São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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Ciro discute com banqueiros em jantar

ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO

Em jantar fechado para 35 empresários, vários deles do setor financeiro, realizado anteontem em São Paulo, o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, se negou a apresentar garantias para acalmar o mercado.
Também afirmou que não anunciaria quais seriam os integrantes de sua equipe de governo em caso de ganhar a disputa.
"Estou me lixando para o mercado", afirmou Ciro no ponto mais tenso do jantar. Segundo presentes ao encontro ouvidos pela Folha, grande parte dos empresários ficou surpresa diante da atitude do candidato.
Indagado sobre os eventuais integrantes da sua equipe de governo, Ciro desconversou: "Só se eu não tivesse a experiência que tenho para falar disso agora. Eu não sei nem se vou ser eleito".
Participantes relataram à Folha que Ciro deixou como saldo um sentimento de desconfiança em relação a seu eventual governo.
Quando o clima estava tenso, o anfitrião, Ricardo Steinbruch, presidente do Conselho de Administração da Vicunha Têxtil, levantou-se e convidou os presentes para a sobremesa.
Já com a temperatura mais baixa, numa pequena roda de empresários, ao ser questionado se o tucano Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, teria papel central em um eventual governo, Ciro Gomes não desmentiu.
No encontro -que reuniu banqueiros nacionais e estrangeiros, empresários do setor têxtil, de brinquedos, de exportação, entre outros-, diante da insistência na mesma linha de perguntas, Ciro declarou que tinha a oferecer a quem quer que fosse seu passado, sua história, seu desempenho como governador do Ceará, cargo no qual teria produzido o maior superávit do Estado.

Lista vip
Ricardo Steinbruch, cujos negócios têm o Ceará como uma base importante de atuação, ofereceu o jantar no jardim de sua casa, no Jardim América, bairro nobre de São Paulo. Entre os convidados estavam os irmãos Joseph e Moise Safra, do Banco Safra, Carlos Tilkian, da Estrela, Paulo Skaf, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Israel Vainboin, diretor-presidente da Unibanco-Holdings, Miguel Jorge, pelo banco Santander, Jacques Rabinovitch, do grupo Vicunha, Paulo Periquito, da Multibrás, Osmar Zogbi, da Ripasa, e um representante do Citibank. Ciro já conhecia a maioria dos integrantes do jantar.
Depois dos cumprimentos de chegada, apresentou sua proposta para fazer o país crescer: reforma tributária, reforma previdenciária, do que viria uma queda natural dos juros e a possibilidade de alongar da dívida interna.
Agradou aos empresários ao indicar que sua proposta de reforma tributária passa por desonerar a produção. Mas deixou dúvidas sobre como seria a contrapartida, de tributar com mais ênfase os ganhos de capital e propriedade.
Quanto ao acordo com o FMI, fechado na semana passada, e que prevê uma injeção de US$ 30 bilhões na economia brasileira, Ciro afirmou que não havia outro caminho para o país.
Mas fez questão de lembrar que em 1998, em campanha para o Planalto, teria avisado que o câmbio estouraria. Deu a atender que os presentes não haviam prestado atenção aos avisos que dera quatro anos atrás, também como candidato à Presidência.
Em grupos menores, nas rodas de conversa depois do jantar, o presidenciável elogiou a atuação do presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Ainda assim, o tom ríspido do candidato no final acabou marcando o encontro.
"Eu não me domesticarei. Mas tenho um compromisso de vida com a austeridade fiscal, com a estabilidade da moeda, com o respeito aos contratos e com a responsabilidade fiscal. Eu não vou dar calote", disse Ciro.

"Casa linda"
O jantar, no qual foram servidos coquetel quente, peixe grelhado com salada, frutas e sorvete de sobremesa, foi organizado pelo deputado Emerson Kapaz (PPS-SP), que há três meses já havia propiciado evento semelhante em sua casa, em São Paulo.
A atriz Patrícia Pillar, namorada de Ciro, estava presente. Achou a casa "linda" e circulou pelos ambientes para conhecer o local. Os elogios se repetiram na equipe que acompanha Ciro -que só estranhou a quantidade de detectores de metais e seguranças.
Não se falou em contribuições eleitorais, mas o trio encarregado da missão de arrecadar recursos para Ciro estava presente: o deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), o empresário Márcio Lacerda e Lúcio Gomes, irmão de Ciro.
Houve insistência para que o candidato explicitasse quem seria sua equipe de governo em caso de vitória. Mares Guia encerrou o assunto: "Ora, um homem que escolhe Patrícia Pillar como mulher não vai saber escolher uma equipe de governo?".
No mês passado, Ciro também foi recebido para jantar com empresários em São Paulo. O anfitrião foi Flávio Rocha, do grupo Riachuelo-Guararapes.


Colaboraram GABRIELA ATHIAS, da Reportagem Local, e GUILHERME BARROS, editor do Painel S.A.



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