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MÁQUINA ELEITORAL
Das 50 cidades que mais receberam recursos da União, PT só teve bom desempenho em 18 ; PSDB obteve resultado positivo em 14
Governo perde em cidades onde mais investiu
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os partidos governistas perderam espaço para a oposição nas
cidades cujas prefeituras mais receberam verba federal de investimento neste ano, constatação que
reforça a tese de que conseguir
obras federais para a cidade, por
si só, não representa garantia de
sucesso nas urnas.
Levantamento da Folha mostra
que o PT comanda 26 das 50 cidades cujas administrações receberam o maior volume de recursos,
mas a legenda de Luiz Inácio Lula
da Silva só conseguiu eleger o prefeito ou passar para o segundo
turno em 18 desses 50 municípios.
Já o oposicionista PSDB governa 6 das 50 cidades, mas elegeu ou
está na disputa em 14. O outro
grande oposicionista, o PFL, tem
em seus quadros os prefeitos de
duas das cidades mais contempladas, mas venceu ou disputa o segundo turno em cinco.
O volume recebido pelas 50 prefeituras é de R$ 151 milhões, o que
representa 53% de tudo o que havia sido liberado para o país. Essa
modalidade de investimento consiste no repasse das verbas para
que a prefeitura execute a obra,
por meio de convênio com a
União. O levantamento não inclui
os investimentos federais diretos
e aqueles feitos por meio de convênios com os Estados.
O único partido governista que
mostra grande evolução é o
PMDB, que administra 2 das 50
cidades, mas que elegeu prefeitos
ou se mantém na disputa em 9.
"Há uma frase do Luís Eduardo
Magalhães [ex-presidente da Câmara, morto em 1998] que ilustra
isso: tudo o que você faz no mandato lhe dá direito à pole position,
ganhar a corrida é outra história",
diz o ex-ministro Alceni Guerra,
coordenador das eleições no PFL.
"Uma verba pesada do governo
lhe dá a pole, não garante a eleição, já que pode aparecer um candidato com propostas melhores,
fala articulada e que mexa com os
sonhos do eleitor", disse.
Exemplo
O ocorrido na cidade de Icapuí
(CE), a 195 km de Fortaleza, simboliza a situação. Com 16.789 habitantes, a cidade recebeu R$ 3,9
milhões de verbas de investimento até o último dia 28, o que a coloca como a 7ª prefeitura mais
contemplada no país. As obras federais, tocadas pela prefeitura, se
dividem nas áreas de saneamento, saúde e turismo.
Governada desde 1986 pelo PT,
a cidade integrou o grupo de 26
prefeituras consideradas modelo
pelo partido e que tiveram suas
experiências listadas no guia das
eleições que o PT elaborou para
seus candidatos.
Mesmo assim, o candidato petista, apoiado pelo prefeito Francisco José Teixeira, perdeu a eleição para o concorrente do PSDB
por 1.231 votos. Dedé Teixeira, como é conhecido o prefeito, afirma
que vários fatores influenciaram o
resultado, como a suposta vontade do eleitor de variar e o fato de
algumas obras não terem sido
concluídas antes das eleições.
"O povo é como São Tomé, só
acredita no que vê, no resultado,
no que funciona, não no que está
em andamento. Isso também afetou muito", disse.
A análise sobre os prefeitos que,
no grupo de 50, tentaram a reeleição, também não denota influência do dinheiro de Brasília. Dos 27
que tentaram novo mandato, 11 se
reelegeram no primeiro turno, 10
estão fora e 6 ainda tentam a vitória no segundo turno.
"Ajuda mas não resolve, é exatamente essa a frase. O dinheiro
federal ajuda na melhora da avaliação da administração. Vira voto quando o administrador consegue transmitir isso durante a
campanha", diz o cientista político Marcus Figueiredo, do Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).
Ele cita como exemplo o caso de
Marta Suplicy (PT), que elevou
sua avaliação positiva de 22% para 42% entre fevereiro e setembro.
"O que ela fez? Jogou em sua propaganda as obras que realizou
com a ajuda do governo federal."
Já o presidente da Instituição
Teotônio Vilela (ligada ao PSDB),
deputado federal Sebastião Madeira (MA), afirma acreditar que
as verbas federais influem muito,
apesar de não serem garantia de
vitória. "Houve uma melhora geral dos candidatos do PT nos últimos 15 dias, justamente quando
as obras foram entregues", diz.
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