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QUESTÃO INDÍGENA
De acordo com a Polícia Federal, reservas de pelo menos quatro Estados cultivam e vendem a droga
Aldeias abrigam plantação de maconha
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARAME (MA)
Protegidas pela União, reservas
indígenas de pelo menos quatro
Estados -Maranhão, Pernambuco, Bahia e Pará- abrigam
parte do plantio de maconha no
Brasil, segundo a Polícia Federal.
Ao visitar aldeias da região central
do Maranhão, uma das regiões
com maior incidência da droga
no país segundo o órgão, a reportagem da Folha constatou que índios da etnia guajajara plantam e
vendem a droga. Eles também a
utilizam como entorpecente.
Para a Polícia Federal, o combate ao tráfico nessas regiões é mais
difícil, pela própria condição especial do indígena, protegido pela
Funai (Fundação Nacional do Índio) e por organizações não-governamentais.
"A preocupação é ainda maior
porque o não-índio procura as reservas por saber que ali ele tem
uma segurança maior. Então, há
um assédio para o índio plantar e
vender, muitas vezes ao próprio
traficante. Esse assédio nos preocupa e pode gerar violência", disse o delegado Ronaldo Urbano,
coordenador-geral de Prevenção
e Repressão a Entorpecentes da
Polícia Federal.
Para o cientista político Adriano
Oliveira, da UFPE (Universidade
Federal de Pernambuco), que
estuda o tráfico de drogas na
região do Polígono da Maconha,
em Pernambuco, é "hipocrisia
social" imaginar que o índio "é
usado" por não-índios para plantar a maconha.
"É a mesma relação do não-índio, econômica. O índio sabe que
a droga é muito mais lucrativa do
que qualquer outra coisa e planta
por isso", disse.
Lucro e miséria
Na região do Polígono, índios
da etnia truká são acusados de
plantar maconha em sua reserva,
na ilha da Assunção, no rio São
Francisco. Segundo a PF, a cada
quilo de cebola, os índios ganham
R$ 0,20. Com a mesma quantidade de maconha, chega a R$ 100.
Apesar dessa relação de lucro,
nas aldeias da reserva Araribóia,
em Arame (a 469 km de São Luís),
há muita miséria. Mesmo onde a
reportagem comprovou que há a
comercialização da maconha, as
casas são de taipa, cobertas de palha. Em outras, os índios admitiram apenas plantar para fumar.
"Aqui a gente não vende para maluco, não. Só planta um pouco para fumar mesmo", disse o cacique
Caetano Guajajara, 35, da aldeia
Lago Branco. Próximo a ele, um
outro índio, mais velho, fumava
um cigarro de maconha. Na aldeia, uma escola está inacabada e
não há energia elétrica.
Em outras aldeias dos guajajaras onde a Folha esteve, o assunto
"maconha" é tido como um tabu.
Quando perguntados sobre a
existência da droga, mesmo que
para uso medicinal, os índios começavam a falar entre si no dialeto local, incompreensível para a
reportagem. "Tem lugar que até
tem, mas aqui a gente não sabe de
nada, não", diziam em seguida.
Estimativa
Além de Maranhão e Pernambuco, Urbano afirma que há maconha em reservas indígenas na
Bahia e no Pará. A PF tem um mapa com esses locais, mas não faz
uma estimativa de quantos hectares estão com a erva plantada. "Os
índios misturam a maconha com
outras culturas, para dificultar a
visibilidade por helicóptero", disse o delegado Marcos Roberto dos
Santos, da PF do Maranhão.
Em cada hectare de terra (um ha
tem 10 mil m2), é possível plantar
de 30 mil a 50 mil pés da planta,
segundo ele. A última grande operação da PF nas aldeias indígenas
do Estado foi em 2003, quando foram apreendidos 500 kg de maconha pronta e uma tonelada de
maconha colhida. "Não pegamos
mais porque fomos depois da colheita. Foi um problema de calendário", disse. A época da colheita,
segundo ele, é entre o final de
março e o início de abril.
No ano passado, em Arame, outros 700 mil pés de maconha e outros 500 kg da droga pronta foram
encontrados em aldeias dos guajajaras, na região. Na ocasião, apenas um traficante, não-índio, foi
preso. No Maranhão, Estado tido
pela PF como o terceiro maior
produtor de maconha no país (está atrás apenas de Pernambuco e
Bahia), estima-se que 70% da droga esteja em terras indígenas.
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