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JANIO DE FREITAS
Graúdos e Garotinhos
A condenação (ainda
pendente de recurso) do
casal Garotinho a três anos de
inelegibilidade, por sentença de
uma juíza da sua cidade de
Campos, está envolta em circunstâncias nas quais ainda é
difícil distinguir, com razoável
segurança, o que é legítimo ou é
jogo de interesses em cada um
dos lados opostos no processo.
O fato de que tenha se desenvolvido no Rio-capital a campanha de acusações aos Garotinhos, durante a última disputa
eleitoral pela Prefeitura de
Campos, não os inocenta de
possíveis recursos ilegais em favor do seu candidato.
Porém lança interrogações interessantes, ainda mais sabendo-se que a única outra cidade
interiorana a merecer espaço e
ênfase na mídia carioca, entre
as tantas dezenas de disputas
no Estado todo, foi exatamente
onde interesses vários confrontaram as forças dos Garotinhos
com as reunidas sob a sigla do
PT, na pessoa do candidato camaleônico Lindberg Farias.
A luta política em Campos é
feroz, e não é de hoje. A cidade,
que há um século foi tida como
das prósperas do continente, decaiu sem perder de todo a tradição política dos coronéis da cana e do açúcar. Em certa medida, a eleição de prefeito do então radialista Anthony Garotinho perfurou a tradição, à época depositada em proprietários
monopolistas de TV. Porém, entre outros motivos, sua saída do
PDT para o PMDB reacendeu
em Campos os enfrentamentos
no padrão vale-tudo.
Nas últimas eleições, os candidatos dos Garotinhos tiveram
farta vitória pelo Estado afora,
mas não em Campos nem na
Nova Iguaçu onde foi eleito o
não-residente mas globalizado
Lindberg.
Ingrediente importante, os
Garotinhos são os primeiros governadores do Estado do Rio
que saem do interior. Os primeiros a chegar ao poder estadual sem conexões econômicas
na capital e sem relações, pessoais e sobretudo as outras, com
a poderosa mídia local.
A essas peculiaridades iniciais, não superadas e em parte
até aumentadas pelos Garotinhos, junta-se outra também
sem precedente: a de ordem religiosa. Muito associada à mídia,
a hierarquia católica no Rio é
rigidamente conservadora sob
todos os aspectos, como mais
uma vez comprovou o cardeal
Scheid em sua recente investida
contra Lula. E os Garotinhos
são presbiterianos. Além da sua
própria luta, a política no Estado do Rio inclui uma luta religiosa.
Há indícios de que em Campos a legislação eleitoral foi desrespeitada pelo PMDB e pelo
PDT, pelo governo fluminense
dos Garotinhos, pelo peemedebista derrotado e pelo pedetista
vitorioso, sem faltar, como sempre, a contribuição da mídia a
tantos desrespeitos. Nem por isso a sentença condenatória dos
Garotinhos e dos dois candidatos escondeu um tempero também político, para além do sentido judicial.
Por fim, e quem sabe acima de
tudo, é notório - com freqüência afirmado no jornalismo político mais obviamente ligado
ao governo e a Lula - que nenhum pré-candidato presidencial preocupa mais Lula e seu
círculo do que Anthony Garotinho, em razão de pesquisas específicas e sigilosas. Preocupação que por certo subiu nos últimos dias, com a vitória do
PMDB oposicionista, integrado
por Garotinho, ao prorrogar o
mandato de Michel Temer na
presidência do partido, contra
os propósitos do PMDB governista.
A matéria-prima, no caso, é
farta: mistura (perdão, se você é
economista ou publicitário, faz
um "mix") de guerra municipal, luta sucessória pelo governo
do Estado do Rio, abertura de
espaço para o comatoso PT fluminense, sucessão presidencial
e confronto religioso. Ah, sim, e
legislação eleitoral.
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