São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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JANIO DE FREITAS

O novo poder

Osama Bin Laden e sua Al Qaeda estendem seus domínios, da área criminal para o campo da política, e se tornam, respectivamente, o mais poderoso eleitor e o mais influente movimento eleitoral do mundo. É a inovação que se irradia, para uso do Ocidente, do atentado em Madri.
Um dia inteiro depois da explosão dos trens ainda havia quem desse entrevista dizendo ser "absolutamente certa na eleição a vitória do governo, com seus oito anos de êxito econômico". Os mais atilados, porém, àquela altura já projetavam sua percepção muito além da eleição espanhola: outros três candidatos em eleições próximas, no primeiro mundo, ficaram sujeitos a reflexos do atentado madrileno. Já no fim de semana, Bush, Tony Blair e o italiano Silvio Berlusconi encaixavam frases preventivas em seus pronunciamentos públicos. Um prenúncio do esforço que se inclui, de repente, entre suas prioridades.
Há uma nova presença, forte presença, política e eleitoral no primeiro mundo. O que até agora, nos Estados Unidos e nos seus aliados de ação bélica, era cobrança pelos infrutíferos gastos em vidas e em dólares na invasão de dois países, Afeganistão e Iraque, ameaça transformar-se em responsabilização, sob a forma de voto contrário, pelo medo de mais respostas terroristas ao antiterrorismo belicista. Um medo acusador e punitivo que não depende de ataques da Al Qaeda também nos seus outros "inimigos".
Como disse um artigo de Peter Graff, comentarista da Reuters, nos possíveis países-alvos "não somente os chefes da segurança estão muito preocupados com o fato de não saberem o que fazer agora, como também o público tem conhecimento disso". Sabe-se o que farão: redobrar os bilhões já gastos na pretensa repressão ao terrorismo e, provavelmente, surpreender-se com um ataque não pressentido, em lugar não previsto. Dois anos e meio de restrições aos vôos e seus passageiros, e a Al Qaeda explodiu trens. Gastar e agir politicamente para a redução das causas, isso não será feito.
O atentado em Madri tende a irradiar mais reflexos sobre o mundo e seus poderes do que o ataque às torres de Nova York e ao Pentágono.


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