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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Urna premia ação assistencialista de Lula
Votação do presidente foi proporcionalmente maior onde programas sociais e incidência do salário mínimo são mais intensos
Política de transferência de
renda ajuda a explicar baixo
crescimento; governo tira
dinheiro de quem produz
para dar a quem não produz
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O resultado das urnas no 1º
turno é um retrato do governo
assistencialista e pró-pobre de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Quanto maior a concentração
de programas sociais e assistenciais nos Estados, maior foi
a votação do presidente.
O mapa do Brasil com a incidência por Estado do atendimento do Bolsa Família, por
exemplo, é um "decalque" da
votação obtida por Lula na
maioria das unidades do país.
O mesmo vale para o peso do
salário mínimo por região e os
votos válidos obtidos no 1º turno. Reajustado em quase 25%
em termos reais (acima da inflação) no atual governo, o mínimo é o indexador de aposentadorias e benefícios assistenciais pagos pela Previdência.
Os efeitos dessa maior transferência de renda pública para
os indivíduos mais pobres teve
reflexos importantes na economia de cada região.
A evolução das vendas nos últimos 12 meses, por exemplo,
revela que onde o comércio
cresceu mais, a votação de Lula
também avançou mais na comparação com seu desempenho
no 1º turno em 2002.
Na mesma comparação com
2002, o desempenho de Lula
em 2006 nas regiões Norte e
Nordeste foi muito superior em
1º de outubro último.
Nos Estados do Nordeste,
entre 42,1% e 50% da população vive em famílias atendidas
pelo Bolsa Família. Na região,
46% dos trabalhadores e beneficiários da Previdência recebem salário mínimo.
Lula teve
de 56,1% a 80% dos votos válidos no Nordeste, seus recordes.
Na região Norte, onde o Bolsa Família atinge entre 26,1% e
42% da população e o salário
mínimo, 31% dos trabalhadores e beneficiários da Previdência, Lula teve entre 44,1% e 68%
dos votos válidos.
Norte e Nordeste também foram as regiões onde o comércio
teve um desempenho superior
à média nacional. No Nordeste,
cresce quatro vezes mais.
Nas demais regiões (Centro-Oeste, Sudeste e Sul), a votação
de Lula seguiu a mesma tendência. Nelas, o Bolsa Família
atinge entre 10% e 26% dos habitantes e o salário mínimo entre 18% e 23%. Lula teve entre
20% e 44% dos votos válidos.
O desempenho de Geraldo
Alckmin (PSDB) seguiu exatamente o mesmo padrão, mas de
modo inverso. Onde há menos
programas sociais e pessoas recebendo salário mínimo, o tucano teve mais votos.
"Tirando o aspecto da corrupção, é impressionante como
Lula cumpriu o que prometeu,
que era governar para os mais
pobres. E o dividendo eleitoral
é claro", afirma Celso Toledo,
economista-chefe da MCM
Consultores.
Toledo afirma que, para
transferir renda, qualquer governo precisa tirar dinheiro de
quem produz para dar a quem
não produz, o que explicaria a
tendência de crescimento baixo dos últimos anos.
"Como a desigualdade no
Brasil é grande, isso até faz sentido. O problema é que o setor
produtivo já está absolutamente estrangulado, e o sacrifício
em termos de crescimento acaba sendo bem maior", afirma.
O cientista político Leôncio
Martins Rodrigues diz que o resultado da votação vinculado às
transferências de renda revela
que o eleitor brasileiro ainda
não consegue ter "um comportamento político autônomo".
"Como essa grande população é paupérrima, ela continua
propensa ao voto clientelístico
e a manter sempre a expectativa de receber algo do Estado."
Para o sociólogo Antônio
Flávio Pierucci, os programas
sociais são importantes, mas
precisam ser relativizados. "Esse dinheiro vai direto para o
bolso, mas toda a encenação do
governo Lula é um longo minueto pró-pobres", afirma.
Colaborou MÁRIO KANNO , da Redação
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