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Niemeyer se diz surpreso com restrição de Lula à esquerda
Comunista, que faz 99 anos hoje e votou no petista, se sente decepcionado com declaração
Para Lula, idoso de esquerda "deve ter problemas"; "que remédio...", comentou
Niemeyer sobre vinculação entre idade e ideologia
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O arquiteto Oscar Niemeyer
completa hoje 99 anos decepcionado com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), em
quem votou e em quem recomendou o voto na eleição deste
ano. A declaração de Lula de
que "uma pessoa idosa de esquerda deve ter problemas"
surpreendeu o arquiteto, comunista desde a juventude.
Embora, em entrevista por
telefone à Folha, tenha dito
que não gostaria de fazer comentários sobre a fala do presidente, Niemeyer deixou escapar o quanto ficou surpreso
com o que leu nos jornais de
terça-feira passada.
"É, que remédio... Surpreendeu todo mundo", afirmou ele.
Aos amigos que estiveram
com ele nos dois últimos dias, o
arquiteto afirmou ter sentido
decepção com a declaração do
presidente. Disse que não esperava algo do tipo de uma pessoa
de origem humilde, que militou no sindicalismo e na política com discurso e posicionamento esquerdistas.
Na entrevista, Niemeyer preferiu não se estender sobre o
assunto. "Eu não quero fazer
comentários. Acho que não interessa", afirmou, encerrando a
conversa sobre o tema.
Sobre o aniversário, o arquiteto anunciou que não pretende mesmo participar de comemorações e homenagens, apesar de alguns convites terem sido apresentados a ele e à sua
mulher, Vera Lúcia Cabreira,
com quem casou em novembro, após dois anos de viuvez.
"Isso [o aniversário] não
existe. Para mim já passou.
Não, nada disso [comemorar a
data]. Vou procurar me esconder onde for mais oportuno",
limitou-se a declarar.
A insistência em saber a razão de ter decidido manter-se
recluso numa ocasião que deveria ser festiva rendeu a seguinte explicação do arquiteto
que, entre outros trabalhos de
destaque internacional, projetou Brasília há 50 anos: "É muito chato, muito chato. Muita
gente, muita confusão".
A recuperação da fratura no
quadril sofrida em 8 de outubro, em uma queda em sua casa, foi abordada na conversa
com a Folha.
Ele disse que, apesar da idade, não tem doenças. Mas reclamou das sessões de fisioterapia e musculação a que tem
sido submetido por orientação
médica.
"Estou em convalescência.
Estou com a perna quebrada,
consertada. Eu não tenho
doença. Mas o negócio é a musculação. Tem que fazer fisioterapia. É uma merda", queixou-se o arquiteto.
Nesta semana, as sessões estão sendo feitas no escritório
da avenida Atlântica (Copacabana, zona sul do Rio), onde
Oscar Niemeyer já voltou a
trabalhar.
Dois trabalhos estão sendo
priorizados por ele: a conclusão do Teatro Popular, em Niterói (município a 15 km da capital fluminense) e a inauguração em Havana da escultura
com que presenteou o ditador
cubano Fidel Castro, que completou 80 anos em outubro.
Vera Lúcia disse à Folha anteontem, por telefone, que o
marido enviou a planta da escultura para Cuba no primeiro
semestre deste ano.
Agora, souberam que a peça,
de 9,5 toneladas, está pronta
para ser inaugurada na praça
da Universidade das Ciências
Informáticas de Havana.
A escultura opõe, frente a
frente, uma espécie de monstro com a boca aberta e um cubano, com a bandeira do país nas mãos.
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