São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010 |
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Zilda é velada como "mártir" em Curitiba
Velório reúne ao menos 2.000 pessoas no Palácio das Araucárias; médica será enterrada em cerimônia privada hoje
Em meio à emoção da despedida, visitantes, familiares e autoridades elevaram a fundadora da Pastoral da Criança, Zilda
Arns, à condição de "mártir". A
médica morreu na terça-feira,
no terremoto que atingiu o
Haiti. Seu corpo chegou ontem
a Curitiba (PR), cidade em que
ela cresceu e onde fica a sede
nacional da Pastoral.
"A gente sentia Deus quando
ela estava por perto", disse o
voluntário da pastoral Antonio
Machado, 71, de Lapa, na região
metropolitana de Curitiba.
"Ela olhará por nós lá de cima."
Até as 18h, cerca de 2.000
pessoas haviam comparecido
ao velório, segundo Polícia Militar. Como peregrinos, muitos
vinham de outros Estados e até
de países vizinhos para prestar
a última homenagem. A expectativa é que cerca de cem ônibus de líderes e voluntários da
instituição cheguem hoje,
quando Zilda será sepultada.
A um grupo de Blumenau
(SC) a irmã da médica, a religiosa Hilda Arns, 82, pediu para
que orassem para Zilda, que
"foi chamada por Deus porque
era mais necessária lá, ajudando-o". "Orem para ela quando
tiverem problemas com crianças, que ela irá ajudar", disse.
O chefe de gabinete de Lula,
Gilberto Carvalho, afirmou que
o Brasil perdia uma "grande
militante" e ganhava "uma
grande padroeira". Ele defendeu que o país "adote" o Haiti a
partir de agora. "Temos até
uma mártir naquele país."
O velório começou por volta
das 11h, quando o corpo chegou
ao Palácio das Araucárias, sede
do governo do Paraná.
Durante todo o velório, o caixão permaneceu fechado, coberto com as bandeiras do Brasil e da pastoral. Havia ainda
uma foto da médica.
Uma missa foi celebrada ainda pela manhã em Curitiba.
Vinda da Argentina de ônibus, especialmente para o velório, a estudante de medicina
Samara Melo, 20, viajou por
dois dias seguidos. "Já que não
tive oportunidade em vida de
conhecê-la, pelo menos a conheço agora", disse.
"Ela se dedicou à pobreza, às
crianças. Serve como exemplo
para todos", disse a professora
Maria Guiomar Coppola, 55,
que percorreu cerca de 400 km
de carro, desde Santana do Itararé, no norte do Paraná, para ir
ao velório. Ela esperou uma hora para ver o caixão.
Familiares de Zilda Arns, entre filhos, sobrinhos e netos, se
revezavam para cumprimentar
cada um dos que passavam pelo
velório. Seu irmão, o cardeal d.
Paulo Evaristo Arns, arcebispo
emérito de São Paulo, não compareceu por motivos de saúde.
"A melhor coisa que temos a
fazer é continuar o trabalho dela", disse o sobrinho de Zilda,
médico Clóvis Arns da Cunha.
"Há coisas que o governo não
é capaz de fazer sozinho. Por
exemplo, trabalhar com a própria família. Com a comunidade organizada, fica mais fácil. E
a doutora Zilda nos mostrou isso como poucos", disse o senador Flávio Arns (PSDB-PR),
também sobrinho da médica.
O velório segue até as 14h de
hoje. O enterro será realizado
por volta das 16h, no Cemitério
Água Verde, e será restrito à família e a amigos. Antes, às 14h,
haverá uma missa para familiares e autoridades, no Palácio
das Araucárias.
(ANA FLOR, ESTELITA HASS CARAZZAI e HENDRYO ANDRÉ) |
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