São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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análise

Não há relação entre corrupção e valor do salário

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois argumentos sustentam, há décadas, os aumentos salariais de políticos: 1) o valor é muito baixo para a função; e 2) uma remuneração maior poderia blindar os congressistas contra corrupção.
Na prática, a realidade é bem outra. Em maio de 1991, cada congressista recebia 1,022 milhão de cruzeiros. Em dezembro, o contracheque já era de 5,2 milhões. O efeito foi nulo para combater a corrupção. Em 1993, o caso dos "anões do Orçamento" revelou mais de uma dezena de congressistas desviando verbas públicas.
Em janeiro de 1995, os salários no Congresso passaram de R$ 4.088 para R$ 8.000, um pulo de 95,7%. Dois anos depois, em 1997, deputados se venderam por R$ 200 mil para votar a favor da emenda da emenda da reeleição.
Em 2002, tudo de novo. Os salários estavam em R$ 8.280. Na época do escândalo do mensalão, em 2005, os rendimentos eram de quase R$ 13 mil.
O padrão não se altera: as altas de salários nunca são acompanhadas de elevação equivalente de valores republicanos no Congresso. Ao argumentar que seus rendimentos são incompatíveis com as responsabilidades que têm, os políticos usam um ardil. De fato, suas atribuições são relevantes. Mas nunca se comparam à população.
A média patrimonial declarada dos 13,9 milhões de contribuintes ao IR em 2000 foi de R$ 123,5 mil. Já os políticos vencedores em 2002 afirmaram possuir bens num valor médio de R$ 1,530 milhão -1.139% acima dos brasileiros que declaram IR.
Quanto à renda, o pesquisador Marcelo Medeiros, da UnB, identificou quem são os mais abastados no país. Em valores de 2005, as famílias com rendimento per capita acima de R$ 3.500 equivaliam só a 1% do total da população.
A elite "ocupa o topo estreito de uma pirâmide cuja base larga é constituída por milhões de miseráveis", escreveu Medeiros. Os políticos estão no topo e têm uma vantagem: sempre que se sentem em queda podem se autoconceder aumentos salariais. Os miseráveis pagam a conta.


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