São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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AEROLULA

Aeronáutica ironiza largura da cama do avião, que seria estreita, e diz que novo Airbus permite a Lula comandar país do ar

Governo usa terrorismo para justificar avião

MARTA SALOMON
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O avião presidencial de US$ 56,7 milhões, que pousou ontem de manhã na Base Aérea de Brasília, pode não garantir um bom sono ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo comentários feitos pelo comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno.
"É muito estreita a cama, acho que ele [presidente] vai ter de emagrecer", disse o comandante diante da projeção de imagens do interior do avião, com chuveiro no banheiro e sala de reuniões para oito pessoas. A cama é de casal.
O AeroLula, um ACJ (Airbus Corporate Jetliner) batizado Santos Dumont, pousou pouco depois das 10h30 em Brasília, após enfrentar ventos fortes e atrasar uma hora e 40 minutos no vôo vindo de Toulouse, na França, sede da Airbus. A montagem do avião foi feita na Alemanha e nos Estados Unidos.
Em documento, o Comando da Aeronáutica mencionou os ataques terroristas de 2001 nos Estados Unidos e a possibilidade de o presidente da República ter de comandar o país do ar numa situação de crise ou conflito para justificar a compra.
A aeronave pode ainda operar na neve, cruzar o oceano sem escalas e pousar em pistas mais curtas, o que permitirá viagens do presidente pelo interior do país.
A autonomia para voar equivalente a 8.400 quilômetros sem pausa para abastecimento de combustível afastou a brasileira Embraer do negócio.
Na apresentação que acompanhou a chegada do Santos Dumont, o comandante Bueno insistiu em que a compra do ACJ (uma versão corporativa do A-319) representará uma economia em relação ao fretamento de aeronaves, opção adotada em viagens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entre fevereiro de 1999 e abril de 2001.
Seriam US$ 2.100 da hora de vôo do Airbus contra US$ 12 mil de um avião comercial fretado. A Aeronáutica não deixou claro se considerou o custo do ACJ ou apenas os gastos com combustível e manutenção, o que equivaleria comparar o preço de uma corrida de táxi com apenas o consumo de combustível e óleo de um automóvel próprio. Por ser um avião militar, o AeroLula não dispõe de seguro.
O negócio com a Airbus foi feito sem licitação para não tornar públicos detalhes técnicos da aeronave. O contrato, mantido em reserva igualmente por questões de segurança nacional, prevê compensação em investimentos e transferência de tecnologia por parte da Airbus de, pelo menos, o valor do ACJ-319. O primeiro resultado da compensação é a fábrica Sopeçaero, em São José dos Campos (SP), que produzirá peças para jatos e já recebeu US$ 2,3 milhões em investimentos.
Segundo o piloto que trouxe o AeroLula ao Brasil, Univaldo Batista de Sousa, o avião "é sóbrio, digno de um representante de um país como o nosso". Lula estreará o avião nesta semana, quando viaja a Tabatinga (AM).
Aposentado por obsolescência, o Sucatão continuará voando em outras missões.


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