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análise
Não há relação entre corrupção e valor do salário
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois argumentos sustentam, há décadas, os aumentos salariais de políticos: 1) o valor é muito baixo para a função; e 2) uma
remuneração maior poderia blindar os congressistas contra corrupção.
Na prática, a realidade é
bem outra. Em maio de
1991, cada congressista recebia 1,022 milhão de cruzeiros. Em dezembro, o
contracheque já era de 5,2
milhões. O efeito foi nulo
para combater a corrupção. Em 1993, o caso dos
"anões do Orçamento" revelou mais de uma dezena
de congressistas desviando verbas públicas.
Em janeiro de 1995, os
salários no Congresso passaram de R$ 4.088 para R$
8.000, um pulo de 95,7%.
Dois anos depois, em 1997,
deputados se venderam
por R$ 200 mil para votar
a favor da emenda da
emenda da reeleição.
Em 2002, tudo de novo.
Os salários estavam em R$
8.280. Na época do escândalo do mensalão, em
2005, os rendimentos
eram de quase R$ 13 mil.
O padrão não se altera:
as altas de salários nunca
são acompanhadas de elevação equivalente de valores republicanos no Congresso. Ao argumentar que
seus rendimentos são incompatíveis com as responsabilidades que têm,
os políticos usam um ardil.
De fato, suas atribuições
são relevantes. Mas nunca
se comparam à população.
A média patrimonial declarada dos 13,9 milhões
de contribuintes ao IR em
2000 foi de R$ 123,5 mil.
Já os políticos vencedores
em 2002 afirmaram possuir bens num valor médio
de R$ 1,530 milhão
-1.139% acima dos brasileiros que declaram IR.
Quanto à renda, o pesquisador Marcelo Medeiros, da UnB, identificou
quem são os mais abastados no país. Em valores de
2005, as famílias com rendimento per capita acima
de R$ 3.500 equivaliam só
a 1% do total da população.
A elite "ocupa o topo estreito de uma pirâmide cuja base larga é constituída
por milhões de miseráveis", escreveu Medeiros.
Os políticos estão no topo
e têm uma vantagem: sempre que se sentem em queda podem se autoconceder
aumentos salariais. Os miseráveis pagam a conta.
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