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Alta dos juros frustra tucanos; PT vê medida como 'inevitável'
Armínio Fraga, presidente do BC, explica medidas ao comando da campanha de Lula
Serra vê medida "dura" e coordenador tucano sugere que decisão embute "custo PT" para o país
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DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A NATAL
DA REPORTAGEM LOCAL
A elevação da taxa básica de juros da economia pelo Banco Central, de 18% para 21%, deixou
frustrada a campanha de José Serra (PSDB), que a viu, porém, como "dura, mas inevitável", mesma avaliação feita pela campanha
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
que reagiu com cautela.
A medida é mais uma má notícia para os tucanos, justamente
no reinício da propaganda gratuita no rádio e na TV.
Serra já se opôs a decisões anteriores do BC de aumentar os juros. Os principais porta-vozes da
campanha tucana, como Luiz
Paulo Vellozo Lucas, prefeito licenciado de Vitória (ES), preferiram, assim como a campanha petista, classificá-la de "inevitável".
Mas Vellozo Lucas não resistiu a
uma ponta de ironia: "É o valor
presente [a decisão do BC] do fluxo de caixa descontado da frustração futura do governo Lula".
Serra não gostou nada da decisão. Durante a tarde, designou o
presidente nacional do PSDB, José Aníbal (SP), para falar em nome da campanha. Segundo o deputado paulista, a decisão foi tomada para "manter o país atrativo ao investimento estrangeiro".
Bem mais realista foi o líder do
PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), ao dizer que "isso só
prova que governo é governo e
campanha e campanha". Ele citou
outra decisão do governo tomada
no primeiro turno considerada
péssima para a campanha: o aumento do gás de cozinha.
Vellozo Lucas, Aníbal e Jutahy,
no entanto, falam a mesma linguagem ao tentar diagnosticar a
crise que levou o BC a aumentar
os juros: um ataque especulativo
motivado pela expectativa dos
mercados de uma vitória de Lula
no segundo turno. "Quando nós
ganharmos, essa turbulência passa", disse Aníbal, repetindo bordão adotado pelos tucanos desde
que o dólar saiu de controle.
Avaliação petista
O presidente do Banco Central,
Armínio Fraga, manteve contatos
com o núcleo da campanha de
Lula para explicar a linha geral de
ação de combate à alta do dólar.
O comando petista avalia que a
elevação dos juros é mais prejudicial à candidatura de Serra, mas
que ela não ajudaria Lula.
Para eles, esse tipo de ação muda o foco da campanha que pretendem manter, a discussão sobre
a retomada do crescimento econômico e sobre geração de emprego, reavivando o debate "terrorista" sobre os riscos de um
eventual governo petista em um
momento econômico delicado.
O contato de Armínio foi visto
como uma "contrição" pela entrevista do presidente do BC na
semana passada, na qual afirmou
que havia pouco a fazer para conter o dólar, dado o cenário de incerteza eleitoral.
O presidente do PT, José Dirceu,
considerou "inevitáveis" as medidas adotadas pelo BC. Mas criticou seu efeito recessivo. "O governo está tomando evidentemente
medidas inevitáveis. A margem
de manobra ficou muito pouca."
Para o petista, a decisão de ontem é o resultado de uma cadeia
de equívocos. "Depois de tantos
erros, tantos desacertos, restou ao
governo a recessão, que é muito
ruim para o país", disse. Dirceu
admitiu, no entanto, que o governo não tinha outra saída. "A alternativa é o descontrole do dólar."
Antônio Palocci, coordenador
do programa de governo do PT,
manteve o mesmo tom. "Num
momento de crise, a margem de
manobra é pequena. O governo
fez o que deveria fazer. O erro é
anterior. Há duas maneiras de
conter o dólar. Uma na mesa de
câmbio. Outra estimulando o
crescimento da economia", disse.
"Não vejo cunho eleitoral nas medidas", declarou.
Principal assessor econômico
de Lula, Guido Mantega adotou
tom mais crítico. Chamou a medida de "equívoco".
(RAYMUNDO COSTA, GUSTAVO PATÚ, PLÍNIO FRAGA,
FÁBIO ZANINI, LIÉGE ALBUQUERQUE)
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