São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Empresário apresenta à Polícia Federal o que considera prova de pagamento de propina ao presidente da Câmara dos Deputados

Secretária de Severino sacou cheque de Buani

MARTA SALOMON
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cópia de um cheque de R$ 7.500 nominal a Gabriela Kênia da Silva Santos Martins, uma das secretárias do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), foi apresentada ontem à Polícia Federal pelo empresário Sebastião Buani como prova da propina paga ao atual presidente da Câmara em 2002 e 2003.
Em troca do pagamento, o empresário teria obtido a prorrogação da licença para explorar o restaurante da Câmara, além de um reajuste nos preços cobrados pelas refeições.
Assinatura no verso do cheque mostra que o dinheiro foi sacado pela própria secretária em 30 julho de 2002, data que obrigou o empresário a reformular a versão que oferecia até aqui para os pagamentos a Severino. Buani disse que precisará refletir melhor sobre o valor total da propina paga ao deputado. "Com certeza, a conta total está sujeita a alteração." Ontem, ele não quis arriscar um número.
Na versão anterior do empresário, Severino Cavalcanti teria recebido cerca de R$ 110 mil. Além de um pagamento inicial de R$ 40 mil em abril de 2002 -cujo saque seria o que aparece em extrato bancário divulgado anteriormente por Buani-, haveria parcelas mensais pagas entre março e novembro de 2003.
"A história do mensalinho é anterior ao que eu imaginava", consertou Buani. "O que eu sofri de pressões para pagar esse dinheiro mensal não correspondia a apenas cinco ou seis meses. O meu calvário durou mais do que isso. A partir do momento em que eu cedi, em abril de 2002, eu abri a porteira", relatou.

Severino
Apesar de rever pontos importantes da versão que apresentara havia menos de uma semana, Sebastião Buani descreveu com detalhes a cena na qual o próprio Severino Cavalcanti teria recebido o cheque, cuja cópia foi divulgada ontem. "Esse cheque foi entregue ao deputado no restaurante. Ele ia quase diariamente almoçar e ali ele dava o aperto", contou. "Aperto?", questionaram os jornalistas. "Ele sempre dava um toque. Não deixa de ser um arrocho", contou o empresário.
Buani teria alegado dificuldades para honrar o pagamento em julho, mês de férias no Congresso e de baixa frequência no restaurante. "Você tira da sua conta na Suíça", teria respondido Severino.
Embora a primeira versão do dono de restaurante apontasse um motorista de Severino Cavalcanti como sacador de uma das parcelas do mensalinho, Sebastião Buani afirmou que não tem outra prova dos pagamentos ao deputado além do cheque endossado pela secretária Gabriela Kênia da Silva Santos Martins.
"Foi uma surpresa [encontrar o cheque em nome da secretária naquela data]", disse o empresário, que pedira na segunda-feira cópias de vários cheques à agência bancária na qual tem conta.
Durante a entrevista na sede da Polícia Federal em Brasília, Buani se antecipou a uma eventual defesa de Severino Cavalcanti. Descartou a hipótese de ter emprestado dinheiro à secretária e lembrou que Gabriela, ouvida pela PF na última sexta-feira, negara o recebimento de dinheiro. "Ela negou peremptoriamente que tivesse recebido um tostão meu", insistiu.
"Se, com tudo isso, eu tiver de provar mais alguma coisa, não acredito mais nesse país", comentou o empresário pouco antes de deixar a PF com outra preocupação: tentar evitar a perda da licença para operar o restaurante localizado no décimo andar da Câmara dos Deputados. Ontem era o último dia para pagar o aluguel. Sem o dinheiro, Buani nem terá nem como pleitear a renovação do contrato. "Sem o dinheiro, acabou o negócio", disse o advogado Sebastião Coelho da Silva

"Ofertas"
Coube ao advogado revelar que Sebastião Buani recebera pressões e "ofertas" para que não levasse a história do pagamento da propina adiante. "No compromisso dele com a verdade, ele [Buani] recusou todas", contou o advogado logo no início da entrevista do empresário.
"Não é o momento de falar sobre isso ainda", esquivou-se Buani. Ele admitiu, no entanto, ter recebido pressões entre a publicação das denúncias e o feriado de Sete de Setembro, quando resolveu confirmar os pagamentos ao deputado Severino Cavalcanti.
De acordo com um ponto comum da versão que vem contando desde então, o empresário nega ter pago propina ao atual presidente da Câmara. Buani insiste em que foi extorquido por Severino. Ontem, mais uma vez, o empresário recusou para si o papel de corrupto. "Eu nunca corrompi ninguém. Corruptor é aquele que pega dinheiro e diz: "estou trazendo esse dinheiro aqui para o sr. fazer isso para mim", e eu não fiz isso", disse.
Questionado se esperava que Severino Cavalcanti perca o mandato, Buani negou que tivesse intenção de atingir politicamente o deputado. "Politicamente, sei que vai dar uma reviravolta. Quero que a justiça de Deus e que os parlamentares decidam o que vão fazer", completou.


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