São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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A CAMINHO DA POSSE

Presidente do TSE, Nelson Jobim, oferece seu lenço a petista

Lula improvisa e chora ao ser diplomado presidente

Sérgio Lima/Folha Imagem
Lula interrompe discurso e chora, assistido pelos ministros Marco Aurélio de Mello e Nelson Jobim, durante diplomação no TSE


PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Marcado por quatro campanhas eleitorais em que sua falta de diploma de curso de nível superior era apontada como exemplo de despreparo, Luiz Inácio Lula da Silva chorou e antecipou o fim de seu discurso, ao ser diplomado ontem o 37º presidente da República, o primeiro sem formação universitária da história do Brasil.
"Se havia alguém no Brasil que duvidava que um torneiro mecânico...[interrompe com a voz embargada], saído de uma fábrica, ...chegasse à Presidência da República, 2002 provou exatamente o contrário...[chora e é aplaudido]. E eu, que, durante tantas vezes,...fui acusado de não ter um diploma superior, ganho como meu primeiro diploma [chorando], o diploma de presidente da República do meu país".
Essa parte do discurso foi feita de improviso. Antes, ele havia começado a ler texto curto previamente preparado pela sua assessoria. O cerimonial previa um discurso de cinco minutos. Acabou durando quatro minutos e meio.
A cerimônia de diplomação -o reconhecimento oficial da vitória na eleição- começou às 11h06, na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília. Lula estava acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e dos filhos -todos com estrelas do PT na lapela. Todos choraram ao ouvir o discurso de Lula.
O presidente do TSE, Nelson Jobim, abriu a sessão solene no auditório para cerca de 150 pessoas e elogiou os advogados do PT e do PSDB pela forma como se portaram na eleição perante o tribunal. Pediu ainda desculpas pelas filas nos dias de votação.
Então foi a vez de Lula falar. O presidente eleito afirmou que, "em razão do protocolo rígido", tinha trazido um discurso escrito para poder respeitar o tempo previsto para sua fala.
"Cinco minutos eu normalmente uso só para dizer que estou concluindo e falo depois por mais meia hora", declarou, antes de começar a ler.
O texto era protocolar e curto: "Podemos afirmar sem nenhum exagero que o processo eleitoral brasileiro está entre os mais avançados do mundo", discursou, elogiando a votação eletrônica e a "lisura" do processo eleitoral conduzido por Jobim.

Lenço
Lula decidiu improvisar na referência ao diploma e chorou. Nelson Jobim retirou seu lenço do próprio bolso e deu ao presidente eleito, que encerrou sua fala sob aplausos.
A quebra do protocolo foi elogiada pelos presentes. "Isso só mostra a sensibilidade do presidente eleito. É um fato histórico um metalúrgico chegar à Presidência", disse o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio de Mello. "Não há diploma mais consagrador que esse", afirmou o presidente do Congresso, Ramez Tebet.
"É evidente que o diploma conferido por um país, pela grande maioria de uma nação, é melhor que qualquer outro", declarou Nelson Jobim.
"Isso é acontecimento que mostra que toda nossa história não pode ter sido em vão", opinou o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola.
Jobim, no encerramento da sessão solene, após Lula e o vice-presidente José Alencar receberem e exibirem seus diplomas, fez deferências especiais ao citar nominalmente, Brizola -por "ser gaúcho", como o presidente do TSE-, o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, o presidente nacional do PT, José Genoino, e o deputado federal eleito Waldyr Pires.
Elogiado por Lula, o sistema de votação eletrônica foi frequentemente criticado por Brizola, que se reuniu diversas vezes com Jobim para expressar sua preocupação com a sua confiabilidade. A deferência de Jobim reafirmou a paz entre os dois.
Às 11h19, Jobim encerrou a sessão, e Lula recebeu os cumprimentos dos presentes. O presidente eleito participou depois de um almoço no restaurante Piantella, um dos preferidos dos políticos em Brasília.
O diploma que Lula recebeu diz o seguinte: "Pela vontade do povo brasileiro, expressa nas urnas em 27 de outubro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente da República.
Em testemunho deste fato, a Justiça Eleitoral expediu-lhe o presente diploma, que o habilita à investidura no cargo perante o Congresso Nacional em 1º de janeiro de 2003, nos termos da Constituição".

Colaboraram RAYMUNDO COSTA e IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília


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