São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Campanha teve como símbolo a cor amarela

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha por eleições diretas para presidente tinha uma cor: o amarelo. Os simpatizantes da proposta eram facilmente identificados: podia ser uma fitinha no pulso, um broche na lapela, uma peça de vestuário ou a roupa toda, desde que fosse amarelo, para saber que ali estava um defensor da volta do voto livre e direto.
A idéia de se adotar uma cor como símbolo da campanha foi de Caio Graco Prado (1932-1992), dono da editora Brasiliense. Conforme contou à Folha em 18 de abril de 1984, Prado se inspirou em manifestações populares nas Filipinas contra o então presidente Ferdinand Marcos: "Era tudo amarelo. Roupas, faixas nas casas, sapato amarelo, sombrinha amarela. Fiquei encantado, principalmente porque é uma forma de manifestação irreprimível e que não implica privilégios, pois não é preciso ter dinheiro para assumi-la, bastando apenas criatividade".
Ao levar sua idéia para o Comitê 25 de Janeiro, que reunia intelectuais e artistas pró-diretas, Prado se envolveu numa discussão cromática: seria o amarelo a melhor cor? "Pensou-se no verde, mas o verde a gente usa impunemente, por acaso. O amarelo, não. Chama mais a atenção, é menos comum, e a gente pensa antes de usá-lo. Além do mais é a cor da sabedoria na filosofia oriental".
A cor acabou sendo acolhida pelo comitê, ganhou força e se espalhou pelo país.
Também foi de Caio Graco Prado a proposta para que a Folha "adotasse" o amarelo. "Ele me convidou para um almoço e pediu que o jornal ajudasse a divulgar o amarelo pelas diretas", afirma Caio Túlio Costa, à época secretário de Redação do jornal.
Mas, a decisão de apoiar a cor simbólica, recorda Boris Casoy, então editor-responsável da Folha, "estava dentro de uma estratégia maior de lutar pelas diretas. Estratégia esta proposta pelo Otavio Frias Filho, que era secretário do Conselho Editorial e que teve a virtude de captar esse anseio da sociedade brasileira e propor que ele se transformasse no principal objetivo do jornal".
A primeira manifestação de apoio do jornal ao amarelo ocorreu no editorial "Amarelo, sim", publicado pela Folha em 12 de fevereiro de 1984. "A campanha nacional pelas eleições diretas, tão investida de simbolismos, precisa de símbolos para prosseguir. É nesse sentido que compreendemos e apoiamos a proposta de adotar a cor amarela como distintivo da vontade geral em favor do direito ao autogoverno, traduzido na fórmula diretas-já", dizia o editorial. Pouco mais de dois meses depois, em 18 de abril, a Folha passou a ostentar na primeira página uma tarja amarela, conclamando: "Use amarelo pelas diretas-já".


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