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Ciro discute com banqueiros em jantar
ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO
Em jantar fechado para 35 empresários, vários deles do setor financeiro, realizado anteontem
em São Paulo, o candidato do PPS
à Presidência da República, Ciro
Gomes, se negou a apresentar garantias para acalmar o mercado.
Também afirmou que não
anunciaria quais seriam os integrantes de sua equipe de governo
em caso de ganhar a disputa.
"Estou me lixando para o mercado", afirmou Ciro no ponto
mais tenso do jantar. Segundo
presentes ao encontro ouvidos
pela Folha, grande parte dos empresários ficou surpresa diante da
atitude do candidato.
Indagado sobre os eventuais integrantes da sua equipe de governo, Ciro desconversou: "Só se eu
não tivesse a experiência que tenho para falar disso agora. Eu não
sei nem se vou ser eleito".
Participantes relataram à Folha
que Ciro deixou como saldo um
sentimento de desconfiança em
relação a seu eventual governo.
Quando o clima estava tenso, o
anfitrião, Ricardo Steinbruch,
presidente do Conselho de Administração da Vicunha Têxtil, levantou-se e convidou os presentes para a sobremesa.
Já com a temperatura mais baixa, numa pequena roda de empresários, ao ser questionado se o
tucano Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, teria papel central em um eventual governo, Ciro Gomes não desmentiu.
No encontro -que reuniu banqueiros nacionais e estrangeiros,
empresários do setor têxtil, de
brinquedos, de exportação, entre
outros-, diante da insistência na
mesma linha de perguntas, Ciro
declarou que tinha a oferecer a
quem quer que fosse seu passado,
sua história, seu desempenho como governador do Ceará, cargo
no qual teria produzido o maior
superávit do Estado.
Lista vip
Ricardo Steinbruch, cujos negócios têm o Ceará como uma base
importante de atuação, ofereceu o
jantar no jardim de sua casa, no
Jardim América, bairro nobre de
São Paulo. Entre os convidados
estavam os irmãos Joseph e Moise
Safra, do Banco Safra, Carlos Tilkian, da Estrela, Paulo Skaf, da
Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Israel Vainboin, diretor-presidente da Unibanco-Holdings, Miguel Jorge, pelo banco
Santander, Jacques Rabinovitch,
do grupo Vicunha, Paulo Periquito, da Multibrás, Osmar Zogbi, da
Ripasa, e um representante do Citibank. Ciro já conhecia a maioria
dos integrantes do jantar.
Depois dos cumprimentos de
chegada, apresentou sua proposta
para fazer o país crescer: reforma
tributária, reforma previdenciária, do que viria uma queda natural dos juros e a possibilidade de
alongar da dívida interna.
Agradou aos empresários ao indicar que sua proposta de reforma tributária passa por desonerar
a produção. Mas deixou dúvidas
sobre como seria a contrapartida,
de tributar com mais ênfase os ganhos de capital e propriedade.
Quanto ao acordo com o FMI,
fechado na semana passada, e que
prevê uma injeção de US$ 30 bilhões na economia brasileira, Ciro
afirmou que não havia outro caminho para o país.
Mas fez questão de lembrar que
em 1998, em campanha para o
Planalto, teria avisado que o câmbio estouraria. Deu a atender que
os presentes não haviam prestado
atenção aos avisos que dera quatro anos atrás, também como candidato à Presidência.
Em grupos menores, nas rodas
de conversa depois do jantar, o
presidenciável elogiou a atuação
do presidente do Banco Central,
Armínio Fraga.
Ainda assim, o tom ríspido do
candidato no final acabou marcando o encontro.
"Eu não me domesticarei. Mas
tenho um compromisso de vida
com a austeridade fiscal, com a estabilidade da moeda, com o respeito aos contratos e com a responsabilidade fiscal. Eu não vou
dar calote", disse Ciro.
"Casa linda"
O jantar, no qual foram servidos
coquetel quente, peixe grelhado
com salada, frutas e sorvete de sobremesa, foi organizado pelo deputado Emerson Kapaz (PPS-SP),
que há três meses já havia propiciado evento semelhante em sua
casa, em São Paulo.
A atriz Patrícia Pillar, namorada
de Ciro, estava presente. Achou a
casa "linda" e circulou pelos ambientes para conhecer o local. Os
elogios se repetiram na equipe
que acompanha Ciro -que só estranhou a quantidade de detectores de metais e seguranças.
Não se falou em contribuições
eleitorais, mas o trio encarregado
da missão de arrecadar recursos
para Ciro estava presente: o deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), o empresário Márcio Lacerda e Lúcio Gomes, irmão de Ciro.
Houve insistência para que o
candidato explicitasse quem seria
sua equipe de governo em caso de
vitória. Mares Guia encerrou o assunto: "Ora, um homem que escolhe Patrícia Pillar como mulher
não vai saber escolher uma equipe de governo?".
No mês passado, Ciro também
foi recebido para jantar com empresários em São Paulo. O anfitrião foi Flávio Rocha, do grupo
Riachuelo-Guararapes.
Colaboraram GABRIELA ATHIAS, da Reportagem Local, e GUILHERME BARROS, editor do Painel S.A.
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