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CONGRESSO
Texto que proíbe divulgação de informações sobre processos é acusado de "restabelecer a censura"
Deputados aprovam a "Lei da Mordaça"
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
A Câmara aprovou ontem o
projeto que proíbe os membros
do Ministério Público, os juízes e
os delegados darem informações
sobre processos em investigação.
O projeto, chamado de "Lei da
Mordaça", estabelece penas para
a autoridade que permitir que
cheguem até os meios de comunicação fatos ou informações que
violem o sigilo legal, a intimidade,
a vida privada, a imagem e a honra das pessoas.
"A aprovação dessa lei significa
a restauração da censura no país",
disse Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Ele afirmou que vai recorrer
ao STF (Supremo Tribunal Federal) se o projeto for aprovado pelo
Senado e sancionado por Fernando Henrique Cardoso.
O projeto fixa penas às autoridades de indenização, detenção
de seis meses a dois anos, multa,
perda do cargo e proibição para
exercer qualquer função pública
por três anos.
Os partidos de oposição tentaram retirar o dispositivo do projeto que prevê a censura, mas foram
derrotados pelos partidos governistas. O placar registrou 269 votos favoráveis ao projeto, 127 contrários e 3 abstenções.
"A ameaça à democracia não é o
Ministério Público, mas o crime
organizado, a corrupção. O projeto é para intimidar e acuar o Ministério Público e dar poder à
mão do crime", afirmou o deputado José Dirceu (PT-SP).
O deputado José Roberto Batochio (PDT-SP) defendeu a proposta. "É a lei do combate ao vedetismo e à irresponsabilidade.
Combate o apetite pantagruélico
por publicidade", disse Batochio.
Parlamentares citam o caso da
cassação e da prisão do ex-deputado Hildebrando Pascoal (expulso do PFL-AC), para criticar a
proposta.
Se a "Lei da Mordaça" já estivesse em vigor, por exemplo, o procurador Luiz Francisco de Souza
não poderia ter denunciado o ex-parlamentar na CPI do Narcotráfico. O depoimento do procurador provocou a cassação e prisão
do ex-deputado.
A Câmara alterou o projeto original do governo, assinado pelo
então ministro da Justiça, Nelson
Jobim, mais restritivo ainda. O
projeto aprovado modifica a lei
que trata do abuso de autoridade.
Um dos dispositivos do projeto
aprovado estabelece de forma indireta o foro privilegiado para a
abertura de processos por improbidade administrativa. A Constituição estabelece o foro privilegiado para casos de crimes comuns
cometidos por autoridades.
Apesar do quórum de 473 deputados no plenário, o governo
não colocou em votação a emenda constitucional que cria a DRU
(Desvinculação de Receita da
União), parte do ajuste fiscal, em
substituição ao FEF (Fundo de
Estabilização Fiscal). O governo
temia ser derrotado.
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