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JANIO DE FREITAS
O novo poder
Osama Bin Laden e sua Al
Qaeda estendem seus domínios, da área criminal para o
campo da política, e se tornam,
respectivamente, o mais poderoso eleitor e o mais influente movimento eleitoral do mundo. É a
inovação que se irradia, para
uso do Ocidente, do atentado
em Madri.
Um dia inteiro depois da explosão dos trens ainda havia
quem desse entrevista dizendo
ser "absolutamente certa na
eleição a vitória do governo,
com seus oito anos de êxito econômico". Os mais atilados, porém, àquela altura já projetavam sua percepção muito além
da eleição espanhola: outros três
candidatos em eleições próximas, no primeiro mundo, ficaram sujeitos a reflexos do atentado madrileno. Já no fim de semana, Bush, Tony Blair e o italiano Silvio Berlusconi encaixavam frases preventivas em seus
pronunciamentos públicos. Um
prenúncio do esforço que se inclui, de repente, entre suas prioridades.
Há uma nova presença, forte
presença, política e eleitoral no
primeiro mundo. O que até agora, nos Estados Unidos e nos
seus aliados de ação bélica, era
cobrança pelos infrutíferos gastos em vidas e em dólares na invasão de dois países, Afeganistão e Iraque, ameaça transformar-se em responsabilização,
sob a forma de voto contrário,
pelo medo de mais respostas terroristas ao antiterrorismo belicista. Um medo acusador e punitivo que não depende de ataques da Al Qaeda também nos
seus outros "inimigos".
Como disse um artigo de Peter
Graff, comentarista da Reuters,
nos possíveis países-alvos "não
somente os chefes da segurança
estão muito preocupados com o
fato de não saberem o que fazer
agora, como também o público
tem conhecimento disso". Sabe-se o que farão: redobrar os bilhões já gastos na pretensa repressão ao terrorismo e, provavelmente, surpreender-se com
um ataque não pressentido, em
lugar não previsto. Dois anos e
meio de restrições aos vôos e
seus passageiros, e a Al Qaeda
explodiu trens. Gastar e agir politicamente para a redução das
causas, isso não será feito.
O atentado em Madri tende a
irradiar mais reflexos sobre o
mundo e seus poderes do que o
ataque às torres de Nova York e
ao Pentágono.
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