São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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OPERAÇÃO ANACONDA

2 depuseram

Acusadora vê armação nos depoimentos

DA REPORTAGEM LOCAL

A procuradora Janice Ascari, do Ministério Público Federal em São Paulo, disse ontem que acredita que os acusados da prática de crimes pela Operação Anaconda estejam combinando entre si seus depoimentos à Justiça.
Com exceção de Norma Regina Emílio Cunha, que está presa em Brasília, e dos juízes Ali e Cassem Mazloum, que não foram presos, todos os outros acusados estão detidos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo.
"Todos dão negativas gerais para todas as perguntas, negam a prática de crimes e a existência de quadrilha", declarou Ascari.
Segundo ela, isso ocorre porque não existe o crime de perjúrio no Brasil. Com isso, o réu pode omitir a verdade e até mentir. "Os depoimentos dos acusados não acrescentam nada aos processos", disse a procuradora, que também afirmou que "nada do que foi dito pode pôr abaixo as provas que estão nos autos".

Depoimentos
Prestaram depoimento ontem à desembargadora federal Therezinha Cazerta, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região (em São Paulo), o delegado federal aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva e o empresário Sérgio Chiamarelli Júnior.
O advogado Wilson Rogério Martins, que representa Bezerra da Silva, afirmou que seu cliente "não é quadrilheiro", que ele é inocente, que está sendo "perseguido" por inimigos na Polícia Federal e que "toda a prova [apresentada pela acusação] é ilícita".
Segundo ele, Bezerra da Silva tem inimigos na PF "por ser um homem independente". Ele declarou que, desde que se aposentou, o delegado atua como advogado e que defende vítimas de extorsões. "Meu cliente falou a verdade diante de uma ação penal construída em cima da mentira."
Já o advogado Ronaldo Souza Júnior, que representa Chiamarelli Júnior, negou que seu cliente tenha pago US$ 100 mil por uma sentença do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos. Disse que ele não tem nenhuma relação pessoal com o juiz e afirmou que seu cliente desconhece a existência de quadrilha. Confirmou apenas que agente César Herman Rodriguez foi advogado de Chiamarelli Júnior quando estava afastado da Polícia Federal.
Souza Júnior disse que seu cliente negou que estivesse ao lado do delegado José Augusto Bellini quando ele travou uma conversa grampeada pela Polícia Federal com o juiz Rocha Mattos.
Na conversa, o delegado diz que "o Serginho [Chiamarelli Júnior] está mandando um beijo" e o juiz pergunta se ele gostou da decisão que o inocentou. O delegado responde: "Sim, por isso mesmo, tá te mandando um beijo."
A sentença que inocentou Chiamarelli Júnior foi proferida em 7 de maio de 2003 e o diálogo do beijo ocorreu, segundo a Polícia Federal, cinco dias depois.
(ROBERTO COSSO)


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