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RORAIMA
Indígenas contrários à homologação da reserva Raposa/Serra do Sol integram o chamado esquema dos "gafanhotos"
Folha dos "fantasmas" incluía 150 índios
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Índios ligados à Sodiur, principal entidade indígena contrária à
homologação em área contínua
da reserva Raposa/Serra do Sol,
em Roraima, são acusados de integrar o esquema dos "gafanhotos" do governo estadual.
A força-tarefa que investiga o
caso, formada por Ministério Público e Polícia Federal, encontrou
pelo menos 150 índios da etnia
macuxi na folha de pagamento do
esquema -pelo qual pessoas indicadas por autoridades de Roraima recebiam, por meio de procurações, os salários de cerca de
5.500 funcionários fantasmas.
Pelo menos 22 desses índios são
comprovadamente filiados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), que comandou, ao lado de
fazendeiros, bloqueios de rodovias e invasões de prédios públicos na semana passada.
A entidade defende que a reserva seja homologada de forma
não-contínua, permitindo a permanência de não-índios na região. Essa é a mesma posição do
governador Flamarion Portela
(que se afastou do PT), citado pelo Ministério Público como envolvido no "escândalo dos gafanhotos" em inquérito enviado ao
Superior Tribunal de Justiça.
De acordo com as investigações,
os índios macuxis eram cadastrados na folha de pagamento do Estado com salários entre R$ 1.500 e
R$ 1.980 por meio das procurações de Edlamar Pereira, irmã do
ex-deputado estadual Gelb Pereira (PDT). Ele e suas irmãs, Edlamar e Havany, ficaram presos por
dez dias por acusação de formação de quadrilha e peculato. As investigações apontam que Pereira
teria sua base eleitoral entre os
macuxis de aldeias da região de
Normandia, município que fica
dentro da Raposa/Serra do Sol.
A Funai (Fundação Nacional do
Índio) e o Ministério Público Federal afirmam que a relação do
ex-deputado com os índios no
"escândalo dos gafanhotos" prova que houve "aliciamento" para
arregimentar indígenas contra a
homologação da reserva: "Esses
índios foram aliciados pelos políticos contrários à demarcação da
terra indígena, o que é crime. É
uma forma de pagar os índios para que eles também sejam contra
a demarcação ", disse Manoel Tavares, administrador substituto
da Funai, em Boa Vista.
"O fato de existirem "gafanhotos" na área indígena [Raposa/
Serra do Sol] demonstra a relação
promíscua que existe entre alguns
políticos e lideranças indígenas",
disse o procurador Darlan Dias.
A Agência Folha teve acesso a
trechos dos depoimentos de 22
índios de um total de cerca de 150
indígenas supostamente envolvidos. Todos eles são ligados à Sodiur. Os índios confirmaram que
assinaram as procurações em cartórios de Boa Vista, mas teriam ficado "surpresos" com os salários,
já que só chegavam às suas mãos
de R$ 100 a R$ 200. Os macuxis
afirmaram que receberam o dinheiro como uma "ajuda" do ex-deputado Gelb Pereira a pessoas
carentes. Segundo os índios, o dinheiro era pago nas malocas por
emissários do político, ou no gabinete de Pereira na Assembléia.
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