São Paulo, domingo, 16 de abril de 2000


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RELIGIÃO
Boatos envolvem Marcelo Rossi e a Universal
"Carro do padre" opõe grupos religiosos

ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local

Dois boatos que circulam há pelo menos quatro semanas estão acirrando as rivalidades entre católicos carismáticos e evangélicos neopentecostais. As histórias, sem comprovação, envolvem o padre cantor Marcelo Rossi e um carro importado.
Uma das versões sustenta que o sacerdote ganhou um Mercedes blindado da gravadora Universal, como prêmio pelas vendagens que atingiu no mercado fonográfico. A segunda versão conta que foi o padre quem deu um automóvel para o pai -não um Mercedes, mas um BMW.
Nada impede, em termos eclesiásticos, que Rossi compre ou receba qualquer tipo de bem, já que ele não fez voto de pobreza. Os boatos, no entanto, lhe arranham a credibilidade porque contradizem aquilo que o sacerdote sempre repete: não embolsa "nem um centavo" do dinheiro que obtém com a venda de discos, terços e livros. Afirma destinar tudo para obras da diocese a que pertence -a de Santo Amaro, na zona sul paulistana.
Mesmo assim, as histórias do BMW e do Mercedes se espalharam. Internet, jornais e TV as reproduziram como verdade. O padre negou enfaticamente cada uma das informações. Mandou cartas à imprensa e protagonizou um desmentido no programa de Gugu Liberato (SBT).
A gravadora Universal avalizou os protestos de Rossi e argumentou que não o presenteou com "carro algum, nem Mercedes nem Fusca". O bispo de Santo Amaro, d. Fernando Figueiredo, também se pronunciou, classificando a boataria de "calúnia".
Por solicitação da Folha, o sacerdote forneceu dados que permitiram à reportagem consultar, em São Paulo, o cadastro do Detran (Departamento Estadual de Trânsito). O órgão registra que não existe automóvel no nome de Rossi e que seus pais possuem apenas modelos da marca Fiat -um Palio 99 e um Siena 2000.
Enquanto o padre procurava rebater os rumores, outro falatório, igualmente sem comprovação, tomou corpo entre leigos e religiosos que o acompanham. No Santuário do Terço Bizantino, palco das missas semanais do sacerdote, ainda hoje é possível encontrar fiéis convictos de que o boato sobre o Mercedes nasceu dentro da Rede Record.
A emissora tem ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus, grupo evangélico que reverencia os poderes do Espírito Santo e, por isso, atua em seara semelhante à dos carismáticos (ala de onde Rossi saiu).
São notórias as rivalidades que opõem uns e outros. Para combater o sucesso do astro católico, a Igreja Universal lançou um bispo cantor, Marcelo Crivella. O padre, em contrapartida, evita citar o nome atual de sua gravadora. Prefere chamá-la de PolyGram, como era conhecida até 1998.
Embora não digam oficialmente, líderes carismáticos acreditam que a Record "plantou o Mercedes" no "Programa Raul Gil" de 18 de março. A partir daí, a história teria ganho fôlego e gerado "um filhote": o caso do BMW.
De fato, na tarde de sábado, 18, Raul Gil -um dos campeões de audiência da emissora- trouxe o boxeador Maguila como atração do quadro "Para Quem Você Tira o Chapéu?". E o lutador falou do carro (leia trecho acima).
"Falou porque quis", explica o apresentador. "Ninguém da Record ou da Universal o orientou. A igreja, aliás, não se mete em meu programa."
Maguila confirma: "Ouvi o papo do Mercedes na rua e repeti. Sou evangélico, mas não caio de amores pela Universal. Também não gosto do padre. Gosto é de Jesus. Onde tem Jesus, eu estou lá".



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