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GOVERNO
Para ex-militar, há mentiras no inquérito que apurou supostas atividades subversivas do ex-padre Monteiro
Campelo inventou provas, diz ex-coronel
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza
O coronel reformado do Exército
Eduardo D'Almeida Campos Pereira Mota, 74, disse ontem que o
novo diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, inventou provas contra o professor e ex-padre José Antônio Magalhães
Monteiro no inquérito que presidiu em 1970, em São Luís.
O inquérito foi aberto após a prisão de Monteiro, em 3 de agosto de
1970, em Urbano Santos (MA). Para acusá-lo, Campelo baseou-se no
depoimento prestado pelo ex-padre nas dependências da PF.
No depoimento, Monteiro teria
confessado que era militante da AP
(Ação Popular), organização de esquerda que atuou nos anos 60 e 70.
O ex-padre afirma que foi torturado enquanto era interrogado por
Campelo -que nega a acusação.
Um dia após a prisão de Monteiro, Campelo prendeu o padre Xavier Gilles, atual bispo de Viana
(MA). No inquérito, Gilles foi indiciado junto com Monteiro sob a
acusação de atentarem contra a Lei
de Segurança Nacional.
Para comprovar a ligação de Gilles e Monteiro com a Ação Popular, Campelo citou livros ""subversivos" supostamente encontrados
nas casas dos dois acusados.
Mota disse que a citação dos livros ""foi uma invenção" de Campelo. ""A maior parte dos livros que
foram achados nas casas dos padres foi dada por mim e não tinha
nada de subversiva. Eram da coleção da Biblioteca do Exército Editora, que na época tinha um programa de doação de livros", diz.
Na época em que foi preso, Monteiro era padre e diretor de uma escola em Urbano Santos. Gilles era
vigário da vizinha cidade de São
Benedito do Rio Preto. Os dois
eram amigos e participavam de
Comunidades Eclesiais de Base.
Mota era tenente-coronel do
Exército e servia no 24º Batalhão,
em São Luís (MA). Ele diz que conhecia os dois religiosos porque
sua mulher é de Urbano Santos e
viajavam constantemente para lá.
""Esse inquérito foi uma barbaridade, de tão malfeito. Os padres
não exerciam atividades subversivas", afirma Mota, que diz não saber se Monteiro foi torturado.
Hoje na reserva, Mota foi uma
das quatro testemunhas arroladas
no processo que a Justiça Militar
montou com base na acusação feita por Campelo. Monteiro e Gilles
foram absolvidos porque Campelo
não apresentou provas e porque as
testemunhas disseram que foram
coagidas durante o inquérito.
""As acusações eram tão levianas,que os juízes militares julgaram o caso rapidamente e mandaram o Ministério da Justiça investigar as denúncias das testemunhas", declara Mota.
A tabeliã Rosalina Costa Araújo,
66, arrolada por Campelo como
testemunha, disse à Agência Folha
que não sabe por que foi escolhida
para acusar os padres. ""Fui presa
pela PF junto com Monteiro porque diziam que eu era secretária da
paróquia. Fui acusada de ser subversiva sem nem saber o que era isso e depois fui escolhida como testemunha de acusação", disse.
Outro ponto observado por Mota é a acusação de que Gilles teria
apoiado guerrilheiros da Argélia
contra o domínio colonial francês.
""O homem era oficial do Exército francês e foi ferido combatendo
os guerrilheiros", afirma.
CNBB
O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
d. Raymundo Damasceno, disse
que "uma pessoa que participou
de uma sessão de tortura, ou a presenciou e foi conivente, não deve
ocupar cargo de responsabilidade
num regime democrático". Segundo ele, o assunto só vai ser discutido pela CNBB na semana que vem,
durante reunião ordinária.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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