São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alta dos juros frustra tucanos; PT vê medida como 'inevitável'


  Armínio Fraga, presidente do BC, explica medidas ao comando da campanha de Lula

  Serra vê medida "dura" e coordenador tucano sugere que decisão embute "custo PT" para o país



DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A NATAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação da taxa básica de juros da economia pelo Banco Central, de 18% para 21%, deixou frustrada a campanha de José Serra (PSDB), que a viu, porém, como "dura, mas inevitável", mesma avaliação feita pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que reagiu com cautela.
A medida é mais uma má notícia para os tucanos, justamente no reinício da propaganda gratuita no rádio e na TV.
Serra já se opôs a decisões anteriores do BC de aumentar os juros. Os principais porta-vozes da campanha tucana, como Luiz Paulo Vellozo Lucas, prefeito licenciado de Vitória (ES), preferiram, assim como a campanha petista, classificá-la de "inevitável".
Mas Vellozo Lucas não resistiu a uma ponta de ironia: "É o valor presente [a decisão do BC] do fluxo de caixa descontado da frustração futura do governo Lula".
Serra não gostou nada da decisão. Durante a tarde, designou o presidente nacional do PSDB, José Aníbal (SP), para falar em nome da campanha. Segundo o deputado paulista, a decisão foi tomada para "manter o país atrativo ao investimento estrangeiro".
Bem mais realista foi o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), ao dizer que "isso só prova que governo é governo e campanha e campanha". Ele citou outra decisão do governo tomada no primeiro turno considerada péssima para a campanha: o aumento do gás de cozinha.
Vellozo Lucas, Aníbal e Jutahy, no entanto, falam a mesma linguagem ao tentar diagnosticar a crise que levou o BC a aumentar os juros: um ataque especulativo motivado pela expectativa dos mercados de uma vitória de Lula no segundo turno. "Quando nós ganharmos, essa turbulência passa", disse Aníbal, repetindo bordão adotado pelos tucanos desde que o dólar saiu de controle.

Avaliação petista
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, manteve contatos com o núcleo da campanha de Lula para explicar a linha geral de ação de combate à alta do dólar.
O comando petista avalia que a elevação dos juros é mais prejudicial à candidatura de Serra, mas que ela não ajudaria Lula.
Para eles, esse tipo de ação muda o foco da campanha que pretendem manter, a discussão sobre a retomada do crescimento econômico e sobre geração de emprego, reavivando o debate "terrorista" sobre os riscos de um eventual governo petista em um momento econômico delicado.
O contato de Armínio foi visto como uma "contrição" pela entrevista do presidente do BC na semana passada, na qual afirmou que havia pouco a fazer para conter o dólar, dado o cenário de incerteza eleitoral.
O presidente do PT, José Dirceu, considerou "inevitáveis" as medidas adotadas pelo BC. Mas criticou seu efeito recessivo. "O governo está tomando evidentemente medidas inevitáveis. A margem de manobra ficou muito pouca."
Para o petista, a decisão de ontem é o resultado de uma cadeia de equívocos. "Depois de tantos erros, tantos desacertos, restou ao governo a recessão, que é muito ruim para o país", disse. Dirceu admitiu, no entanto, que o governo não tinha outra saída. "A alternativa é o descontrole do dólar."
Antônio Palocci, coordenador do programa de governo do PT, manteve o mesmo tom. "Num momento de crise, a margem de manobra é pequena. O governo fez o que deveria fazer. O erro é anterior. Há duas maneiras de conter o dólar. Uma na mesa de câmbio. Outra estimulando o crescimento da economia", disse. "Não vejo cunho eleitoral nas medidas", declarou.
Principal assessor econômico de Lula, Guido Mantega adotou tom mais crítico. Chamou a medida de "equívoco". (RAYMUNDO COSTA, GUSTAVO PATÚ, PLÍNIO FRAGA, FÁBIO ZANINI, LIÉGE ALBUQUERQUE)



Texto Anterior: Justiça: Secretário vai à Europa negociar cooperação
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.