São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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PSDB de SP busca no PT justificativa para enterro de CPI

Ao impedir a instalação da CPI da CDHU, presidente da Assembléia diz que agiu como João Paulo Cunha (PT-SP)

Quando era presidente da Câmara, o petista também arquivou CPIs pedidas na legislatura passada; tucanos negam constrangimento

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A articulação do PSDB de São Paulo pelo engavetamento da CPI da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) tem exigido malabarismo do comando do partido para responder a uma provocação petista: de que os tucanos não praticam o seu discurso.
Para constranger a oposição, o presidente da Assembléia Legislativa, Vaz de Lima (PSDB), chegou a recorrer ao exemplo do petista João Paulo Cunha (SP) para dar como arquivada a CPI da Nossa Caixa. Ele também citou o ex-presidente da Câmara para explicar a adoção da ordem cronológica de instalação das CPIs, critério que deixou a da CDHU (15ª da fila) para o segundo semestre de 2008.
Questionado em fevereiro de 2003, João Paulo deu por arquivados os requerimentos de CPIs apresentados na Legislatura anterior e defendia a fila de apresentação para a instalação de futuras CPIs.
O líder do governo na Assembléia, Barros Munhoz (PSDB), exibiu em plenário reportagens sobre eventual desvio de recursos do governo federal para responder às acusações de irregularidades na CDHU. "Quando, lá em Brasília, eles usam regimento em favor deles, isso vale. Quando uso o regimento, não a favor de ninguém, mas a favor da justiça, não serve?", disse Vaz.
A evocação das práticas petistas não deixa de ser um incômodo para a bancada federal do PSDB, que tenta se apresentar como uma alternativa ao governo federal. Relatora do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Marisa Serrano (PSDB-MS) defende que o PSDB "mostre uma face ética e se credencie como alternativa confiável".
"Tenho certeza que Serra mostrará isso em São Paulo, assim como Aécio tem mostrado em Minas", diz a senadora.
"Se tiver coisa errada, tem que investigar", acrescenta ela.
"Não somos iguais ao PT", insiste o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio, segundo quem a diferença é que os petistas temem os resultado das investigações. Já os tucanos não gostam dos distúrbios provocados por CPI. "Nenhum governo gosta de CPI."
Os tucanos reagem às provocações do PT paulista, de que o PSDB tem um discurso em Brasília e outra prática em São Paulo. "Aqui, eles não querem CPI de jeito nenhum. Nem precisa sair do Estado", alfineta o petista Rui Falcão, lembrando que, na gestão de Marta Suplicy, o PSDB pregava a instalação de CPIs no município, mas rechaçava na Alesp.
Cotado para assumir a presidência nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) diz: "O PSDB não é o partido das CPIs. No Senado, estamos fazendo a nossa obrigação."
A senadora Lúcia Vânia (GO) alega que não se deve comparar uma questão local com um problema no Congresso Nacional. "A Assembléia é uma questão localizada."
Vaz de Lima repele qualquer comparação de sua decisão com a estratégia de defesa de Renan. "Querer fazer uma vinculação disso com o que está ocorrendo no Senado não tem nada a ver. No máximo, o que pode querer é comparar iguais. Comparar a obstrução que eles tentaram e tentam fazer com a CPI do Apagão lá com a CPI daqui é um bom intento. Agora, até misturar com o Renan, há quilômetros de distância."
Ele diz que não tem culpa se os petistas não conseguiram reunir número suficiente para instalação da CPI da CDHU antes de outras 14. "Entre o que eles querem e o possível, há uma distância enorme."


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