São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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RIO DE JANEIRO

Chefe de posto clandestino de cadastramento havia concorrido a vereador em Campos pelo PMDB, que disputa 2º turno e governa Estado

Candidata cadastrava para programa estadual

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS (RJ)

O posto clandestino de cadastramento para o Programa Cheque-Cidadão flagrado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio de Janeiro em Campos (a 280 km da capital) era chefiado por uma candidata a vereadora pelo PMDB e tinha uma lista de supostos fiscais do partido encarregados da anotação dos números dos títulos eleitorais das pessoas interessadas em receber o benefício.
As informações constam do relatório preparado pela equipe do Tribunal Regional Eleitoral do Rio que localizou o posto clandestino. O documento, a que a Folha teve acesso, foi recebido ontem pela juíza eleitoral Maria Tereza Andrade, que o encaminhou ao Ministério Público.
De acordo com a juíza, os responsáveis poderão ser condenados a até quatro anos de prisão, conforme o previsto no artigo 299 do Código Eleitoral, que trata de questões relacionadas à obtenção de vantagens financeiras e materiais em troca de votos.
"Captar votos é crime", afirmou a magistrada.

Esquema de trabalho
O posto clandestino funcionava em uma casa abandonada no número 221 da rua Ramiro Braga, no bairro Parque Leopoldina, em Campos. Na varanda do imóvel, a professora Sylvia Elizabeth Peixoto Alves, da rede de ensino do governo estadual, coordenava uma equipe que recolhia os títulos eleitorais de candidatos a receber o benefício.
O cheque vale R$ 100 e é trocado por comida e material de higiene em mercados conveniados ao Estado. Apenas em Campos, que é a terra natal da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus (PMDB), e de seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho, o programa atende a cerca de 5.000 pessoas.
Anteontem, o governo estadual voltou a cadastrar em Campos para o Cheque-Cidadão.
Sylvia Elizabeth concorreu na eleição deste ano à Câmara de Vereadores de Campos, sob o nome de "Professora Sylvia Elizabeth". Ela fracassou na tentativa. Conseguiu apenas 61 votos e foi a menos votada do partido no município.
Para disputar a eleição, a professora se licenciou do cargo de diretora da escola José do Patrocínio, da rede de ensino do Estado, só a 500 m do posto clandestino.
Depois do primeiro turno, Sylvia Elizabeth reassumiu a direção da escola, mas já conseguiu nova licença, desta vez sob a justificativa de que está trabalhando para a candidatura de Geraldo Pudim (PMDB) à Prefeitura de Campos, de acordo com o relatório recebido pela juíza eleitoral.
Apoiado pelo casal Garotinho, Pudim enfrentará no segundo turno na cidade o candidato Carlos Alberto Campista (PDT).

Tropas do Exército
Ontem, Campista anunciou que pedirá ao TRE do Rio a designação de tropas do Exército para patrulhar Campos em 31 de outubro, o dia da eleição, e durante a apuração dos votos.
"Acho agora até mais importante [a presença dos militares] do que no primeiro turno [quando pedido idêntico foi negado pelo TRE]. Garotinho deixou a Secretaria de Segurança e está radicado em Campos [desde sábado passado], mas tem as forças de segurança estaduais nas mãos. Vivemos em Campos um clima de medo", afirmou o candidato do PDT.


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