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Temer declara ter pago 1% do valor de área
Propriedade custou ao deputado R$ 19,1 mil, valor atualizado pelo IPCA, mas vale ao menos R$ 2,1 milhões, dizem especialistas
Negócios do congressista em Goiás geraram denúncias de grilagem e inquérito no STF por suposto crime ambiental; ele nega todas as acusações
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Michel Temer
(PMDB-SP) declarou ter pago
por suas terras no santuário
ecológico de Alto Paraíso (GO)
valor que equivale a menos de
1% do praticado no mercado,
mostram avaliações de profissionais que atuam na região.
Temer declarou à Justiça
Eleitoral que pagou R$ 10 mil a
Luiz Antônio Schincariol, seu
sobrinho e sócio, para tornar-se dono único de terreno na reserva ambiental Campo Alegre.
O deputado sustenta que a metade comprada de Schincariol
tinha 1.250 hectares.
Em abril deste ano, laudo encomendado por um empresário
interessado em terras na mesma reserva mostra que o valor
médio de cada hectare é de
R$ 2.400, sendo R$ 1.680 o preço mínimo e R$ 3.130, o máximo. Ou seja, na estimativa mais
conservadora, 1.250 hectares
na Campo Alegre custariam
hoje R$ 2,1 milhões.
Considerando que o negócio
foi fechado em novembro de
1998, o valor declarado por Temer equivaleria, em abril de
2008, a R$19,1 mil (atualização
feita pelo IPCA do período)
-ou 0,9% do preço de mercado
das terras.
O laudo, de 17 páginas, é assinado pelo engenheiro agrônomo Francisco José Lopes de
Souza, perito aposentado do
Incra. Para chegar aos valores,
ele aplicou metodologia da
ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas), que leva
em conta critérios como capacidade de produção da terra,
conservação de recursos naturais, acessos, infra-estrutura e
valores de mercado -foram
consideradas sete propriedades semelhantes à venda.
Uma corretora que atua na
região, a Omni Imóveis, informou que os valores apontados
no laudo estão dentro do praticado. "No mínimo, um hectare
sai por R$ 1.800, mas pode custar até R$ 3.000", disse o corretor Dimitri Calimeres.
Segundo o corretor, caso a
terra tenha apenas registro de
posse, e não título de propriedade, esse valor pode cair até,
no máximo, à metade.
Denúncias
Os negócios de Temer em Alto Paraíso geraram denúncias
de que ele se beneficiou da ação
de grileiros, além de um inquérito aberto no STF (Supremo
Tribunal Federal) pela suspeita
de crime ambiental. Temer é
acusado de depredar o meio
ambiente ao abrir uma estrada
de acesso à sua propriedade,
obra que ele nega ser de sua responsabilidade.
Depois das primeiras denúncias, o congressista desistiu das
terras. Em 2002, retirou ação
de usucapião em que tentava
legalizar os 2.500 hectares na
reserva Campo Alegre. No ano
seguinte, doou à Prefeitura de
Alto Paraíso outra propriedade,
de 452 hectares, fora da reserva
-esta já regularizada.
A Secretaria de Agricultura
de Goiás informou à Folha que
não considera válida a doação
do congressista, por causa da
irregularidade na concessão do
título de propriedade.
"O deputado não poderia fazer a doação de uma coisa que
não era dele", afirmou o secretário de Agricultura de Goiás,
Paulo Martins.
O governo considera que nenhum título poderia ser concedido antes do fim da ação demarcatória das terras da região, que ainda não foi concluída. Além disso, em auditoria,
encontrou irregularidades como terras "superdimensionadas" ilegalmente.
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