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RELIGIÃO
Boatos envolvem Marcelo Rossi e a Universal
"Carro do padre" opõe grupos religiosos
ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local
Dois boatos que circulam há pelo menos quatro semanas estão
acirrando as rivalidades entre católicos carismáticos e evangélicos
neopentecostais. As histórias,
sem comprovação, envolvem o
padre cantor Marcelo Rossi e um
carro importado.
Uma das versões sustenta que o
sacerdote ganhou um Mercedes
blindado da gravadora Universal,
como prêmio pelas vendagens
que atingiu no mercado fonográfico. A segunda versão conta que
foi o padre quem deu um automóvel para o pai -não um Mercedes, mas um BMW.
Nada impede, em termos eclesiásticos, que Rossi compre ou receba qualquer tipo de bem, já que
ele não fez voto de pobreza. Os
boatos, no entanto, lhe arranham
a credibilidade porque contradizem aquilo que o sacerdote sempre repete: não embolsa "nem um
centavo" do dinheiro que obtém
com a venda de discos, terços e livros. Afirma destinar tudo para
obras da diocese a que pertence
-a de Santo Amaro, na zona sul
paulistana.
Mesmo assim, as histórias do
BMW e do Mercedes se espalharam. Internet, jornais e TV as reproduziram como verdade. O padre negou enfaticamente cada
uma das informações. Mandou
cartas à imprensa e protagonizou
um desmentido no programa de
Gugu Liberato (SBT).
A gravadora Universal avalizou
os protestos de Rossi e argumentou que não o presenteou com
"carro algum, nem Mercedes
nem Fusca". O bispo de Santo
Amaro, d. Fernando Figueiredo,
também se pronunciou, classificando a boataria de "calúnia".
Por solicitação da Folha, o sacerdote forneceu dados que permitiram à reportagem consultar,
em São Paulo, o cadastro do Detran (Departamento Estadual de
Trânsito). O órgão registra que
não existe automóvel no nome de
Rossi e que seus pais possuem
apenas modelos da marca Fiat
-um Palio 99 e um Siena 2000.
Enquanto o padre procurava rebater os rumores, outro falatório,
igualmente sem comprovação,
tomou corpo entre leigos e religiosos que o acompanham. No
Santuário do Terço Bizantino,
palco das missas semanais do sacerdote, ainda hoje é possível encontrar fiéis convictos de que o
boato sobre o Mercedes nasceu
dentro da Rede Record.
A emissora tem ligações com a
Igreja Universal do Reino de
Deus, grupo evangélico que reverencia os poderes do Espírito Santo e, por isso, atua em seara semelhante à dos carismáticos (ala de
onde Rossi saiu).
São notórias as rivalidades que
opõem uns e outros. Para combater o sucesso do astro católico, a
Igreja Universal lançou um bispo
cantor, Marcelo Crivella. O padre,
em contrapartida, evita citar o nome atual de sua gravadora. Prefere chamá-la de PolyGram, como
era conhecida até 1998.
Embora não digam oficialmente, líderes carismáticos acreditam
que a Record "plantou o Mercedes" no "Programa Raul Gil" de
18 de março. A partir daí, a história teria ganho fôlego e gerado
"um filhote": o caso do BMW.
De fato, na tarde de sábado, 18,
Raul Gil -um dos campeões de
audiência da emissora- trouxe o
boxeador Maguila como atração
do quadro "Para Quem Você Tira
o Chapéu?". E o lutador falou do
carro (leia trecho acima).
"Falou porque quis", explica o
apresentador. "Ninguém da Record ou da Universal o orientou.
A igreja, aliás, não se mete em
meu programa."
Maguila confirma: "Ouvi o papo do Mercedes na rua e repeti.
Sou evangélico, mas não caio de
amores pela Universal. Também
não gosto do padre. Gosto é de Jesus. Onde tem Jesus, eu estou lá".
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