|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AEROLULA
Aeronáutica ironiza largura da cama do avião, que seria estreita, e diz que novo Airbus permite a Lula comandar país do ar
Governo usa terrorismo para justificar avião
MARTA SALOMON
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O avião presidencial de US$ 56,7
milhões, que pousou ontem de
manhã na Base Aérea de Brasília,
pode não garantir um bom sono
ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, segundo comentários feitos
pelo comandante da Aeronáutica,
Luiz Carlos da Silva Bueno.
"É muito estreita a cama, acho
que ele [presidente] vai ter de
emagrecer", disse o comandante
diante da projeção de imagens do
interior do avião, com chuveiro
no banheiro e sala de reuniões para oito pessoas. A cama é de casal.
O AeroLula, um ACJ (Airbus
Corporate Jetliner) batizado Santos Dumont, pousou pouco depois das 10h30 em Brasília, após
enfrentar ventos fortes e atrasar
uma hora e 40 minutos no vôo
vindo de Toulouse, na França, sede da Airbus. A montagem do
avião foi feita na Alemanha e nos
Estados Unidos.
Em documento, o Comando da
Aeronáutica mencionou os ataques terroristas de 2001 nos Estados Unidos e a possibilidade de o
presidente da República ter de comandar o país do ar numa situação de crise ou conflito para justificar a compra.
A aeronave pode ainda operar
na neve, cruzar o oceano sem escalas e pousar em pistas mais curtas, o que permitirá viagens do
presidente pelo interior do país.
A autonomia para voar equivalente a 8.400 quilômetros sem
pausa para abastecimento de
combustível afastou a brasileira
Embraer do negócio.
Na apresentação que acompanhou a chegada do Santos Dumont, o comandante Bueno insistiu em que a compra do ACJ (uma
versão corporativa do A-319) representará uma economia em relação ao fretamento de aeronaves,
opção adotada em viagens do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso entre fevereiro de 1999 e
abril de 2001.
Seriam US$ 2.100 da hora de
vôo do Airbus contra US$ 12 mil
de um avião comercial fretado. A
Aeronáutica não deixou claro se
considerou o custo do ACJ ou
apenas os gastos com combustível e manutenção, o que equivaleria comparar o preço de uma corrida de táxi com apenas o consumo de combustível e óleo de um
automóvel próprio. Por ser um
avião militar, o AeroLula não dispõe de seguro.
O negócio com a Airbus foi feito
sem licitação para não tornar públicos detalhes técnicos da aeronave. O contrato, mantido em reserva igualmente por questões de
segurança nacional, prevê compensação em investimentos e
transferência de tecnologia por
parte da Airbus de, pelo menos, o
valor do ACJ-319. O primeiro resultado da compensação é a fábrica Sopeçaero, em São José dos
Campos (SP), que produzirá peças para jatos e já recebeu US$ 2,3
milhões em investimentos.
Segundo o piloto que trouxe o
AeroLula ao Brasil, Univaldo Batista de Sousa, o avião "é sóbrio,
digno de um representante de um
país como o nosso". Lula estreará
o avião nesta semana, quando
viaja a Tabatinga (AM).
Aposentado por obsolescência,
o Sucatão continuará voando em
outras missões.
Texto Anterior: A céu aberto: Crianças são expostas a esgoto Próximo Texto: Janio de Freitas: De pernas para o ar Índice
|