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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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SUL X NORTE

Conselho internacional do evento, que tem início em uma semana, e comitê brasileiro divergem sobre tomada de decisões

Fórum Social começa com disputa de poder

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Fórum Social Mundial, que terá início daqui a uma semana, em Porto Alegre, reunindo ONGs e representantes de movimentos sociais de todo o mundo em torno da crítica ao atual modelo de globalização, chega à sua terceira edição marcado por disputas internas de poder.
Integrantes do conselho internacional (que reúne organizações e movimentos sociais de todo o mundo) do fórum criticam a centralização do poder de decisão sobre a pauta e as diretrizes do encontro nas mãos do comitê organizador brasileiro -do qual participam oito entidades, que na prática coordenam o processo decisório desde a primeira edição do evento de Porto Alegre.
"Tem que ser dada maior importância ao conselho internacional. Não quero criticar a coordenação brasileira, que vem fazendo um ótimo trabalho, mas penso que, para dar continuidade ao fórum, é preciso garantir uma maior presença internacional no processo decisório", afirma Bernard Cassen, presidente de honra da ONG Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), que integra o conselho internacional.
Cassen é fundador do Fórum Social Mundial e diretor-geral do jornal "Le Monde Diplomatique".
O sociólogo Emir Sader, representante do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais) no conselho internacional, defende uma maior "internacionalização, democratização e politização" do fórum.
A disputa entre os dois grupos será travada nos dias 21 e 22, quando os representantes de cerca de cem organizações que integram o conselho internacional (no qual também têm assento os membros do comitê brasileiro) vão se reunir em Porto Alegre.

Eleição
No encontro, que antecede o Fórum Social, Sader proporá que a coordenação do conselho, que passaria a ser responsável por colocar em prática suas decisões e preparar os encontros, seja eleita e tenha mandato de um ano.
Para Francisco Whitaker e Maria Luisa Mendonça, do comitê brasileiro, não cabe falar em eleição para a coordenação. "Não faz sentido, pelo menos agora. Não somos uma organização que tenha hierarquia", diz Maria Luisa.
Whitaker diz que o conselho internacional foi uma criação do comitê brasileiro. "Convidamos grande número de ONGs a participar. Progressivamente, o próprio comitê foi concedendo a ele [conselho" funções novas."
Participam do comitê brasileiro Abong (Associação Brasileira de ONGs), Attac, Comissão de Justiça e Paz, Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, MST e CUT.
Sader afirma ainda que é necessária uma maior politização do fórum, usualmente sujeito à crítica de que nele muito é discutido mas nenhuma alternativa concreta é apresentada. "É preciso formularmos grandes alternativas globais. Temos que ir para Cancún [onde ocorrerá a próxima rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio, em setembro] com propostas", diz.
Maria Luisa, que é representante da ONG Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, diz que não cabe ao fórum decidir "a linha política do movimento global". "[Porto Alegre] é um encontro de várias redes. O que a gente faz é proporcionar um espaço físico."
O próximo fórum deve acontecer na Índia, em 2004 -Whitaker confirma a tendência. A decisão será tomada na reunião do conselho. Whitaker afirma que, com a transferência da sede do encontro para a Ásia, seria criada uma coordenação indiana para a organização do evento, mas o comitê brasileiro assumiria a "secretaria do conselho internacional".
Sader diz que o grupo brasileiro "teve um papel na origem do fórum, mas esse papel se esgotou". "Nenhuma organização nacional pode resolver todos os problemas [relativos ao Fórum Social]", diz.

Policiamento
Devido ao fórum, Porto Alegre terá, a partir de amanhã, 2.850 policiais nas ruas -contando policiais que fazem mais horas-extras-, com ênfase nos locais do evento, bancos e multinacionais. O policiamento normal da cidade é de 1.700 policiais. São esperadas 100 mil pessoas no evento.


Colaborou a Agência Folha, em Porto Alegre


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