaram a aparecer focos de resistência à derrubada da verticalização. É improvável
que essa tese prospere, pois Lula
já prometeu ao PMDB que ajudaria a derrubar a regra, mas a falta
de consenso entre petistas pode
indicar mais turbulências.
Segundo a Folha apurou, é raro
um interlocutor do presidente dizer ter visto em Lula algum sinal
de reconhecimento de erros dele
próprio nas últimas crises políticas. O presidente sempre aponta
outro como responsável.
Lula tende a achar que os problemas não são causados pela sua
forma de exercer o poder, muitas
vezes ambígua e solitária. Poucos
assessores se arriscam a apresentar ao presidente esse diagnóstico
que, na avaliação de muitos, seria
a gênese do péssimo momento
que enfrenta no Congresso.
Colaborou CATIA SEABRA, da Reportagem Local
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