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MEMÓRIA
Lincoln Gordon, embaixador norte-americano em 1964, escreve um livro sobre o Brasil
Saiba quem foram os personagens da relação entre os EUA e Jango
do colunista da Folha
Conheça os personagens da par
ticipação norte-americana no gol
pe de 64:
João Goulart: Tinha 45 anos em
1964. Assumiu a Presidência em
1961, depois da renúncia de Jânio
Quadros.
Lançado na política por Getúlio
Vargas, formou sua base nos sindi
catos e na máquina da Previdência
Social. Nos últimos meses de 1963,
infletiu seu governo para a esquer
da. Teve cinco ministros da Fazen
da (com uma média de permanên
cia no cargo de seis meses) e acele
rou a inflação.
Surpreendido pelo golpe, não
lhe deu combate e quatro dias de
pois se exilou no Uruguai. Era um
rico fazendeiro e tentou regressar
discretamente ao Brasil em diver
sas ocasiões. Os generais avisa
ram-no que, se o fizesse, seria pre
so. Até 1976 negavam-lhe até mes
mo o passaporte.
Era cardíaco e morreu numa de
suas fazendas, na Argentina, em
1976. Está enterrado em São Borja
(RS), a poucos metros de Vargas.
Lyndon Johnson: Assumiu a Pre
sidência dos Estados Unidos em
outubro de 1962, depois do assas
sinato de John Kennedy.
Herdou de seu antecessor uma
política que previa a possibilidade
de um golpe militar no Brasil. Sua
presidência foi engrandecida pelo
esforço para acabar com a discri
minação racial e pelas iniciativas
que tomou na área social.
Destruiu-se porque aprofundou
a intervenção americana no Viet
nã. Diante das manifestações po
pulares contra a guerra, desistiu da
reeleição. Morreu em 1973, achan
do que as caixas com gravações de
suas conversas telefônicas só se
riam abertas em 2.023.
Lincoln Gordon: Professor da
Universidade de Harvard, foi man
dado por Kennedy para a embaixa
da no Rio dentro do mesmo espíri
to que levou o economista John
Kenneth Galbraith à Índia. Tinha
50 anos e um passado de prodígio.
Entrou na universidade aos 17
anos, graduou-se aos 20 e aos 23
concluiu sua tese de doutorado em
Oxford, para onde foi com a mes
ma bolsa de estudos que anos de
pois beneficiou Bill Clinton.
Chegou ao Brasil quando Jango
já estava no governo. Aprendeu a
falar fluentemente o português e
circulava com absoluta desenvol
tura. Depois da queda de Jango,
atribuíram-lhe tamanha influência
que se tornou perseguido por uma
piada: "Chega de intermediários,
Gordon para presidente".
Aos 84 anos, é viciado em tênis e
capaz de se lembrar o nome do fil
me que viu na tarde do dia 28 de
março de 1964: "Lawrence da Ará
bia", no cinema Vitória. É pesqui
sador do Brookings Institution, um
renomado centro de pesquisas de
Washington, e está escrevendo o
sexto capítulo de um livro sobre o
Brasil.
Vernon Walters: Alto, desengon
çado e fluente em nove idiomas
(inclusive português), tinha 45
anos e era o adido militar america
no no Rio em 1964. Chegou ao Bra
sil em 1963, contra sua vontade.
Tinha sido o oficial de ligação en
tre o comando americano e a Força
Expedicionária Brasileira na Itália.
Era amigo do general Castello
Branco e tratava os mais podero
sos generais brasileiros de "você"
(inclusive os janguistas, cuja ami
zade procurou preservar).
Depois que deixou o Brasil, viveu
incríveis aventuras. Escondia em
seu apartamento de Paris o secre
tário de estado Henry Kissinger
quando ele negociava secreta
mente a paz do Vietnã. Em 1973,
como subchefe da CIA (Central In
telligence Agency), recusou-se a
falsificar uma cobertura que pode
ria vir a paralisar as investigações
do Caso Watergate. Disso resultou
um processo que terminou na de
posição de seu amigo Richard Ni
xon da Presidência dos EUA.
Teve o supremo prazer do anti
comunista: assistiu a queda do
Muro de Berlim como embaixador
na Alemanha. Vive hoje entre Palm
Beach e Washington. Na semana
passada, estava na China.
Herbert Okun: Chegou ao consu
lado americano em Belo Horizonte
com 33 anos, no final de 1963. Um
ano antes, vivera em Moscou a cri
se dos mísseis soviéticos instala
dos em Cuba. Foi o tradutor de to
da a correspondência secreta man
tida pelo presidente Kennedy com
o líder soviético Nikita Kruschev.
Morava na rua Tomé de Souza
com a mulher, dois filhos e uma
coleção de discos de Vinícius de
Moraes e do Quarteto em Cy que
guarda até hoje. Em 1965, foi pro
movido e chefiou a representação
americana em Brasília. Mais tarde,
foi o vice-embaixador americano
nas Nações Unidas. Está aposenta
do, vive em Nova York e mantém
sua fluência em português.
Niles Bond: O cônsul americano
em São Paulo em 1964 já morreu.
Continuou no posto até 1968 e se
aposentou anos depois. Era ho
mem de maneiras gentis e hábitos
elegantes. Dedicou-se a escrever
poesias. Seus telegramas tinham
um certo estilo.
Na noite de 31 de março, infor
mou ao Departamento de Estado:
"São Paulo está calma nesta noite,
sem qualquer sinal de que a hora
da luta pela sobrevivência demo
crática do Brasil pode ter chega
do".
Robert Dean: Chefiava a repre
sentação da embaixada em Brasí
lia. Casado com uma sobrinha do
deputado Herbert Levy, transitava
bem no Congresso e frequentava
jornalistas.
A certa altura, chegou a acreditar
que o golpe tinha virado pizza.
Tornou-se chefe da seção brasilei
ra no Departamento de Estado e
mais tarde foi nomeado embaixa
dor no Chile.
Magalhães Pinto: Governador de
Minas Gerais à época do golpe, foi
uma das maiores raposas da políti
ca mineira. Queria ser presidente
da República, chegou a ministro
das Relações Exteriores, mas nun
ca superou a antipatia que os mili
tares nutriam por sua astúcia.
Era dono do Banco Nacional. Vi
veu os últimos anos entrevado por
um derrame cerebral e morreu em
março do ano passado, depois do
estouro da empresa.
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