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JANIO DE FREITAS
A ditadura das formigas
A queixa judicial do governador
Itamar Franco contra o presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
expressa toda a impotência em
que estão até autoridades constituídas, quanto mais os cidadãos
em geral, diante de um poder arbitrário, prepotente, ignorante e
aproveitador que está dominando
o Brasil - o formigueiro dos economistas modernosos.
A recomendação de Armínio
Fraga a estrangeiros, feita durante
reunião do FMI, para que não invistam na Minas de Itamar, recebeu tratamento tão delicado da
mídia, que quase passou despercebida. Era o Armínio e, ora, era o
Itamar. Era o Armínio e não era o
Covas ou São Paulo, não era o Anthony Garotinho e o Rio dos negócios globolóides.
O que há de absurdo e inaceitável naquela atitude, porém, excede
a irresponsabilidade, em suas várias localizações e fisionomias nesse caso. A prepotência e a arbitrariedade do gesto de Armínio Fraga
são uma partícula da arbitrariedade e da prepotência com que deliberações e políticas de governo
são impostas à vida dos país e dos
cidadãos, ano após ano, sem o
mais mínimo respeito por coisa alguma que não seja o interesse, a
vontade ou o palpite de economistas do formigueiro em posições de
mando.
Um país problemático e perigoso
como o Brasil pode passar anos, o
mandato inteiro de um presidente, com uma política de câmbio rígido só porque um dos economistas do formigueiro, sem biografia e
sem credenciais, assim quer. Contra o país inteiro. Até que derrubado por outra figura do formigueiro, que se sentiu ameaçada pelo
excesso de consequências desastrosas do câmbio voluntarista.
Esse caso do câmbio é só um
exemplo de fácil acesso. Para
quem não se lembra do câmbio,
está aí o caso do Banespa, com a
intervenção do formigueiro produzindo bilhões em porcarias administrativas, tantas ou mais do
que as pretensamente justificadoras da intervenção. Assim diagnosticadas pela Receita Federal,
mas o governador Mário Covas e o
peso de São Paulo são insuficientes
para chamar à razão as partes do
formigueiro instaladas na Fazenda e no Banco Central. São exemplos, esses, do que se passa no país
todo, com a vida de todos e de cada um.
No discurso para apresentar,
quarta-feira, o seu décimo ou vigésimo farsante "programa habitacional", Fernando Henrique Cardoso achou natural contar que fez
com Pedro Malan, no começo do
ano, a aposta de que o Brasil terminará 99 com crescimento econômico. Um presidente que também acha natural o seu ministro
da Fazenda apostar em resultado
negativo para o país, por cuja economia é o responsável, mostra
bem como funciona o formigueiro.
Um punhado dos seus componentes acha determinada coisa, nisso
aposta, não a sua vida, que todos
saem muito bem. Se a aposta não
der certo, o que foi apostado e se
danou foi a vida do país, foram os
milhões de vidas do país.
O tempo em que a praga do bacharelismo dominou o Brasil deixou uma marca trágica: o jeitinho
brasileiro. Diante de cada lei, o espírito legado pelo bacharelismo
até hoje se aplica, logo, em procurar a brecha pela qual burlá-la. A
lei ficou reduzida a um jogo entre
a sua forma e o bacharel.
No Brasil dominado pelo formigueiro dos economistas modernosos nem lei restará. A lei é a vontade deles, seu palpite, sua aposta. A
Constituição nada vale. Se um
mesmo um governador eleito contraria o jogo do formigueiro, não
há interesse do país, não há responsabilidade, inclusive a legal e a
institucional, a ser considerados.
Se os setores produtivos da sociedade, se parcelas imensas da sociedade arruinam-se, nada podem
senão sujeitar-se ao poder prepotente, arbitrário, ignorante e aproveitador do formigueiro dos economistas modernos.
Voltemos à década de 20: "Ou o
Brasil acaba com a saúva, ou a
saúva acaba com o Brasil".
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