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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Em entrevista à revista "Veja", ex-amiga afirma que senador baiano a perseguiu após fim de relacionamento amoroso

Advogada diz que ACM é responsável por grampos

DA REPORTAGEM LOCAL

A ex-amiga de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a advogada baiana Adriana Barreto, 30, acusou o senador de ser o responsável pelos grampos em seu telefone e em linhas de pessoas ligadas a ela. Em entrevista à revista "Veja", Adriana diz ter mantido "um romance de alguns anos com o senador" e que, após o rompimento, teria sofrido "todo o tipo de perseguição e intimidação".
Adriana, o seu atual marido, o advogado Plácido Faria, os familiares e amigos dele, além de desafetos políticos de ACM, tiveram seus telefones grampeados ilegalmente, a pedido do governo da Bahia, entre 2001 e 2002.
Plácido Faria disse à revista que, após iniciar o relacionamento com Adriana, no final de 2001, ACM transformou a vida dos dois em um "inferno". "Confesso que cheguei a pensar em fazer uma besteira", afirmou o advogado.
De acordo com a revista "Época", ACM teria avisado Adriana que iria mandar grampear os telefones do marido dela. A advogada teria afirmado: "Ele [ACM" me disse que ia grampear e que isso seria para o meu próprio bem".
O pai de Plácido, César Faria, a ex-mulher do advogado, Márcia Reis, e seu ex-sócio, Manoel Cerqueira, também foram grampeados. Além deles, os deputados federais Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Nelson Pellegrino (PT-BA) e o ex-deputado federal Benito Gama (PMDB-BA) também tiveram instaladas em suas linhas de telefone escutas ilegais.

Perseguição
Adriana contou detalhes da suposta perseguição de ACM contra ela e seu marido. Um carro da Polícia Militar da Bahia chegou a ficar parado na porteira da fazenda de Plácido, no interior do Estado, quando a advogada foi passar um feriado, no ano passado, no local.
Os dois contaram também que foram filmados e fotografados a mando de ACM quando frequentavam lugares públicos, como restaurantes e shoppings de Salvador. Uma empregada de Adriana teria dado informações para o senador sobre a rotina do casal em troca de dinheiro. Clientes de Plácido teriam deixado seu escritório por estarem sendo intimidados.
Na semana passada, uma lista levada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pelo presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Carlos Alberto Cintra, mostrou que 232 telefones foram grampeados ilegalmente a pedido de autoridades baianas.
Os grampos começaram com um pedido à Justiça da delegada Angela Sá Labanca, entre outubro e novembro de 2001, de quebra de sigilo telefônico de 86 pessoas que estariam envolvidas na investigação de uma quadrilha de sequestradores baianos.
Em entrevista à Folha na semana passada, o senador negou o envolvimento com os grampos telefônicos. "Não estou envolvido nesse assunto e não tenho mais nada o que dizer além do que já disse. Agora, aguardo, com ansiedade, as investigações policiais, tanto da Polícia Federal quanto do Estado, para demonstrar que têm muitos levianos que deveriam estar realmente fora da política, à medida que, sem provas, acusam pessoas que nada têm com o assunto". Ontem, o senador baiano não foi localizado.
Durante a entrevista, o senador chegou a afirmar que acredita que Adriana é uma pessoa "correta".
O presidente do PT, José Genoino, afirmou ontem, em Campinas, que o caso dos grampos telefônicos é "grave" e que confia nas apurações da Justiça Federal e do Ministério Público sobre o fato. Ele não descartou a necessidade de realizar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).


Colaborou a Folha Campinas

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