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SUL X NORTE
Conselho internacional do evento, que tem início em uma semana, e comitê brasileiro divergem sobre tomada de decisões
Fórum Social começa com disputa de poder
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Fórum Social Mundial, que
terá início daqui a uma semana,
em Porto Alegre, reunindo ONGs
e representantes de movimentos
sociais de todo o mundo em torno
da crítica ao atual modelo de globalização, chega à sua terceira edição marcado por disputas internas de poder.
Integrantes do conselho internacional (que reúne organizações
e movimentos sociais de todo o
mundo) do fórum criticam a centralização do poder de decisão sobre a pauta e as diretrizes do encontro nas mãos do comitê organizador brasileiro -do qual participam oito entidades, que na
prática coordenam o processo decisório desde a primeira edição do
evento de Porto Alegre.
"Tem que ser dada maior importância ao conselho internacional. Não quero criticar a coordenação brasileira, que vem fazendo
um ótimo trabalho, mas penso
que, para dar continuidade ao fórum, é preciso garantir uma
maior presença internacional no
processo decisório", afirma Bernard Cassen, presidente de honra
da ONG Attac (Ação pela Tributação das Transações Financeiras
em Apoio aos Cidadãos), que integra o conselho internacional.
Cassen é fundador do Fórum
Social Mundial e diretor-geral do
jornal "Le Monde Diplomatique".
O sociólogo Emir Sader, representante do Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais) no conselho internacional,
defende uma maior "internacionalização, democratização e politização" do fórum.
A disputa entre os dois grupos
será travada nos dias 21 e 22,
quando os representantes de cerca de cem organizações que integram o conselho internacional
(no qual também têm assento os
membros do comitê brasileiro)
vão se reunir em Porto Alegre.
Eleição
No encontro, que antecede o
Fórum Social, Sader proporá que
a coordenação do conselho, que
passaria a ser responsável por colocar em prática suas decisões e
preparar os encontros, seja eleita
e tenha mandato de um ano.
Para Francisco Whitaker e Maria Luisa Mendonça, do comitê
brasileiro, não cabe falar em eleição para a coordenação. "Não faz
sentido, pelo menos agora. Não
somos uma organização que tenha hierarquia", diz Maria Luisa.
Whitaker diz que o conselho internacional foi uma criação do comitê brasileiro. "Convidamos
grande número de ONGs a participar. Progressivamente, o próprio comitê foi concedendo a ele
[conselho" funções novas."
Participam do comitê brasileiro
Abong (Associação Brasileira de
ONGs), Attac, Comissão de Justiça e Paz, Cives (Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania), Ibase (Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas),
Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos, MST e CUT.
Sader afirma ainda que é necessária uma maior politização do
fórum, usualmente sujeito à crítica de que nele muito é discutido
mas nenhuma alternativa concreta é apresentada. "É preciso formularmos grandes alternativas
globais. Temos que ir para Cancún [onde ocorrerá a próxima rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio, em setembro] com propostas", diz.
Maria Luisa, que é representante da ONG Rede Social de Justiça e
Direitos Humanos, diz que não
cabe ao fórum decidir "a linha política do movimento global".
"[Porto Alegre] é um encontro de
várias redes. O que a gente faz é
proporcionar um espaço físico."
O próximo fórum deve acontecer na Índia, em 2004 -Whitaker
confirma a tendência. A decisão
será tomada na reunião do conselho. Whitaker afirma que, com a
transferência da sede do encontro
para a Ásia, seria criada uma
coordenação indiana para a organização do evento, mas o comitê
brasileiro assumiria a "secretaria
do conselho internacional".
Sader diz que o grupo brasileiro
"teve um papel na origem do fórum, mas esse papel se esgotou".
"Nenhuma organização nacional
pode resolver todos os problemas
[relativos ao Fórum Social]", diz.
Policiamento
Devido ao fórum, Porto Alegre
terá, a partir de amanhã, 2.850 policiais nas ruas -contando policiais que fazem mais horas-extras-, com ênfase nos locais do
evento, bancos e multinacionais.
O policiamento normal da cidade
é de 1.700 policiais. São esperadas
100 mil pessoas no evento.
Colaborou a Agência Folha, em Porto
Alegre
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