São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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Microscópio impulsionou descobertas

especial para a Folha

Algumas das mais importantes descobertas científicas da humanidade foram feitas com instrumentos parecidos com o microscópio que o leitor da Folha receberá de presente ao completar a cartela da promoção da "Enciclopédia Multimídia dos Seres Vivos".
O microscópio que o leitor receberá ao levar a cartela preenchida aos postos de troca (leia texto acima) tem um conjunto de duas lentes, típico dos chamados "microscópios compostos".
Esses microscópios ganharam a tecnologia básica de hoje a partir do começo do século 19. Mas mesmo no século anterior já havia microscópios com formas semelhantes. No século 17 descobertas importantes foram feitas com este tipo de aparelho. "Noventa por cento das descobertas em citologia, o estudo das células, foi feito com microscópios rudimentares", diz o biólogo Nelio Bizzo, especialista em ensino de biologia na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
"O microscópio é uma ferramenta indispensável para quem estuda biologia", afirma Bizzo. "Deveria haver uma lei federal proibindo escolas de comprar computadores se não tiverem um microscópio." Para o professor da USP, "quem vê uma foto de vírus, de bactérias, e que nunca manipulou um microscópio, não tem condição de entender como a foto foi feita".
O microscópio teve para a biologia o mesmo impacto que seu parente para ver mais longe, o telescópio, teve na astronomia. Graças ao telescópio foi possível enxergar novos planetas e novas luas girando em torno deles, e confirmar a hipótese de que a Terra não era o centro do universo, mas sim apenas mais um corpo celeste que girava em torno do Sol.
Graças aos microscópios foi possível descobrir todo um novo mundo desconhecido da ciência: aquele dos seres vivos de dimensões muito pequenas, microscópicas, os chamados micróbios.
Um dos mais notáveis pioneiros foi o holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), o primeiro pesquisador a observar micróbios como bactérias e protozoários.
Ele batizou esses seres de "animálculos", pequenos animais que pôde observar na água ou no interior do próprio corpo humano. Nem todos podem hoje ser chamados de "animais", mas com seus esforços Leeuwenhoek abriu toda uma área de pesquisa científica.
Leeuwenhoek usava um microscópio de um modelo bem simples, que se constituía basicamente de duas placas de latão entre as quais havia apenas uma lente, com um parafuso ajustável para manter o espécime sendo observado.
Apesar da simplicidade do microscópio, ele conseguiu enxergar as bactérias, pela primeira vez em 1676, com um instrumento que tinha uma ampliação de no máximo 280 vezes.
Tanto telescópios como microscópios surgiram no momento em que se criaram as bases da ciência moderna, a chamada Revolução Científica. Eles foram tanto causa como efeito dessa revolução.
O italiano Marcello Malpighi (1628-1694) fundou a disciplina da anatomia microscópica com seus estudos detalhados do corpo humano sob as lentes de um microscópio. A ele se deve uma das descobertas mais fundamentais da ciência: a descrição, em 1661, dos vasos capilares da circulação sanguínea.
O holandês Jan Swammerdam (1637-1680) foi o primeiro a observar e descrever os glóbulos vermelhos do sangue, e seu uso do microscópio foi fundamental para fazer estudos clássicos dos insetos que influenciam a ciência até hoje.
O inglês Robert Hooke (1635-1703) descobriu os princípios físicos da elasticidade, mas também produziu um livro fundamental sobre o novo mundo observável por esses instrumentos: "Micrographia", de 1665, inclui sofisticados desenhos de plantas e animais vistos ao microscópio, além do desenho de um moderno aparelho já composto de duas lentes, e que muito se parece com os de hoje (faltaria basicamente uma fonte de luz para iluminar o espécie, seja por um espelho ou por uma luzinha própria).
Hooke observou a estrutura da cortiça ao microscópio, e cunhou o termo "célula" para designar as cavidades que observou, e que constituem a unidade básica da estrutura dos seres vivos. Não é por nada que os cartunistas e ilustradores costumam associar um microscópio à ciência quando fazem uma caricatura ou um logotipo.
Em 1830, o inglês Joseph Jackson Lister produziu um trabalho teórico sobre o projeto das objetivas dos microscópios que serviu de base para o notável aperfeiçoamento do instrumento no século 19. E foi no século passado que o microscópio óptico serviu como ferramenta essencial para grandes avanços da ciência.
Lister era pai de sir Joseph Lister (1827-1912), que introduziu a assepsia na medicina em resposta para as contaminações por micróbios. Essa foi a grande descoberta do francês Louis Pasteur (1822-1895): que os microrganismos podem causar doenças. O microscópio facilitou ao alemão Robert Koch (1843-1910) identificar alguns desses agentes, como os causadores da tuberculose e do cólera.
O brasileiro Carlos Chagas (1879-1934) descobriu a causa da doença que leva seu nome também com a ajuda de um microscópio, um protozoário (animal unicelular), o Trypanosoma cruzi.



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