São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Selos e Anhembi movimentavam R$ 10 mi

LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local

Nicéa Pitta afirmou, em seu depoimento ao Ministério Público, que Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf, controlava extra-oficialmente duas importantes fontes de recursos municipais: o Casa, que mantém crianças carentes, e o estacionamento do Anhembi.
A Folha apurou que, só em 97, as duas atividades movimentaram cerca de R$ 10,5 milhões.
O Casa (Centro de Apoio Social e Atendimento) e o Anhembi já são alvo de investigação da Polícia Civil e do Ministério Público desde o primeiro semestre do ano passado.
No depoimento prestado na segunda-feira, Nicéa disse que, em 98, "descobriu" um desvio dos recursos destinados ao Casa, órgão do qual era presidente de honra.
Esses recursos eram obtidos com a comercialização de selos de publicidade pagos por empresas interessadas na colocação de placas nas ruas ou na distribuição de panfletos.
A ex-primeira-dama afirmou, que o total arrecadado com o selo não era destinado ao Casa e que, ao tentar apurar as irregularidades, foi alertada pessoalmente por Flávio Maluf para não se envolver com a questão.
Nicéa afirmou que ela foi procurada por Flávio Maluf em seu apartamento.

Apreensão
Segundo a polícia, as informações prestadas por Nicéa serão incluídas no inquérito policial, aberto em maio do ano passado, que apura as supostas irregularidades no Casa.
Na época, foram apreendidas cerca de 300 caixas com documentos do órgão. O objetivo, segundo a polícia, é verificar o número de selos confeccionados entre 93 e o primeiro semestre de 98 para comparar com os recursos que foram obtidos.
No dia da apreensão, Nicéa foi ouvida pela polícia e afirmou que os recursos do Casa, provenientes da venda dos selos, eram irrisórios e que, por isso, o prefeito extinguiu a exigência do selo. Na época, ela negou a existência de qualquer irregularidade no órgão.
Mas dados da prefeitura mostram que foi arrecadado, por meio da comercialização dos selos de publicidade, R$ 6,5 milhões em 95 e R$ 9,3 milhões em 96. Em 97, primeiro ano da gestão Pitta, os recursos caíram para R$ 4,5 milhões.
A polícia ouviu ainda funcionários que afirmaram que a autorização (o selo) poderia ser obtida por meio do pagamento de propina aos fiscais.
O selo foi extinto no primeiro semestre do ano passado, quando o prefeito Celso Pitta determinou o fim da exigência que deveria comprovar o pagamento da taxa.

Anhembi
Outra fonte de recursos municipais supostamente controlada por Flávio Maluf, segundo Nicéa, era o estacionamento do Anhembi. Com capacidade para 7.500 vagas, a atividade movimentava por ano cerca de R$ 7 milhões.
Segundo Nicéa, Flávio indicou o então presidente Ricardo Castello Branco, que já havia participado do governo Paulo Maluf, e pressionou o prefeito Celso Pitta a não informatizar o estacionamento.
Em abril do ano passado, a polícia apreendeu dezenas de caixas com os tíquetes e documentos referentes ao estacionamento do Anhembi.
O objetivo, segundo a polícia, é apurar denúncias de duplicação de tíquetes e de superfaturamento das notas emitidas.
O controle de carros no estacionamento é manual e, em finais de semana com eventos, a atividade chega a movimentar cerca de R$ 200 mil.
De acordo com o delegado Itagiba Franco, encarregado pelas apurações das irregularidades do Anhembi, os documentos foram enviados ao TCM (Tribunal de Contas do Município) e o relatório ainda não foi concluído.


Texto Anterior: As principais acusações de Nicéa
Próximo Texto: Acusados contestam depoimento
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.