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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FOGO AMIGO
Indiretamente, vice culpa Lula por controle monetário que teria resultado em queda do PIB
Alencar eleva o tom e diz que os juros são "crime"
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na condição de presidente interino da República e em tom de desabafo poucas vezes visto, o vice-presidente José Alencar (PRB)
voltou ontem a atacar a condução
econômica do país. Desta vez, rotulou de "crime" a política de juros e culpou indiretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pelo controle monetário que teria
resultado na queda do PIB (Produto Interno Bruto).
"Nunca houve uma palavra minha contra o Copom [Comitê de
Política Monetária do Banco Central, que regula os juros]. O Copom é um órgão eminentemente
técnico. A única coisa que eu falo
é que a decisão não é técnica, é política. Por quê? Porque, por princípio, responsabilidade não se
transfere. Você pode delegar autoridade a um ministro e ao Copom, mas não lhes transfere a responsabilidade pelos resultados."
Com o dedo em riste e socando
a mesa, Alencar ainda ameaçou
ser candidato em 2006, sem especificar a qual cargo. "Os patifes
não me farão correr. Se for preciso, eu serei candidato. Se eu for
chamado, eu serei candidato. Jamais serei candidato por eu mesmo. Isso não. Eu não posso, porque eu tenho 74 anos de trabalho
ininterrupto e honesto, e na minha empresa nunca entrou um
quilo de algodão sem nota e nunca saiu um metro de pano sem
nota", afirmou.
Alencar, também ministro da
Defesa, respondeu por cinco horas a perguntas na Comissão de
Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, ao lado dos comandantes das Forças Armadas.
Ao final da sessão, pediu desculpas aos presentes e respondeu à
reportagem de "Veja", que, com o
título "Um vice cara-de-pau",
afirmou, no final de semana passado, que sua empresa recebeu
um empréstimo do governo federal, com juros favorecidos.
"Cara-de-pau e muito cômodo
para mim, como vice-presidente,
seria ficar ao lado da política monetária praticada há muitos anos
no Brasil. Porque ela me favorece
e quebra os meus concorrentes.
Como tem quebrado e quebrado
muitos", afirmou o presidente interino, que, a seguir, sugeriu mais
uma vez que querem censurar
suas críticas à economia.
"Porque ali [na reportagem]
tem o dedo de quem não quer que
eu fale de juros (...) Tenho que
continuar falando mal desses juros que estão matando a economia, que por essa razão não há recursos para as Forças Armadas
brasileiras, não há recursos para
saneamento, para educação."
Recém-filiado ao PRB (partido
ligado à Igreja Universal), Alencar
tem evitado falar sobre eleições,
mesmo que seja para ser de novo
vice na chapa de Lula. O governo
de Minas é sua outra aspiração,
mesmo ciente que Aécio Neves
(PSDB) deve disputar a reeleição.
As críticas de Alencar ao atual
modelo da economia surgiram
depois que, por algumas horas,
ouviu reclamações dos comandantes das Forças Armadas de falta de recursos.
O comandante da Marinha, almirante Roberto Guimarães Carvalho, por exemplo, falou do "estado vegetativo" e "estagnado"
dos projetos de enriquecimento
de urânio. Já o general Francisco
Roberto Albuquerque (Exército)
admitiu que o atual efetivo da
Força é "insuficiente" para a defesa do país.
Alencar lamentou a falta de recursos aos militares e, ao justificá-la, atacou a política de juros como
opção do governo para conter a
inflação e a classificou como um
"crime". "Esse instrumento é danoso para a nossa economia. É
responsável pelo fato de estarmos
gritando aqui ou nas casas onde
não há pão. E precisamos crescer
e reduzir esses juros a um patamar de padrão internacional. Estamos pagando dez vezes a taxa
média básica real do mundo. Dez
vezes. Isso é um crime."
A crítica indireta de Alencar ao
presidente veio em sua última fala
na sessão, ao ser provocado pelo
senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que o lembrou das poucas
horas que faltavam para a decisão
de mais uma reunião do Copom.
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