São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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QUESTÃO INDÍGENA

Grupo invadiu fazenda e reivindica posse de área; outros três funcionários de estatal foram liberados anteontem

Índios libertam dois reféns no Tocantins

JOSÉ EDUARDO RONDON
VICTOR RAMOS
DA AGÊNCIA FOLHA

Dois oficiais de Justiça que foram feitos reféns por índios craôs-canelas no sábado em uma fazenda no município de Lagoa da Confusão (203 km de Palmas) foram liberados pelos indígenas no início da noite de ontem, de acordo com o superintendente da Polícia Federal do Tocantins, Ruben Paulo de Carvalho Patury Filho.
No domingo, três funcionários da Celtins (Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins) que também estavam sendo obrigados a permanecer na fazenda foram liberados pelo grupo.
Segundo Patury Filho, a liberação dos oficiais de Justiça aconteceu após negociação com a Polícia Federal acompanhada pelo procurador da República Álvaro Lotufo Monzano. Até o fechamento desta edição, os índios continuavam na sede da fazenda Planeta.
Os craôs-canelas invadiram a fazenda, de propriedade do grupo Gurupi Participações, na madrugada de quinta-feira. Eles alegam que aquela região é terra indígena e que foram expulsos de lá por fazendeiros na década de 70.
Conforme relato de funcionários da fazenda à polícia, os indígenas durante a invasão estavam armados com facões, arcos e flechas. Depois de a Justiça Estadual emitir um mandado de reintegração de posse da propriedade, os dois oficiais de Justiça foram até a fazenda. Chegando ao local, foram feitos reféns pelos índios.
Imagens gravadas no domingo pela Rede Globo mostram os dois oficiais de Justiça amarrados e com os olhos vendados. Na gravação, um dos líderes indígenas ameaçou matar os oficiais de Justiça e foi impedido por mulheres craôs-canelas. Outra ameaça feita pelos índios foi a de incendiar um carro com um oficial dentro.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) não reconhece a fazenda Planeta como pertencente aos craôs-canelas. Segundo a fundação, os estudos sobre a área estão em fase preliminar e nenhuma definição sobre o local pode ser dada no momento.
De acordo com a Funai, os índios canela, originários do Maranhão, e os índios craô, de Tocantins, não reconhecem os craôs-canelas como uma etnia.
Porém, ainda segundo a Funai, o Brasil é signatário de tratado internacional, feito em Genebra, que define que a existência de uma etnia indígena se dá por autodeterminação dos próprios índios, como nesse caso.
Para o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, não há nenhum dado que confirme que os índios estiveram no local anteriormente. Segundo ele, boa parte dos craôs-canelas são do Estado do Maranhão. "Não é possível os índios seqüestrarem gente numa área que não é nem reconhecida pela Funai." Para ele, os índios se precipitaram ao invadir a área.


Colaborou RAQUEL AÑÓN, da Agência Folha


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