São Paulo, domingo, 15 de maio de 2005

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CAMPO MINADO

Marcha de 12 mil sem-teto percorre 200 km em duas semanas; atendimento a demandas é improvável

MST "invade" Brasília sem garantia de sucesso

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com suas principais reivindicações ao governo federal longe de serem atendidas, a marcha com 15 mil pessoas liderada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) chega hoje a Brasília, depois de percorrer 200 km em duas semanas.
A manifestação na Esplanada dos Ministérios está programada para terça-feira, mas o movimento ameaça estender o período em que permanecerá acampado por pelo menos mais sete dias, caso suas principais demandas não saiam do papel.
A chamada Marcha Nacional pela Reforma Agrária, que partiu de Goiânia no último dia 2, é o principal investimento do MST neste ano. É encarada como um instrumento de pressão política para que o Palácio do Planalto, enfim, passe a atender suas demandas acumuladas.
Desde o início da marcha, governo e MST têm conversado em torno da pauta de reivindicações. Avançou-se em pontos considerados periféricos, permanecendo sem resposta algumas das prioridades dos sem-terra, como o desbloqueio total do Orçamento da reforma agrária, a contratação de 4.000 novos servidores para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a criação de um novo crédito especial para assentados.

Metas
Até agora, o governo Luiz Inácio Lula da Silva não cumpriu nenhuma meta de assentamentos.
Em 2003, primeiro ano da gestão, o governo federal prometeu assentar 60 mil famílias, mas somente 36,8 mil foram atendidas. No ano passado, foram 81,2 mil famílias, diante de uma promessa de 115 mil. Até 2006, o Planalto prometeu assentar 400 mil famílias em todo o país.
"Temos certeza de que algumas coisas [reivindicações] vão avançar, por isso, a princípio, a nossa expectativa é deixar Brasília a partir da terça-feira à noite, depois do ato público [em frente ao Congresso]. Mas, caso não sejamos atendidos, temos estrutura para ficar acampados em Brasília por mais uma semana", afirmou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
No entanto, a pressão que o movimento exerce sobre o governo tem seus limites. De acordo com o que próprio coordenador nacional João Pedro Stedile admitiu, o MST não é "louco" de romper com o governo de Lula, considerado um aliado histórico.
Na cúpula dos sem-terra, aliás, tal discussão é freqüente: motivos para a ruptura não faltam, mas isso representaria um isolamento político impensável para o movimento, que ainda mantém o partido do presidente como aliado, pelo menos no discurso, e o Palácio do Planalto com as portas abertas, pelo menos no diálogo.
Na semana passada, mais um componente surgiu nessa relação. Defensor público dos sem-terra, mesmo diante dos apelos ruralistas de setores do governo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) recebeu como uma espécie de desprestígio pessoal a reivindicação do MST de vincular o Incra (hoje subordinado a Rossetto) à Presidência da República.

Pacote
Apesar disso, o ministério manteve o tema na pauta, tentando preparar um pacote de anúncios para a semana.
"É evidente que o governo federal se mexe mais com a chegada da marcha. A pressão faz com que o governo se organize. A pressão é muito grande porque a própria demanda pela reforma agrária também é muito grande", afirmou o presidente do Incra, Rolf Hackbart.
No início do ano, o governo bloqueou R$ 2 bilhões do Orçamento original do ministério de Rossetto (R$ 3,7 bilhões).
No mês passado, sob pressão dos sem-terra, houve a promessa de liberação de R$ 400 milhões, mas apenas R$ 250 milhões foram pagos até agora. Sobre isso, o presidente do Incra afirmou: "O presidente tem afirmado que não faltarão recursos para a reforma agrária, mas ainda não está definido quando isso vai ocorrer e quanto será destinado".

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