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Roriz favoreceu empresas de transporte de Constantino
Em seu governo no DF, três famílias receberam concessões de ônibus sem licitação
Empresas de viação ligadas
a Constantino, que diz ter
emprestado dinheiro a
peemedebista, controlam
36% da frota em circulação
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Primeiro congressista a renunciar ao mandato na atual legislatura sob suspeita de ter recebido propina do empresário
Nenê Constantino, presidente
do Conselho de Administração
da Gol, o ex-senador Joaquim
Roriz (PMDB) concedeu vários
benefícios às empresas que
controlam o transporte público
urbano no Distrito Federal, entre elas as viações da família de
Constantino, donas de 36% da
frota em circulação.
Quando comandou o governo do DF -de 1988 a 1990, de
1991 a 1994 e de 1999 a 2006-,
Roriz permitiu que três famílias mantivessem o domínio sobre cerca de 80% das concessões pois resistiu à realização
de licitações expressivas, chegando a ignorar recomendações sucessivas do Ministério
Público e até mesmo uma decisão judicial.
"O resultado não poderia ser
outro: cartelização, ausência
total de competitividade, extorsivas tarifas, serviços precários e deficientes. (...) O que vemos hoje no Distrito Federal é
um cenário absurdo de verdadeira encampação do serviço
de transporte coletivo pelas
atuais empresas permissionárias, (...) observando-se que no
caso concreto é a administração [pública] quem se dobra à
vontade de seus contratados,
agindo conforme a vontade
destes", dizem duas ações civis
públicas movidas pelo Ministério Público do Distrito Federal.
Estudo do Ministério das Cidades mostra que Brasília saltou de capital com tarifa de ônibus mais barata, em 1994, para
a terceira mais cara, em 2003.
Roriz renunciou ao mandato
de senador no último dia 4
diante da repercussão da gravação telefônica em que ele discute a partilha de um cheque de
R$ 2,23 milhões.
Nenê Constantino assumiu a
paternidade do cheque, mas,
assim como Roriz, disse que o
peemedebista ficou com apenas R$ 300 mil, a título de empréstimo.
Até agora, o Ministério Público do Distrito Federal trabalha com a hipótese de que a motivação para o repasse do cheque pode ter sido a venda de um
terreno em Brasília que teria se
valorizado em R$ 72 milhões
após aprovação de lei por aliados de Roriz. O terreno pertence hoje a empresa que tem Nenê como um dos investidores.
"Piratas"
Segundo dados do Ministério
Público, o controle das catracas
em Brasília pertence a três famílias. Nenê Constantino, 76,
delegou às filhas e genros o comando da viação Planeta e de
pelo menos outras três, com
controle de 36% da frota no
Distrito Federal.
Victor Foresti, genro de
Constantino, é vice-presidente
do Setransp, o sindicato das
empresas de transporte público do DF. De acordo com o Ministério Público, só a Planeta
tem uma dívida previdenciária
de R$ 108 milhões.
Já Wagner Canhedo -da
companhia aérea Vasp- tem o
filho Wagner Canhedo Azevedo Filho como presidente da
Setransp e dono da Viplan e da
Condor, com 30% da frota. As
empresas da família do ex-senador Valmir Amaral, suplente
do senador cassado Luiz Estevão, possuem 13% da frota.
Dos 1.882 ônibus sob o controle das três famílias, apenas
251 (13% do total) rodam em
Brasília graças a licitação realizada. Os outros ganharam a
permissão por ato administrativo de governos do DF.
Em 2001, quatro promotores
do Ministério Público ingressaram com ação civil pública pedindo a realização de licitação
para todo o sistema, mas a ação
está desde então na 4ª Vara da
Fazenda Pública.
Em agosto de 2005, nova
ação civil pública assinada por
outros cinco procuradores e
promotores obteve sucesso resultou em uma liminar do Tribunal de Justiça invalidando lei
distrital que prorrogava as permissões, sem licitação, até
2010. A decisão, porém, não resultou em nenhuma modificação prática até hoje.
"Nem assim o governo fez a
licitação. Há uma conivência do
Executivo, do Legislativo, e o
Judiciário não está respondendo como deveria à situação",
afirma a procuradora distrital
dos Direitos do Cidadão, Ruth
Kicis Torrents Pereira, que
completa: "Não vejo diferença
entre essas empresas do chamado sistema convencional e
as piratas. Elas são tão piratas
quanto as outras".
Desmonte
A gestão Roriz também
transferiu, em 2001, para o Setransp a responsabilidade por
gerenciar o sistema de vales-transportes. Entre outras coisas, as empresas até hoje não
repassam ao poder público a taxa de 3,85% sobre a tarifa, o que
sucateou o órgão responsável
pela fiscalização e controle do
transporte público.
A Delegacia de Combate ao
Crime Organizado investiga
acusação de fiscais do governo
segundo as quais as poucas
multas aplicadas às empresas
pelos órgãos públicos jamais
foram cobradas.
Em 2005 e 2006, Roriz baixou ainda dois decretos, um
isentando as empresas de
transporte público do pagamento de ISS (Imposto sobre
Serviços). De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos,
apenas São Paulo, além do Distrito Federal, concede tal isenção. O outro decreto isentou o
pagamento do primeiro IPVA
(Imposto sobre a Propriedade
de Veículos Automotores) para
os novos ônibus adquiridos.
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