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Pais ignoram indenização de soldado morto em 68
Família do praça Mário Kozel Filho tem direito a R$ 1.140 ao mês, mas não sabia
Kozel foi vítima de atentado feito por grupo VPR, ao qual pertencia a Carlos Lamarca; viúva do guerrilheiro recebe pensão dez vezes maior
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pais de Mário Kozel Filho,
morto em 1968 pelo grupo
guerrilheiro VPR (Vanguarda
Popular Revolucionária), do
qual o capitão Carlos Lamarca
fazia parte, têm direito a receber, desde 2003, pensão vitalícia e especial, reajustada em
2004 para R$ 1.140 por mês.
O valor inicial da pensão concedida pela União, após o reconhecimento de que ele foi "vítima direta de atentado promovido por motivações políticas",
era de R$ 330.
Mas foi somente ontem que o
aposentado Mário Kozel, 84, e
sua mulher, Therezinha Serra
Kozel, 79, souberam que têm
um saldo a receber de aproximadamente R$ 50 mil no Ministério da Previdência.
Os valores são bem inferiores
aos pagos à família de Lamarca.
A viúva do guerrilheiro recebia,
desde 1993, uma pensão de R$
9.963,98, o equivalente ao soldo de um coronel. Agora, foi
reajustada a R$ 12.152,61.
Ao contrário de Lamarca,
Kozel não fez carreira militar.
Ele estava de sentinela no
Quartel General do 2º Exército
quando foi atingido pela explosão de um carro-bomba, atentado assumido pela VPR.
O Exército nunca pagou uma
pensão porque Kozel Filho não
pertencia ao quadro efetivo do
órgão. "Ele tinha 17, 18 anos,
cumpria o serviço militar obrigatório. Não ia seguir a carreira
de militar. Ele sonhava em concluir o Exército e montar uma
oficina mecânica", disse o pai.
Em 2001, os ministros da
Justiça e da Previdência José
Gregori e Waldeck Ornélas,
respectivamente, solicitaram a
pensão especial por considerarem que "os pais de Mário Kozel Filho não foram indenizados pela tragédia ocorrida com
seu filho nem lhes foi possível
receber pensão, devido ao fato
de que ele não pertencia ao
quadro efetivo do Exército". A
lei foi aprovada em 2003.
"Nunca soube de nada disso.
E, se não nos avisaram, como é
que a gente poderia saber? Será
que é verdade? Sempre pedimos ajuda a todos, mas nunca
recebemos nada", disse Kozel,
ainda incrédulo sobre a lei.
Atualmente, a única fonte de
renda do casal é a aposentadoria do pai de Kozel - R$ 1.600
por mês -, que trabalhou numa
empresa de engenharia.
"Vi que a família de Lamarca
recebeu uma ajuda. R$ 300 mil,
né? Veja só... É assim mesmo. A
gente nem tem mais esperança
de um dia receber algo", disse
Therezinha. "Estamos cansados", completou o marido.
"São dois fatos diferentes.
Lamarca foi perseguido e morto pelo Estado. Kozel não cometeu nenhum crime político,
estava de plantão, e a família
deveria receber outro tipo de
indenização. Se não recebe, está errado", disse Belisário dos
Santos Jr., ex-secretário da
Justiça de São Paulo e especialista em direitos humanos.
A assessoria de imprensa do
Ministério da Previdência Social informou que, desde 2003,
o dinheiro está disponível para
o casal. Se não pedir de forma
oficial, por meio do INSS, o dinheiro não será pago.
"Não sei dizer se é certo a família de Lamarca ser indenizada ou não. Não sei direito dessas histórias, não gosto de política", disse o pai do soldado. O
casal disse que buscará ajuda
num posto do INSS.
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