São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Mudança de direção

O silêncio quase total sobre a propriedade de uma empresa não declarada por José Serra, que a Folha publicou ontem, resultou de uma operação desfechada na sexta-feira sobre outras redações detentoras da informações semelhantes. O bem sucedido propósito de obter proteção global para o candidato governista completou-se com a inflexão crítica, estimulada por comentário de Fernando Henrique Cardoso, dada ao encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com militares (reformados) e civis da Fundação de Altos Estudos Estratégicos.
A significação imediata da descoberta não está propriamente na omissão às declarações de bens de José Serra à Justiça Eleitoral, nas suas candidaturas ao Senado em 1994, à prefeitura paulistana em 1996 e agora à Presidência. A importância que a omissão tenha, ou não, depende de certos fatores ainda não conhecidos, como a real atividade e o faturamento da empresa, por exemplo.
Mas a constatação da propriedade oferece à disputa eleitoral a prova de ligação maior do que a admitida por José Serra com seu parente afim Gregório Marin Preciado. A empresa de Serra foi instalada em prédio de uma das empresas de Marin favorecidas por Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor do Banco do Brasil e arrecadador de fundos para as campanhas de José Serra e de Fernando Henrique Cardoso.
Enquanto dizia querer apenas o debate de idéias, José Serra lançou a disputa eleitoral no que alguns têm chamado de "desconstrução" do adversário, à qual é atribuída a queda de Ciro Gomes, com a consequente subida do próprio Serra. A propósito, a passagem de Serra pelo Rio, na sexta-feira, antecipou de um dia o vendaval previsto pela meteorologia para sábado: foram rajadas de ataque para todos os lados. Exceto para os militares, elogiados pela "capacidade científica e tecnológica" e agraciados com a promessa de incremento da indústria de material bélico para uso interno e para venda pelo mundo afora.
A empresa de José Serra ameaça aumentar o grau de "desconstrução" na campanha eleitoral. Agora, sob nova direção.

Pressão
Os serviços de informação, mesmo que não sejam os oficiais, estão ativos.
Fernando Henrique Cardoso valeu-se pessoalmente do telefone, na quarta-feira, para obter que determinada reportagem não fosse publicada. Isso, enquanto a reportagem ainda estava no estágio de apurar e avaliar dados relativos a uma transação imobiliária de José Serra.
Haveria modos bem menos comprometedores de usar a Presidência da República na campanha eleitoral. Ainda mais por parte de quem tanto fala na lisura das atuais eleições.

Permuta
Há sinais de negociações para uma novidade na composição do Supremo Tribunal Federal. Um ministro que cairia na aposentadoria compulsória durante o mandato do próximo presidente pediria, agora, seu afastamento. Como compensação, receberia uma embaixada, de preferência em país de idioma português.
Aberta a vaga, seria nomeado um reforço para a bancada do governo no STF -o nome mais falado é o do procurador-geral Geraldo Brindeiro. Com isso, ficaria impossibilitada a nomeação, pelo futuro presidente, de alguém que fizesse apreciação apenas jurídica de ações judiciais que podem chegar ao tribunal contra Fernando Henrique.


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