São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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SEGURANÇA

Governo previa redução antes da entrada em vigor da lei, no domingo

Lei do Abate não inibe vôos irregulares no espaço aéreo

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário do que previa a Aeronáutica, o número de vôos desconhecidos no espaço aéreo brasileiro manteve-se estável após a publicação, há três meses, do decreto da Lei do Abate, que prevê a derrubada de aviões ligados ao tráfico de drogas que não se identificarem ou que se recusarem a atender a ordens de pouso.
A lei entrará em vigor à meia-noite deste domingo -90 dias após a publicação do decreto no "Diário Oficial" da União, prazo no qual o comando aéreo nacional divulgou o teor da lei no Brasil e no exterior, principalmente entre os países que fazem fronteira com a região amazônica.
"A gente esperava [que caísse o número de vôos desconhecidos], mas a média se manteve", disse ontem à Folha o comandante da Defesa Aeroespacial Brasileira, major-brigadeiro-do-ar Atheneu Francisco de Azambuja.
Neste ano, entre janeiro e 18 de julho, um dia antes da publicação do decreto, foram detectados 2.399 vôos desconhecidos -uma média de 12 casos por dia. De 19 de outubro até ontem, com 1.168 casos registrados, a média diária ficou em 13 vôos desconhecidos -ou seja, sem plano de vôo, mas não necessariamente irregulares.

Crianças
Ontem, o brigadeiro Azambuja deixou claro que qualquer aeronave está sujeita ao tiro de destruição, mesmo que fique comprovada a existência de crianças entre os passageiros: "Qualquer artifício que o traficante utilize não o coloca acima da lei. Usar criança como argumento não será um salvo-conduto, com certeza".
Apesar de o objetivo ser apenas o traficante de drogas, a lei visa também inibir que fazendeiros, por exemplo, continuem a ignorar os planos de vôo para escapar do pagamento das taxas obrigatórias. "É importante que eles [fazendeiros] tenham ciência de que há o risco. Não vale a pena correr um risco para evitar o pagamento de uma taxa", declarou o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, coronel-aviador Ricardo da Silva Servan.
Cartazes e panfletos sobre o tema -confeccionados pelo Ministério da Defesa, pela Aeronáutica e pela Secom (Secretaria de Comunicação de Governo)- estão sendo distribuídos em todo o país. Haverá ainda inserções nas rádios para divulgar a lei.
A promessa da FAB (Força Aérea Brasileira) é que, caso necessário, a lei não ficará apenas no papel. "Quando se decola para interceptar, o objetivo é fiscalizar, e não destruir. Mas eu gostaria de dizer que somos extremamente profissionais. A Força Aérea Brasileira não está brincando de fazer policiamento do espaço aéreo", declarou Azambuja.
São cinco medidas e oito procedimentos obrigatórios de averiguação, intervenção e persuasão antes do abate. Entre os procedimentos estão o contato via rádio e a solicitação de mudança de rota e de pouso obrigatório.
Uma das medidas adotadas pela Aeronáutica será a gravação em áudio e vídeo de todas as operações -uma segunda aeronave da FAB fará esse trabalho. "É importante termos uma contraprova para mostrar que o nosso trabalho é transparente e profissional", afirmou o comandante da Defesa Aeroespacial Brasileira.
A autorização para o abate é exclusiva do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno. Na casa dele, inclusive, há um ramal da FAB instalado apenas para isso e que já poderá ser acionado nesta madrugada de sábado para domingo.
Apesar de regulamentada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a lei que permite a derrubada de aeronaves irregulares foi sancionada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).


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