São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

No Planalto, Waldomiro teria exigido da GTech contratação de ex-assessor de Palocci em troca de renovação de contrato com a Caixa

PF quer quebrar sigilo bancário de Buratti

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal afirmou ontem dispor de "indícios muito fortes" de que Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, tenha praticado "crime" enquanto ocupava o cargo, no início do ano passado. A PF disse também que vai pedir quebra dos sigilos bancário e fiscal de Rogério Buratti, o novo personagem do caso.
O suposto crime de Waldomiro está justamente relacionado à sugestão, ou exigência, da contratação de Rogério Buratti. pela empresa GTech do Brasil, que gerencia as loterias do país. Buratti foi secretário de Governo do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) em 93 e 94, quando ele era prefeito de Ribeirão Preto.
"Já há indícios muito fortes de que ele [Waldomiro] praticou um crime, com certeza", disse ontem o delegado Antônio César Fernandes Nunes, referindo-se a corrupção passiva (quando há pedido de vantagem) ou concussão (extorsão praticada por funcionário público).
Waldomiro, ex-braço direito do ministro José Dirceu (Casa Civil), foi flagrado em vídeo de 2002, quando presidia a Loteria do Estado do Rio, pedindo propina ao empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Benedita da Silva (PT) era a governadora.
A Receita Federal e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) começaram a analisar os dados de Buratti e de empresas ligadas a ele. Esse é o primeiro passo antes da quebra dos sigilos bancário e fiscal. O delegado Nunes vai pedir a quebra também do sigilo telefônico de Buratti.
Segundo os depoimentos do ex-presidente da GTech do Brasil Antonio Carlos Lino Rocha e do diretor de marketing da empresa, Marcelo Rovai, Waldomiro fez uma "exigência velada". A empresa deveria contratar Buratti por uma cifra que variou de R$ 6 milhões a R$ 20 milhões, para que fosse renovado seu contrato com a Caixa Econômica Federal.
A "exigência" do contrato com Buratti teria sido feita no dia 31 de março, data prevista para a assinatura da renovação do contrato por 25 meses, de acordo com Rovai e Lino Rocha. Waldomiro teria dito que "uma pessoa influente e que ajudou na negociação" iria procurá-los. Depois, Buratti teria se apresentado como essa "pessoa influente". Rovai e Lino Rocha recolheram a documentação e enviaram os dados para a matriz da GTech, nos EUA. O nome não teria sido aprovado no processo interno de avaliação. Buratti foi demitido do governo Palocci em Ribeirão Preto por suspeitas de corrupção. Ele não foi localizado pela reportagem.
Até sexta, quando os executivos prestaram depoimento, não havia indício da atuação de Waldomiro na negociação do contrato entre Caixa e GTech.
Ontem, o delegado Nunes tentou ouvir o jornalista Mino Pedrosa, que presta consultoria ao laboratório Vitaplan, de Carlinhos Cachoeira. Pedrosa apresentou um habeas corpus preventivo e ficou em silêncio.


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