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CAMPO MINADO
Marcha de 12 mil sem-teto percorre 200 km em duas semanas; atendimento a demandas é improvável
MST "invade" Brasília sem garantia de sucesso
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com suas principais reivindicações ao governo federal longe de
serem atendidas, a marcha com
15 mil pessoas liderada pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) chega hoje a
Brasília, depois de percorrer 200
km em duas semanas.
A manifestação na Esplanada
dos Ministérios está programada
para terça-feira, mas o movimento ameaça estender o período em
que permanecerá acampado por
pelo menos mais sete dias, caso
suas principais demandas não
saiam do papel.
A chamada Marcha Nacional
pela Reforma Agrária, que partiu
de Goiânia no último dia 2, é o
principal investimento do MST
neste ano. É encarada como um
instrumento de pressão política
para que o Palácio do Planalto,
enfim, passe a atender suas demandas acumuladas.
Desde o início da marcha, governo e MST têm conversado em
torno da pauta de reivindicações.
Avançou-se em pontos considerados periféricos, permanecendo
sem resposta algumas das prioridades dos sem-terra, como o desbloqueio total do Orçamento da
reforma agrária, a contratação de
4.000 novos servidores para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a criação de um novo crédito especial
para assentados.
Metas
Até agora, o governo Luiz Inácio
Lula da Silva não cumpriu nenhuma meta de assentamentos.
Em 2003, primeiro ano da gestão, o governo federal prometeu
assentar 60 mil famílias, mas somente 36,8 mil foram atendidas.
No ano passado, foram 81,2 mil
famílias, diante de uma promessa
de 115 mil. Até 2006, o Planalto
prometeu assentar 400 mil famílias em todo o país.
"Temos certeza de que algumas
coisas [reivindicações] vão avançar, por isso, a princípio, a nossa
expectativa é deixar Brasília a partir da terça-feira à noite, depois do
ato público [em frente ao Congresso]. Mas, caso não sejamos
atendidos, temos estrutura para
ficar acampados em Brasília por
mais uma semana", afirmou João
Paulo Rodrigues, da coordenação
nacional do MST.
No entanto, a pressão que o movimento exerce sobre o governo
tem seus limites. De acordo com o
que próprio coordenador nacional João Pedro Stedile admitiu, o
MST não é "louco" de romper
com o governo de Lula, considerado um aliado histórico.
Na cúpula dos sem-terra, aliás,
tal discussão é freqüente: motivos
para a ruptura não faltam, mas isso representaria um isolamento
político impensável para o movimento, que ainda mantém o partido do presidente como aliado,
pelo menos no discurso, e o Palácio do Planalto com as portas
abertas, pelo menos no diálogo.
Na semana passada, mais um
componente surgiu nessa relação.
Defensor público dos sem-terra,
mesmo diante dos apelos ruralistas de setores do governo, o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) recebeu como uma espécie de desprestígio
pessoal a reivindicação do MST
de vincular o Incra (hoje subordinado a Rossetto) à Presidência da
República.
Pacote
Apesar disso, o ministério manteve o tema na pauta, tentando
preparar um pacote de anúncios
para a semana.
"É evidente que o governo federal se mexe mais com a chegada
da marcha. A pressão faz com que
o governo se organize. A pressão é
muito grande porque a própria
demanda pela reforma agrária
também é muito grande", afirmou o presidente do Incra, Rolf
Hackbart.
No início do ano, o governo bloqueou R$ 2 bilhões do Orçamento
original do ministério de Rossetto
(R$ 3,7 bilhões).
No mês passado, sob pressão
dos sem-terra, houve a promessa
de liberação de R$ 400 milhões,
mas apenas R$ 250 milhões foram
pagos até agora. Sobre isso, o presidente do Incra afirmou: "O presidente tem afirmado que não faltarão recursos para a reforma
agrária, mas ainda não está definido quando isso vai ocorrer e
quanto será destinado".
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